Neste início de século XXI há muita facilidade de acesso a equipamentos de filmagem, assim como a publicação daquilo que filmar e editar.
Mesmo com tanta modernidade, ainda continua valendo as técnicas de realização de filmes como: roteiro, personagens, história, trilha sonora, composição fotográfica e etc.
A maneira de usar cada elemento varia com o tipo da história a ser contada, ou o impacto que deseja criar no expectador.
Criatividade não tem nada a ver com fazer de qualquer jeito.
Mesmo que um produtor tenha a melhor das intenções e desejo de realizar o filme, não é garantia de que será uma obra de qualidade, pois os conceitos de produção de filmes estão aí a quase 100 anos não é sem motivo.
Existem escolas e faculdades de cinema por não ser um tema simples, nem banal.
O filme “The Swiss Account” da produtora americana LT11 é um bom exemplo de que o desejo de realizar um filme descompromissado, em nada tem a ver com falta de compromisso com qualidade.
Documentando a viagem de três escaladores americanos à Suíça para conhecer, e encadenar, as linhas de boulders existentes no país, tenta ser um convite à todos a conhecer o que há por lá.
Passeando de um lugar a outro da Suíça, “The Swiss Account” procura manter muito o foco nas escaladas, mostrando a todo momento como desafiantes são as linhas.
Mas tanta vontade de filmar acabou interferindo, e muito, na qualidade do filme e vários aspectos.
Muito longe da qualidade apresentada em outras produções,”The Swiss Account” mostra falta de preocupação com captação de imagens em lugares que não são efetivamente de escalada como lojas de conveniência, declarações pré-viagem e convivência dentro de casa em dias de clima ruim.
Fosse a completa ausência de regulagem de câmera e foto os pontos fracos do filme anda assim poderia ser uma atração a viagem pelos blocos suíços.
Mas ainda assim não foi o que aconteceu.
Com trilha sonora de gosto duvidoso, e que abafava os sons naturais de cada escalada, há também poucos diálogos relevantes, além da completa inexistência de um roteiro que guie a história.
Ao fim não é difícil concluir que “The Swiss Account” é um amontoado de pequenos vídeos de boulders grudados uns aos outros por cenas de qualidade baixa e irrelevantes.
Pontos chaves para a compreensão do filme como localização dos blocos, lugar geográfico que visitaram, pontos turísticos da cidade onde se hospedaram, detalhes dos guias e etc, foram esquecidos.
Como se não fosse suficientemente tantos escorregões, os produtores optaram ainda por efeitos 3D de uma qualidade que remete ao início dos anos 90, e que em nada tinha a ver com o que estavam mostrando.
Após 60 minutos de imagens repetitivas e músicas desconexas o filme deixa claro que há um abismo entre o que é um filme, e o que é um vídeo “dos amigos para os amigos” sobre uma viagem ou atividade qualquer.
Muito longe de ser um filme com grandes pretensões, “The Swiss Account” é um gol contra a filmes de escalada, principalmente para quem deseja ver o gênero mais respeitado e menos tratado como algo menor.
Caso existam filmes que sigam a mesma linha, ficará impossível de acontecer.
Nota Revista Blog de Escalada:
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.