Quem foi George Everest e por que ele nunca viu a montanha mais alta do mundo?

A Revista Blog de Escalada frequentemente publica textos completos a respeito de fatos históricos. O objetivo desta iniciativa é poder difundir um maior conhecimento a respeito do que aconteceu no passado para, quem sabe, possamos entender o nosso presente e, pensando de maneira otimista, não repetir erros no futuro.

Abordando a história dos levantamentos das grandes montanhas do mundo, já foi publicado artigos sobre como a politicagem fez com que a montanha mais alta do mundo chamasse Monte Everest. Da mesma maneira, há um outro artigo que aborda como foram nomeadas as montanhas com mais de 8.000 metros de altura acima do nível do mar.

Mas uma curiosidade apareceu durante as pesquisas sobre as origens: George Everest, que “emprestou” seu sobrenome para a montanha mais alta do mundo, de fato sequer a viu. Mais um dado histórico que alimenta ainda mais a teoria de que o nome da montanha mais alta do mundo (acima do nível do mar) foi dado utilizando unicamente politicagem e práticas politiqueiras de topógrafos ingleses.

Por definição, politicagem é um termo que identifica a política de baixo nível, voltada para interesses pessoais. Se alguém necessitar de algum exemplo, basta acompanhar o que muitos dos nossos representantes, nas várias esferas do governo, primam pela politicagem. Esta prática não é somente nos altos cargo de governo, podendo serem testemunhadas em várias entidades representativas de qualquer esporte, incluindo as de montanhismo e escalada esportiva.

Acompanhando o dia a dia de qualquer entidade representativa (incluindo a de condomínios residenciais), testemunhamos a política de interesses pessoais, de troca de favores ou de realizações insignificantes, que caracteriza o termo politicagem.

Quem foi George Everest?

Uma pessoa tornar-se Sir, significa que é pertencente ao grupo de cavaleiros da Ordem do Império Britânico. O topógrafo George Everest, já tinha sido condecorado com a honraria. Mas voltemos um pouco antes desta honraria. Depois de receber educação militar, George Everest se juntou à Companhia das Índias Orientais e chegou à Índia com a idade de 16 anos. Pouco se sabe sobre os primeiros anos do Everest na Índia, mas ele aparentemente tinha talento para matemática e astronomia.

O interesse de George Everest na topografia, segundo dados históricos, vem desde os seus dias como estudante na escola militar. Andes de ser convocado por William Lambton esteve trabalhando para a Companhia das Índias Orientais nas Índias Orientais Holandesas, as quais que abrangiam todo o território da atual Indonésia. Lá ajudou a completar a pesquisa trigonométrica de Java durante muitos anos.

Depois disso, voltou para a Índia em 1818, quando começou a ajudar os britânicos a mapear o subcontinente. Após algum tempo na Índia acabou tornando-se assistente-chefe de William Lambton no Great Trigonometric Survey (projeto inglês de levantamento topográfico todo o subcontinente indiano com precisão científica) em 1818. Inicialmente o Great Trigonometric Survey começou em 1802 pelo próprio William Lambton. Lambton veio a falecer em 1823 e foi substituído por George Everest, com então 33 anos de idade.

Nomeado como inspetor-geral da Índia para assuntos trigonométricos, permitiu Everest obter mais recursos e tocar adiante o projeto de medir todo o subcontinente. Uma tarefa trabalhosa até para os dias de hoje. Isso porque é necessário medir um país que possui uma vasta amplitude de climas. Para a medição os topógrafos percorriam florestas densas, desertos e montanhas. Em um dado momento, o próprio George Everest ficou enfermo.

Porém, George Everest era mais que um simples topógrafo. O britânico era também um inventor. Como engenheiro fez várias melhorias nas ferramentas de topografia na época. Seus equipamentos realizaram medidas precisas desde o Himalaia até o extremo sul do subcontinente indiano. Toda a companhia topográfica britânica ficou impressionada com seus melhoramentos.

Sua obsessão pela precisão ficou conhecida por ficar cada vez mais rigorosa. Por conta disso, não abandonava uma área até que tivesse certeza de ter todas as leituras e dados exatos. Seu levantamento ajudou a fazer os mapas mais precisos da Índia. George Everest se retirou do posto de inspetor-geral em 1843 como coronel do exército britânico, retornando à Inglaterra.

Everest nunca viu a montanha

George Everest não tinha ligação direta com a montanha que leva seu nome. A ligação mais estreita de Everest com a montanha mais alta do mundo foi de que ele foi o responsável pela contratação de Andrew Scott Waugh, britânico que fez as primeiras observações formais da montanha, e Radhanath Sikdar, indiano que que calculou a altura da montanha mais alta do mundo. A história completa de como foram as medidas das montanhas mais altas do mundo está contada em um artigo completo na Revista Blog de Escalada.

O matemático indiano Radhanath Sikdar foi quem concluiu qual era a montanha mais alta do mundo em 1852. Logo após a descoberta, por hierarquia, o matemático informou seus resultados a Andrew Scott Waugh, que naquela época era o sucessor de George Everest como inspetor-geral da Great Trigonometric Survey. Waugh decidiu então passar por cima de uma regra padrão, que era respeitar os nomes originais das montanhas no idioma local, e homenagear o homem que gerenciou a maior pate da topografia na Índia.

Originalmente o nome era Chomolungma para os tibetanos e Sagarmatha para os nepaleses. O próprio George Everest não ficou contente com a escolha e a homenagem, pois ele mesmo foi quem tinha determinado que os nomes das montanhas deviam as originais dos idiomas locais.

Cinco anos depois, George Everest recebeu o título de cavaleiro da Rainha Vitória por suas contribuições à Grã-Bretanha. Pouco depois, em 1866, Everest morreu. Como sua aposentadoria foi em 1843, nove anos antes do “descobrimento” da montanha que levaria seu nome, os então modernos equipamentos que fizeram a medida ainda não haviam chegado ao Nepal.