Que a marca norte-americana Patagonia possui um forte engajamento em utilização de produtos com menor pegada de carbono não é nenhuma novidade. Sua preocupação de que seus produtos sejam jogados fora, possam poluir menos o planeta é um grande diferencial de negócio e de comprometimento até mesmo com o próprio negócio.
Por que comprometimento com o próprio negócio? Simples, como foi alardeado na Outdoor Retailer Snow Edition de 2020, “se não existe natureza, não existe negócio”. Esta postura durante do público e do planeta faz com que a marca seja quase onipresente nos praticantes de atividades outdoor dos EUA.
Quem opta por adquirir um produto da Patagonia é muito mais que um cliente, mas um fã que reconhece o esforço da marca em fazer negócio e obter lucro, mas com a devida responsabilidade com o planeta e com as pessoas.
Butler Farms
Nesta semana a marca Patagonia divulgou o seu vídeo “Butler Farms”, que documenta a vida da família Butler, que cultivava cânhamo para a confecção de roupas. Por ser o cânhamo uma espécie da Cannabis (embora com baixíssimo teor de THC), a família quase foi presa e desapropriada.
A Patagonia costumava adquirir o cânhamo industrial para utiliza-la nossa linha durável de vestuário de trabalho das montanhas do norte da China. Porém a marca agora está investindo em uma pequena fazenda do Kentucky, para cultivar cânhamo orgânico.
Mas qual a importância de utilizar cânhamo em roupas?
Cânhamo Industrial
O cânhamo industrial é da espécie vegetal da Cannabis sativa e tem sido usado em todo o mundo para produzir uma variedade de produtos industriais e de consumo. O cânhamo é uma fonte de fibra e oleaginosas cultivadas em mais de 30 países.
Atualmente nos EUA a produção é controlada pelas leis de aplicação de drogas. Para produzir cânhamo industrial nos EUA, o produtor deve obter uma licença da Drug Enforcement Agency (DEA).
A preocupação em relação ao cânhamo vem desde 1937, quando o governo dos EUA aprovou a Lei Fiscal da Maconha (Marihuana Tax Act), a lei proibia o cultivo, venda e posse de qualquer planta pertencente ao gênero Cannabis. A lei não definiu uma distinção entre cânhamo e maconha e agrupou todas as variedades sob uma denominação comum.
O Marihuana Tax Act não fez qualquer distinção entre a maconha (com alto teor de THC, acima de 20%) e o cânhamo, com (níveis ínfimos da THC, em torno de 1%).
Cânhamo versus maconha
A confusão entre o cânhamo industrial e a maconha é baseada nas semelhanças visuais de variedades de plantas amplamente diferenciadas. Por definição, o cânhamo industrial é rico em fibras e baixo em tetra-hidrocanabinol ativo (THC), o ingrediente psicoativo da maconha.
O Canadá e a União Européia mantêm uma distinção entre as duas espécies ao regular estritamente os níveis de THC do cânhamo industrial, exigindo que seja inferior a 0,3%, em comparação com os níveis de THC de 3 a 30% na maconha.
Hoje, os EUA são o maior consumidor mundial de produtos de cânhamo. Por causa da proibição federal imposta ao cânhamo, estão sendo importados cerca de US $ 100 milhões de produtos da planta a cada ano. A China produz aproximadamente 70% da produção mundial desse têxtil.
Por se tratar de China, um país pouco aberto á informação e liberdade de imprensa, não está claro se o cânhamo produzido neste país é ambientalmente sustentável ou não tóxico.
Hemp Farming Act e o Brasil
Graças à aprovação da lei Hemp Farming Act de dezembro 2018, o cânhamo pode ser retirado da lista de substâncias controladas.
Além de remover a cannabis com baixo teor de THC da regulamentação da Lei de Substâncias Controladas, o Hemp Farming Act beneficiaria os agricultores de cânhamo dos direitos da água e subsídios agrícolas federais e criaria o sistema bancário nacional.
No Brasil, apesar de existir um veto da ANVISA, uma decisão judicial juiz federal Renato Coelho Borelli, do Distrito Federal, afirmou que só poderá ser utilizada semente com concentração de THC inferior a 0,3%. A decisão foi dada horas depois de a Anvisa aprovar, por unanimidade, a fabricação e venda de medicamentos a base de maconha no País.
Portanto, já há a possibilidade de plantio e utilização do cânhamo para a produção de CBD (remédios feitos a partir da cannabis) e de tecidos em território brasileiro.
Tecidos de cânhamo
Os tecidos feitos a partir de cânhamo (que é uma planta muito fibrosa) é extremamente durável, versátil e usa 50% menos água em comparação com o algodão. Depois de transformado em tecido, o cânhamo tem uma textura semelhante ao algodão, mas também pode ser parecer com uma lona.
Uma das grandes vantagens do tecido de cânhamo é que ele não é suscetível a encolhimento e é altamente resistente a bolinhas. Como as fibras desta planta são longas e resistentes, o tecido de cânhamo é muito macio, mas também é altamente durável.
O cânhamo é um tecido leve, o que significa que é altamente respirável e também facilita a passagem de umidade da pele para a atmosfera, sendo ideal para climas quentes. A título de comparação, enquanto uma camiseta de algodão dura no máximo 10 anos, uma camiseta de cânhamo pode durar o dobro ou o triplo desse tempo.
A produção de tecido de cânhamo não custa inerentemente mais do que a produção de algodão. Mas vários fatores de mercado aumentaram seu custo.
Por exemplo, o algodão é produzido em uma escala muito maior que o cânhamo, o que significa que é mais barato por volume. Além disso, como o tecido de cânhamo é uma novidade no momento, alguns varejistas cobram preços excessivamente inflados por esse têxtil.
A produção de fibras de cânhamo é realmente mais simples e mais eficiente do que a produção de algodão, e a lógica determina que esse fator levaria o custo do tecido de cânhamo mais baixo que o algodão.
Impacto no seu bolso
O cânhamo pode ser usado para uma infinidade de produtos, incluindo jeans, camisas, vestidos, chapéus, bolsas, cordas, telas, produtos para a pele, materiais de construção, papel e alimentos.
Ao adquirir um produto feito à base de cânhamo, a durabilidade é incrementada, fazendo com que o investimento do cliente nas roupas dure vários anos.
Para quem escala, há uma grande vantagem: é altamente resistente à abrasão. Ao contrário de outros tecidos, o cânhamo é menos amorfo, o que significa que é melhor em manter sua forma.
As roupas de cânhamo são 100% biodegradáveis naturalmente.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.