Valorizar Características ao invés de preferências – Porque temos de melhorar os pontos fracos para sair da zona de conforto

Eu tive uma experiência interessante durante a pratica de yoga em minha varanda durante um belo dia de outono. Enquanto eu mudava para a postura do triângulo, eu estiquei meu braço direito para o céu e olhei para cima. Eu percebi um lindo céu azul. “Esse tom de azul sempre foi minha cor favorita” eu disse para mim.

Depois, percebi as cores brilhantes das folhas da árvore de bordo. Elas estavam mudando de verde para laranja, amarelo e vermelho. Era lindo. Eu me perguntei se eu preferia as cores das folhas mudando ou o meu céu azul favorito. Será que eu realmente precisava escolher entre eles?

As experiências são compostas por muitas partes que se complementam e contrastam; nenhuma parte individual se destaca do todo. A forma como o céu azul e as folhas coloridas se complementam e contrastam é mais interessante do que apenas o céu azul. Juntos eles nos dão uma sensação mais profunda de beleza e conexão.

A preferência geral da mente é o conforto. Eu me lembro de quando meu irmão e eu escolhíamos nossas cores favoritas quando éramos jovens. Ele escolhia amarelo; eu azul. “Azul é uma cor melhor do que amarelo porque é calmante”, meu ego me dizia. Meu ego queria o conforto de escolher uma cor melhor que a do meu irmão, portanto ele criou uma razão para sustentar sua escolha. Por que “calmante” faria da cor azul uma melhor escolha? O ego não se importa com a validade da razão. Ele só quer alguma justificativa para se sentir melhor.

Escolher uma cor favorita pode parecer algo pequeno, mas tais experiências vão se empilhando entre si. A preferência do ego por conforto constrói um sistema de valores que tem como base sentir-se mais importante do que os outros, buscando preferencias que distraem nossa atenção de trabalhar em nossas fraquezas.

Esta preferência por conforto também influencia nossa escalada. Talvez sejamos escaladores tradicionais. Nossos egos podem dizer: “Eu prefiro a escalada tradicional porque ela envolve mais risco e requer mais foco mental do que a escalada esportiva”. Isto pode ou não ser verdade, mas isso não lhe interessa ao ego. Ele só precisa de uma razão manufaturada para poder inflar-se.

Uma palavra mais apropriada para ser usada no lugar de “preferencias”, seria “características”. Esta palavra inclui todos os aspectos da situação, e não somente os que preferimos. Eu percebo uma cena enquanto eu mantenho a postura do triângulo na yoga. Suas características consistem em um céu azul, folhas coloridas, etc. Incluir todas as características me ajuda a perceber a cena como um todo. Fazer isto expande minha consciência da interligação das características individuais e me da uma compreensão mais completa dela. O azul é brilhante pelo seu contraste com as folhas coloridas.

Eu percebo meu estado mental interior durante a escalada. Suas características incluem a mente, o corpo e como eles se influenciam mutuamente. Talvez eu esteja pensando sobre estar na próxima parada confortável, influenciando meu corpo a se apressar durante a escalada estressante. Percebendo isto, eu diminuo minha velocidade para influenciar o meu pensamento, deslocar minha atenção para lidar com o estresse presente.

Talvez eu esteja usando força demais por ter medo de cair, o que influencia minha mente a pensar sobre a queda em vez da escalada. Percebendo isto, eu relaxo minha pegada para influenciar a minha mente, deslocando minha atenção para pensar sobre o que eu preciso fazer para escalar. O que eu faço com meu corpo influencia minha mente e vice-versa. Observar meu estado interior me ajuda a perceber esta interligação, responder a ela eficientemente e não virar vítima das preferências do meu ego.

Mudar das nossas preferencias para as características é pragmático. Olhamos para todas as características de uma situação pois precisamos saber todos os componentes do risco. Se somente preferirmos os componentes confortáveis, podemos estar sujeitos a ignorar a consequência da queda e assumir um risco inapropriado; ou, podemos ignorar um descanso por irmos rápido demais até a próxima zona de conforto e escalar de forma ineficiente.

Grande parte do treinamento mental tem a ver com a expansão da consciência. Ter favoritos e preferências interfere com esse processo. Eles diminuem nossa consciência, analisando as partes confortáveis para manter e as estressantes para ignorar. Quando olhamos além das preferencias, começamos a conectar as partes em um todo interligado. Em vez de procurar o azul, procuramos pela forma como todas as cores se complementam e contrastam entre si para criar a beleza. Ao invés de procurar por situações de escalada que sustentem o ego, nos comprometemos em situações novas de escalada que nos permitem aprender.

Dica Prática: Preferência por fraquezas

Você tem preferência por escalada esportiva sobre escalada em ginásio; tradicional sobre boulder? Não há nada de errado em ter um tipo de escalada preferido. Mas, se quiser crescer como escalador, tenha preferência por desenvolver suas fraquezas.

Aqui estão algumas sugestões:

  • Pratique outro tipo de escalada que não seja seu preferido
  • Visite novos locais de escalada onde nunca tenha ido
  • Escale vias que nunca tenha escalado
  • Se você escala mais à vista, então tente escalar um projeto de cadena, ou vice-versa

Faça um treinamento mental se você focou apenas em treinamento físico. Estes pontos irão expor suas fraquezas para que você possa aprender delas. Ter uma preferência por suas fraquezas te ajudará a crescer como escalador.

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O livro “The Rock Warrior Way – Mental Training for Climbing” está à venda traduzido para a língua portuguesa no Brasil em: http://www.companhiadaescalada.com.br/

Tradução do original em inglês: Gabriel Veloso

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