Viajar para lugares novos: O principal (e mais importante) segredo para evoluir na escalada

Você é escalador e se sente estagnado? Tenho certeza de que todo escalador passa por isso em algum momento durante o ciclo de treinamentos durante o ano.

Sentir-se estagnado é como ter medo: acontece com todos, mas nem todos superam isso. A superação acontece quando o atleta, seja amador ou profissional, consegue se desestagnar, e não quando ignora o problema.

Faz parte do processo de evoluir como escalador e como pessoa, viajar a outros lugares de escalada. Preferencialmente se é um local desconhecido por você. Ambientar-se com novas pessoas, filosofia de via e, talvez, idioma, faz com que qualquer pessoa evolua.

Provincianismo

Por ser o Brasil um país muito grande, culturalmente várias regiões são prioritariamente provincianas. Por estarem sempre afastadas do convívio de pessoas diferente, culturalmente os habitantes desta região tendem a voltar-se somente para os aspectos locais.

Provincianismo, em contexto sociopolítico, é o imitador de usos e costumes. Consequentemente as pessoas ignoram o mundo lá fora e só se interessam por notícias que envolvam nativos da província. As peculiaridades daquele lugarejo são consideradas hábitos universais, e não lhes passa pela cabeça que se possa fazer diferente.

Não é segredo para ninguém que no Brasil, vários locais de escalada e montanhismo vivenciam um tipo peculiar de provincianismo: o provincianismo temporal. Uma vertente que em vez de somente ignorar o mundo lá fora se nega também a ouvir as gerações anteriores.

Não há problema nenhum valorizar a região que vive, nem a cultura que faz parte dali. Mas é importante ter o discernimento de que não de deve cegamente admirar um lugar, mas simplesmente gostar de Paris. Saber quais são seus defeitos e qualidades, sem atribuir nada sobrenatural ou empírico.

Viajar é sair da zona de conforto

Notadamente, quando parte dos melhores escaladores e montanhistas de uma região, de qualquer lugar do mundo, começa a treinar suas técnicas de escalada “à vista”, ou mesmo a exploração de montanhas e trilhas desconhecidas, ele (a) evolui.

Estar sempre escalando nos mesmos lugares e, as vezes, as mesmas vias, é sempre estar comodamente na zona de conforto. Não há nada de ruim estar sempre na zona de conforto, mas ficando constantemente nela a evolução dentro do esporte não acontecerá. Caso aconteça, será de maneira muito mais lenta do que constantemente sair da zona de conforto.

Para uma melhor evolução, viajar a um outro local que sequer é conhecido é uma das melhores estratégias. Até mesmo o período de preparação para esta viagem, pode ser usado para motivação em treinamentos.

Novas rochas e estilos

Logo que chegar no local descobrirá que, se desenvolver técnicas não dominadas, como escalada em fendas ou vias positivas, acabará melhorando sua técnica. Entrar no maior número de estilos e tipos de rochas possíveis é a estratégia perfeita para consolidar o grau escalado.

Esta é a tática de todos os melhores escaladores europeus. Claro que por estarem em um continente com países consideravelmente menores e mais próximos de locais de escalada como Rodellar (Espanha), Siurana (Espanha), Leonídeo (Grécia), Frankejurna (Alemanha), etc, facilita. Mas estes mesmos escaladores também colocam no calendário vários locais de escalada da América do Sul (muitos deles fora do Brasil).

O motivo desta escolha é simples: melhorar o repertório de movimentos e técnicas de escalada. Mesmo estando “próximo” de Brasil e Chile, é mais comum ver pessoas da Europa e EUA em Piedra Parada (Argentina) que brasileiros e chilenos.

O que os grandes escaladores fazem é percorrer áreas diferentes e desafiar-se nas vias mais difíceis nessas áreas. Mesmo que pareça que em uma viagem de escalada com escaladas de várias cordadas em Arenales (Argentina) não tenha nada a ver com a escalada esportiva íngreme da Serra do Cipó, a pessoa estará aprendendo algo com cada um desses estilos que se traduz no outro.

A percepção do que é “difícil”

Visual da entrada do Cajon com a Piedra Parada e o Rio Chubut ao fundo. Foto: Alex Krupka

Outra mudança de paradigma obtida nas viagens é a percepção de dificuldade. Talvez em seu local habitual você não veja ninguém subindo mais do que 9º brasileiro. No Brasil, vias desta graduação são relativamente raras. Para constatar esta realidade, basta verificar quantas vias acima desta graduação são vistas em cada local de escalada.

Entretanto, locais como Rodellar (Espanha), Siurana (Espanha), Leonídio (Grécia), Piedra Parada (Argentina), Valle de Los Cóndores (Chile) e Red River Gorge (EUA), graduações acima de 9º brasileiro são consideradas como comuns. Nestes lugares há vias não somente de 10º brasileiro, mas de 11º e 12º.

Além disso, há constantemente escaladores as procurando para escalá-las no menor número possível de tentativas.

Além de quebrar as crenças limitantes sobre escaladas “difíceis”, reunir-se com escaladores melhores do que está acostumado é imensamente. Observando-os é possível ver diferenças entre movimentações, estilos, técnicas e recursos.

Uma mudança de cenário em relação ao seu grupo habitual de parceiros de escalada pode fazer uma grande diferença. Além disso, muitas das “meias verdades” que são contadas por colegas que se convive onde se mora podem ser colocadas à prova.

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