Grandes nomes do esporte: Wanda Rutkiewicz – A primeira mulher do K2

No montanhismo mundial é impossível falar sobre mulheres se não tocar no nome da polonesa Wanda Rutkiewicz. Filha de imigrantes lituanos na Polônia, Wanda era considerada “viciada em montanhas” e considerada um dos símbolos da idade de ouro dos montanhistas poloneses. Rutkiewicz se tornou a primeira mulher a escalar o K2 (8.611 m) e a primeira pessoa polonesa, homem ou mulher, a escalar o Monte Everest (8.848 m).

Wanda Rutkiewicz, formada em engenharia de computação (uma área conhecida por pouca densidade de mulheres) tinha personalidade forte entre a comunidade de escalada. Possuía uma tenacidade praticamente inabalável que fez com que ela também conseguiu escalar oito das quatorze montanhas acima de 8.000.

Infelizmente, para o universo feminista e para o montanhismo, enquanto escalava Kangchenjunga (8.586 m), a terceira montanha mais alta do mundo, que Wanda Rutkiewicz, então com 49 anos, foi vista pela última vez vivo pelo escalador mexicano Carlos Carsolio no caminho de volta do cume. Na ocasião, Carsolio tentou convencê-la a voltar, mas a alpinista polonesa não quis ouvir.

Rutkiewicz estava se preparando para ficar no campo base avançado durante a noite e decidiu tentar o cume na manhã seguinte. De acordo com os relatos, Wanda estava fisicamente enfraquecida e incapaz de tomar uma decisão racional que pudesse salvar sua vida. Carsolio disse que não tinha forças mentais para convencê-la a descer porque ele também se enfraqueceu. Teimosa e focada, ela se recusou a voltar, apesar da tempestade que se aproximava. Ninguém jamais soube se morreu naquela noite, ou realmente continuou subindo e alcançou Kangchenjunga.

Primeiras escaladas

Nascida na cidade lituana de Plungiany em 1943, a vida de Wanda Rutkiewicz não foi cômoda nem muito menos fácil. Sua infância foi marcada pela separação dos pais e pela morte de seu irmão mais velho. A morte de seu irmão a fez ter de assumir uma responsabilidade pesada: ajudar a criar seus irmãos menores e sua mãe, a qual já se encontrava enferma.

Este acúmulo de funções forjou seu caráter de mulher durona e de personalidade forte. Característica de personalidade que marcaria seu estilo de subir montanhas e que, invariavelmente, fez a diferença. Durante a faculdade, descobriu o montanhismo e escalada em sua vida.

Assim que acabou sua graduação na universidade Politechnika Wrocławska em 1967, junto de sua amiga Haina viaja aos Alpes para fazer ascensões e escaladas na região. Junto de sua companheira, escalam uma série de montanhas na Noruega, consagrando-se como a primeira dupla feminina a escalar a face leste do Trollryggen (1.700 m), na Noruega. Apesar da baixa altitude, esta escalada é considerada simbólica para Wanda, que se caracterizou por fazer duplas quase que exclusivamente com mulheres.

Três anos depois, Wanda Rutkiewicz se casa com um matemático. O casamento em nada abalou sua paixão, e neste mesmo ano partiu para a cordilheira Pamir, na Ásia Central, para fazer sua primeira montanha acima de 7.000. A montanha “premiada” com a ascensão de Wanda foi o Pico Lenin (7.134 m), em uma expedição dirigida por homens e que ela externou a todo tempo o seu incômodo com isso.

Para mudar este cenário, liderou várias expedições exclusivamente femininas e tornou-se uma pioneira na escalada feminina em todo o mundo.

Meningite

Como seu marido não partilhava de sua paixão pelas montanhas, Wanda Rutkiewicz separa-se de seu marido e acaba enfrentando um inferno astral. Um ano depois sofre de meningite e como sequelas teve de reaprender a andar, comer e falar. Assim que se recuperou, começou a treinar fortemente para voltar à velha forma.

Assim que voltou à velha forma física, formou parte de um grupo franco-alemão que planejava escalar o Monte Everest, alcançando o cume da montanha. A façanha é considerada histórica, pois além de ser a primeira polonesa, homem ou mulher, a chegar ao cume do Everest, também foi a primeira europeia.

A partir de 1978 passa a fazer cordadas femininas para chegar a lugres mais altos do mundo. Montanha como A Face norte do Eiger, A face oeste do Les Drus e a face sul do Aconcágua. Nesta última montanha acaba por sofrer uma fratura exposta, após uma queda, e tem de ser operada às pressas na Europa. Durante o tratamento e operação, realizado na cidade de Innsbruck na Áustria, acaba se apaixonando de seu médico, casando pela segunda vez.

Após dois anos e quatro operações, volta a ir ao Himalaia para expedições em montanhas acima de oito mil metros. Porém mais uma vez sua paixão pelas montanhas cobrou um preço caro para a sua vida pessoal. Seu marido pede o divórcio.

Durante os anos 1980 dedicou-se a escrever seu nome no montanhismo mundial de tal maneira, que até os dias de hoje é reconhecidamente dentro da comunidade de montanistas como a alpinista mais completa do século XX. Nesta década, Wanda fez nada menos do que cinco montanhas acima dos 8.000. Dentre estas, o K2 e em estilo alpino. Um feito tão fantástico que até os dias de hoje foi poucas vezes repetido.

Porém no ano de 1992, voltando do cume do Kangchenjunga às 3:30 da madrugada, Carlos Carsolio encontra Wanda disposta a bivacar em um buraco na neve a uma altura de aproximadamente 8.300 acima do nível do mar. Mesmo muito cansado Carlos tenta convencer Wanda de que desista do bivaque e baixe com ele. Mas Rutkiewicz foi irredutível e sequer aceitou a hipótese de desistir do ataque ao cume. Na ocasião, sem barraca, comida, fogareiro para derreter a neve, acabou sendo um desafio muito maior que a própria montanhista estava preparada.

A hipótese levantada, e mais aceita pela comunidade de escaladores e montanhistas, é que Wanda Rutkiewicz estava muito debilitada e acabou desmaiando no caminho do cume. O corpo de Rutkiewicz ainda não foi encontrado.

“Wanda é a prova viva de que as mulheres podem realizar performances em altitudes elevadas com as quais a maioria dos homens só pode sonhar” – Reinhold Messner

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