A história das mochilas de trekking

Conhece a história das mochilas de trekking? Nada mais icônico no universo outdoor do que as mochilas. Quanto mais anos de prática em qualquer atividade de natureza, maior a quantidade de mochilas e também de histórias são acumuladas ao longo do tempo.

Cada mochila possui uma história particular para ser contada. Mas, qual a história deste equipamento? Faz quanto tempo que ele existe no nosso planeta e quais foram os responsáveis por transformar este equipamento ao longo de nossa história?

Poucos sabem, mas a mochila, assim como foi contado na história do canivete, é um “invento” de vários séculos atrás. Neste artigo, o objetivo é contar a história das mochilas de trekking, porque o conhecimento histórico ajuda na compreensão do homem enquanto ser que constrói seu tempo.

A partir do estudo do passado podemos entender o processo de transformação deste equipamento e, paralelamente a isso, também entender como nossa sociedade também se transformou e como, inevitavelmente, essa transformação impactou os modelos de mochila ao longo do tempo.

As primeiras mochilas

O ser humano é capaz de inventar várias coisas. Possui a capacidade de inventar tanto equipamentos, quanto o sistema monetário. Como proteger então a propriedade intelectual de quem inventou algo? Para isso existe a patente.

Patente é um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgado pelo Estado aos inventores ou autores. Esta propriedade temporária (a pessoa é realmente DONA daquilo e ninguém pode copiar sem pagar uma taxa) pertence a uma pessoa ou empresa.

As primeiras patentes de que se tem notícia na história da humanidade são de 1421 na cidade italiana de Florença. Estas primeiras patentes foram concedidas a Felippo Brunelleschi e seu dispositivo para transportar mármore. Mais ou menos na mesma época, John of Utynam é reconhecido na Inglaterra como a primeira patente do país, com o monopólio de 20 anos sobre um processo de produção de vitrais.

A primeira lei de patentes do mundo foi realizada em 1474. Mas porque falar de lei patentes antes de entrar na história da mochila de trekking?

Simples, antes de 1421, não existia definido a noção que temos hoje de que “fulano” inventou “algo”. Dando-lhe os créditos e, claro, os royalties do invento. Portanto, não existe um “inventor” da mochila. O que existe de concreto são relatos históricos estudados por historiadores, mas precisar uma data exata e específica, é difícil antes da invenção da patente.

Ötzi

Mas para a surpresa de muitos, os modelos de mochila para carregar coisas, da maneira como a entendemos hoje, possui um “inventor”. É creditado ao Ötzi (também conhecido como O Homem do Gelo), uma espécie de cadáver bem conversado e encontrado nos Alpes, a invenção da mochila. Ötzi foi encontrado justamente por montanhistas a 3.210 metros acima do nível do mar no maciço de Ötztal.

Ötzi possuía uma espécie de mochila feita de madeira. O objeto possuía um quadro externo com peças transversais e uma bolsa presa a ele. Não havia cinturão de quadril, portanto a transferência de peso seria mínima. Não está claro se isso foi invenção de um indivíduo criativo, ou se era um projeto comum e amplamente usado na época.

Estudos do carbono do material vegetal junto ao corpo e das amostras da pele e dos ossos de Ötzi, confirmam que ele viveu há cerca de 5.300 anos. Portanto, carregar coisas nas costas, assim como fazemos os animais no uso das carroças, não é um invento recente.

Mas, podemos considerar que o design das mochilas como conhecemos hoje, especialmente as de trekking e hiking, que distribui o peso nas costas e cintura, somente foram desenvolvidas muito recentemente (em termos de histórica, claro).

Mochilas de trekking patenteadas

Exemplo de sekk med meis

O precursor da mochilas de trekking moderna, tal qual conhecemos hoje, pode ser uma feita de couro emoldurada usada na Noruega no final de 1800, ainda sem nenhum inventor individual atribuído. As primeiras ocorrências claras, generalizadas e bem preservadas de uma mochila emoldurada, referido como sekk med meis, que significa literalmente “sacola com estrutura”.

Esta mochila também possuía uma estrutura a qual uma bolsa é anexada. O saco em si é típico das mochilas sem estrutura usadas na época. Pode haver uma correia que envolve a cintura, mas não parecia ter nenhuma função de suporte de carga.

Modelo patenteado do Coronel Merriam

Provavelmente, o primeiro design de mochilas de trekking emoldurado patenteado foi o do Coronel Merriam em 1886. Foi uma modificação das típicas mochilas militares carregadas na época.

O modelo nunca foi utilizado, mas analisando o seu design, que aparentemente parecia desconfortável, é a primeira ocorrência clara de uma tentativa de transferir o peso da mochila para os ombros e para os quadris.

Embora não contenha uma cinta completa para o quadril, o design permite uma transferência de peso significativa para os quadris, permitindo o transporte de cargas mais pesadas.

