Permeia em todas as esferas de todos os tipos de esportes a discussão sobre ética e comportamento do atleta perante seus adversários (caso esteja em uma competição) ou perante à sua comunidade (caso esteja praticando um esporte de montanha).
Não é incomum na vida de qualquer atleta, seja ele amador ou profissional, a ingestão de substâncias que “turbinam” o seu rendimento e o possibilita superar metas estabelecidas.
Estas substâncias possuem maior ou menor grau de nocividade além de, é claro, levantar a bandeira da discussão sobre a ética existente em torno da naturalidade do feito ou conquista.
O filme “Bigger Stronger Faster” do diretor Chris Bell joga os holofotes sobre o obscuro problema de ingestão de anabolizantes para atletas americanos, e além de denunciar toda uma filosofia de trabalho em torno dos “bombadões”, além de levantar a questão sobre a a “necessidade” visceral de vencer diante da dicotomia “perdedor/vencedor” existente nos EUA.
Documentando de maneira intensa, a produção mostra a realidade de que todo e qualquer garoto que viveu nos anos 80 presenciou : multiplicação de bombados como Sylvester Stallone, Hulk Hogan, Arnold Schwartznegger, “bad boys” do futebol americano, levantadores de peso, corredores, escaladores e etc.
O importante, pelo menos à época, era estar “bombado”, frequentar a academias de musculação e gastar horas e horas puxando ferro, ou qualquer que fosse a rotina de treinos a qual alguém estabelecesse.
Estes brucutus viraram ídolos e alcançaram o status de heróis para toda uma geração de pessoas, não importando o estado físico delas.
Porém um fato icônico marcou todos e jogou todos os holofotes para um problema que estava eclodindo no mundo esportivo: o caso do dopping do atleta Ben Johnson na Olimpíada de 1988 em Seul.
Maioria das pessoas do mundo escutaram a palavra “esteroides anabolizantes” pela primeira vez neste dia.
O que se viu posteriormente foi uma avalanche de denúncias de estudos que comprovavam, às vezes sem nenhum método, a nocividade dos esteroides.
Ídolos anabolizados foram denunciados em apreensões de importação da droga de maneira clandestina como Sylvester Stallone, alguns outros tiveram de admitir em público que faziam uso da substância e outros foram até mesmo presos por traficá-las.
Com um roteiro muito bem escrito, apoiado em uma edição de imagens intensa, “Bigger Stronger Faster” despeja fatos, informações e entrevistas em um ritmo frenético que parece muito a propaganda anti-drogas utilizada por governos.
Mas ao decorrer do filme fica evidente que o intuito do diretor é outro: o de trazer à discussão se os “fins justificam os meios”.
Não é discutido em nenhum momento que a substância deve ser banida, e sim sobre o foco é sobre a ética de usá-las.
Há no filme pessoas defendendo os anabolizantes (alguns apoiados em teorias estapafúrdias), outras ponderando (na linha “use com moderação”) e outras acusando fortemente (utilizando o estilos de pastores nazi-evangélicos que pululam no Brasil atualmente), mas a conclusão Bell deixa inteligentemente para o espectador realizar.
Inteligentemente o diretor sempre questiona no filme: não seria melhor treinar intensamente, obtendo um preparo físico natural do que apelar a uma substância que irá fazer você ganhar o objetivo?
Neste aspecto é que “Bigger Stronger Faster” já não mais faz referência à levantamento de pesos, ou fisiculturismo, e sim à todos os esportes e seus praticantes.
Qual escalador, por exemplo, não tomou pílulas para emagrecer, complemento alimentar, cápsulas de cafeína e etc, para conseguir a ascensão tão sonhada?
Qual corredor de montanha que não pensou em ingerir algo para poder vencer uma prova a qual poderia ganhar um patrocínio maior, ou vencer um rival que sempre está à sua frente?
A gama de perguntas de esportes e seus ganhos, muitas vezes efêmeros, são muitas e a produção de Chris Bell é sobre isso.
Somente pelo diálogo que Chris Bell tem com um “rato de academia” (que mora em uma Van ao lado da academia), o qual seria o “micróbio da escalada” do universo paralelo, no início do filme já vale por todo o filme dado a força metafórica da imagem e diálogos.
O filme “Bigger Stronger Faster” é sem dúvida um documentário intenso e que, sem hesitar, o diretor abre o coração com suas mágoas por suas próprias limitações físicas e por ter sido trapaceado por competidores anabolizados.
A produção deve ser assistida por todos, e especialmente por atletas amadores de qualquer esporte, pois muito mais do que subir ao pódio um verdadeiro vencedor é aquele que chegou lá por si, e sem ajuda de nenhuma substância.
Nota Revista Blog de Escalada:
O filme “Bigger Stronger Faster” está disponível gratuitamente para assistir na internet: https://www.youtube.com

Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.