Crítica do filme “Footprints – The Path of Your Life”

Há um episódio de um clássico moderno, que é o desenho animado The Simpsons, no qual seu protagonista, Homer Simpson, encomenda uma propaganda a um pessoa “especializada” em marketing de massas. A encomenda era simples: falar sobre o negócio de Homer que era um caminhão de escavar neve conhecido como “Senhor Escavadeira”. O objetivo com o anúncio era sensibilizar o público ao seu produto e ter a preferência dele em relação á concorrência. O resultado da encomenda do personagem era um filme publicitário que em nada lembrava um caminhão com uma escavadeira.

Esta sátira ácida é um brilhante resumo de quando publicitários resolvem tomar “liberdades artísticas” para deixar algo mais apreciável ao público. O resultado disso pode ser visto diariamente em propagandas e filmes que parecem ofender a inteligência do público, devido a uma qualidade duvidosa do produto final. Um outro aspecto que a pirotecnia audiovisual parece atrapalhar a imersão do público são os reality shows que invadiram as emissoras de TV nos últimos anos. Excessos de efeitos sonoros, closes, câmeras tremidas e outras manobras, que apenas tiram a atenção do publico da história, viraram moda.

O filme “Footprints – The Path of Your Life”, que tinha como objetivo principal contar a história de diferentes perfis de pessoas indo percorrer o Caminho de Santiago (pela rota norte), parece ter sido contaminado por estes dois aspectos (publicidade e reality shows).

Há, sem dúvida, uma história interessante a ser abordada durante a exibição do filme. Mas a preocupação excessiva de dramatizar excessivamente cada aspecto de cada peregrino que acabou por ofuscar e comprometer o resultado final.

Durante muitos aspectos a produção parece ser feita para ser transmitida em canais de televisão de pouca audiência e, sobretudo, por pessoas que nunca saíram da cidade que mora ou mesmo praticado algum tipo de trekking. Dramas pessoais de cada personagem é pouco aprofundado no desejo de criar dramaticidade apenas com o esforço físico.

Todo o roteiro parecia ter sido escrito por alguém que possui horror a atividades físicas. Não bastasse isso efeitos de câmera e som, ritmo acelerado de edição e evolução da história, dão a impressão de que a mesma equipe de produção do MasterChef também trabalhou na construção de “Footprints – The Path of Your Life”. O excesso de câmera lenta colabora mais ainda para ainda mais um ar cafona típico de atrações televisivas apelativas.

O estilo adotado pelos produtores colabora também para que o público não imerse na história, nem sinta devidamente o drama de cada personagem. Pouco se fala de cada lugar por onde passam, muito menos das reflexões da cada um, pois o roteiro se apega excessivamente, como já descrito, no esforço físico e nos “perigos” do Caminho de Santiago. Até mesmo os conflitos pessoais entre personagens teve destaque excessivo em detrimento das reflexões que o Caminho de Santiago proporciona.

Mas nem tudo são críticas em relação à produção. Indiscutivelmente a preocupação com a fotografia, especialmente durante o Caminho de Santiago, é bastante elogiável. O cuidado na composição de várias tomadas, seja de peregrinos ou das paisagens do norte da Espanha, são o grande destaque da produção.

Ao final, recheado de frases clichê e um desconfortável desejo de querer fazer o expectador chorar, “Footprints – The Path of Your Life” termina de maneira até óbvia. Um assunto tão rico como sera a transformação de pessoas pelo Caminho de Santiago merecia uma obra de maior qualidade e, no mínimo, distanciada das piruetas editoriais televisivas.

O filme, claro, está longe de ser uma obra fundamental para quem deseja conhecer a famosa peregrinação, mas é ainda assim interessante a quem já fez o caminho do norte.

Nota Revista Blog de Escalada: 

Footprints – The Path of Your Life está disponível para visualização no Netflix

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