Mochila patenteada de Ole F. Bergans

Um outro modelo de mochila patenteada no mundo foi do norueguês Ole F. Bergans em 1909 e era claramente inspirada nos modelos sekk med meis, mas em vez de usar estruturas de maneira ele optou por uma metálica. No início do século XX, começaram a aparecer empresas especializadas em fazer mochilas, como a alemã Deuter, especialmente para o exército de seu país e correio de seu país.

No ano de 1922, Lloyd F. Nelson patenteou a mochila Trapper Nelson, baseando-se no design das estruturas usadas pelos índios norte-americanos para carregar palha e evoluiu claramente em separado dos designs das mochilas noruegueses.

Mochila patenteada de Lloyd F. Nelson

Mas o mercado começou a efervescer quando o montanhista Gerry Cunningham criou uma mochila mais leve e mais prática em 1938, com compartimentos com fechamentos de zíper. O sucesso do produto somente aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial.

Em 1945/1946, Gerry e sua esposa começaram a fazer “Gerrys”, mochilas bem projetadas e pacotes de escalada para esquiadores e montanhistas. A venda das mochilas eram feitas pelo correio, e Cunningham procurava focar no público outdoor (não focando em mochilas escolares).

Até esta época, todas as mochilas eram feitas em lona têxtil. Mas em 1967 a empresa foi a pioneira fazendo uma mochila revestida de nylon. Desta maneira, o norte-americano revolucionou a mochila moderna e, portanto, se alguém merece o título de pai da mochila moderna é Gerry Cunningham.

No ano de 1952, quando Asher “Dick” Kelty e Nena Kelty começaram a fabricar mochilas em suas garagens. Suas mochilas apresentavam uma estrutura de alumínio externa que percorria toda a extensão da mochila e tinha um cinto que permitia uma transferência de peso para os quadris.

Embora Kelty não tenha padronizado seu design, eles são amplamente reconhecidos como os primeiros a apresentar este design de mochilas no mercado.

Modelo revolucionário da Kelty

Enquanto a mochila seria reconhecível para qualquer mochileiro moderno, como um pacote de quadro externo clássico, ainda faltava um cinto de quadril acolchoado completo. Os Kelty estavam à frente de seu tempo, solicitando feedback de clientes para conduzir seu processo de design. A Kelty, começou também a focar em fabricar mochilas para crianças e com o tempo acabou tornando o seu foco principal no mercado.

No design de mochilas moderno a correia do quadril permite que mais de 60% até 90% do peso a ser transferido para os quadris. As mochilas da empresa foi utilizada por Jim Whittaker e sua equipe no Everest em 1963, ainda não continham um cinto de quadril acolchoado.

Mochila Expedition Pac da Lowe Alpine

Em algum momento no final dos anos 1960, Kelty começou a oferecer um cinto acolchoado como uma opção em suas mochilas. Ainda não está certo se a prática de cintos que transferem o peso das mochilas paras as costas foi da empresa ou de algum outro fabricante.

Já no final dos anos 1960, o montanhista Greg Lowe criou a primeira mochila de estrutura interna, com varetas de alumínio, em sua garagem no Colorado, a Expedition Pac.

A partir de sua invenção, fundou a Lowe Alpine. Mas em 1970, Kelty introduziu a fivela de cinto de liberação rápida, que foi outra revolução no mercado.

Mas com a inovação da Lowe Alpine em disponibilizar a estrutura na parte interna da mochila, dando um visual mais minimalista, o modelo com estrutura externa foi considerado obsoleto pelo público.

Mochila para mulheres

No final da década de 1970, designers começaram a reparar que existia uma diferença anatômica entre homens e mulheres. A Lowe Alpine percebeu que suas grandes mochilas não cabiam em corpos menores. No ano de 1979, a Lowe Alpine começou a fazer mochilas ajustáveis ​​para pessoas de baixa estatura.

Mais tarde, já em 1981, a empresa tinha uma linha completa chamada Nanda Devi Series, oferecendo opções para montanhistas femininas.

Já no meio da década de 1980, a marca alemã Deuter patenteou a ideia de uma tela de suporte, que criava um espaço ventilado entre as costas do usuário e a mochila permitindo o fluxo de ar para ajudar a manter os caminhantes confortáveis ​​na trilha. A invenção foi tão revolucionária quando a estrutura interna.

Logo outros fabricantes pegaram a ideia e a seguiram, inovando muitos tipos diferentes de ventilação. Porém este tipo de invento, foi um divisor de águas entre mochilas comuns e mochilas de trekking.

A partir de meados da década de 1980 e início da década de 1990, algumas empresas começaram a ser criadas, cada uma com a sua tecnologia para aprimorar o conforto e design de seus produtos. Junto disso, cada empresa criou também uma espécie de cartilha e conceitos base para orientar seus funcionários.

Na Deuter, por exemplo, foi desenvolvido o conceito de “peso da mochila X peso sentido”, baseado na distribuição do peso no usuário. Uma outra empresa, como a Osprey, procurou investir mais na distribuição do peso, quase que anulando o peso da mochila.

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