Em 1979 eu estive no exército, servindo na ZDM (Zona Desmilitarizada) na Coréia. Nossa missão era patrulhar o setor americano e não deixar os Norte-Coreanos infiltrarem na Coréia do Sul.
Nós patrulhávamos às noites e armávamos PE/PO (Posto de Escuta / Posto de Observação) próximo à fronteira da Coréia do Norte. Para fazer nosso trabalho de forma eficiente, nós precisávamos escutar e observar de uma forma que nos ajudaria a localizar quem infiltrava.
Nós escutávamos os barulhos e olhávamos procurando movimento. Escutar e olhar nos ajudava em nossa observação da situação e no relatório de informação precisa.
Há uma diferença entre escutar e ouvir, olhar e ver. Quando nós escutamos, nós prestamos atenção no propósito de ouvir. Quando ouvimos nós simplesmente usamos nosso sentido de ouvir para perceber sons.
Escutar é ativo; ouvir é passivo. “Prestar atenção” – escutar – usamos nossa atenção para engajar-nos na situação. “Perceber sons” – ouvir- estamos passivamente permitindo que os sons causem um impacto em nós. Podemos estar atentos quando ouvimos um som, mas escutar esse som requer o foco de nossa atenção ativamente durante o processo da escuta.
É a mesma coisa com o olhar contra o ver. Quando olhamos, viramos nossos olhos em alguma direção para que possamos ver. Quando vemos, simplesmente usamos nosso sentido da visão para perceber objetos. Olhar é ativo; nós “viramos nossos olhos em uma direção,” nos engajamos com a situação e prestamos atenção à ela.
Ver é passivo; imagens visuais estão simplesmente sendo percebidas com os olhos. Podemos estar atentos quando vemos um objeto, mas olhar esse objeto requer o foco de nossa atenção ativamente durante o processo de olhar.
Ao escutar nós engajamos nossa atenção em todo o ambiente ao nosso redor. Quando ouvimos um som, movemos nossa cabeça e corpo na direção do som, e focamos nossa atenção no som específico para investigá-lo.
De maneira similar, ao olharmos nós engajamos nossa atenção em todo o ambiente ao nosso redor. Quando vemos um objeto se mover na visão periférica de nosso campo de visão, movemos nossa cabeça e corpo na direção do movimento e focamos nossa atenção no objeto específico para investigá-lo.
O passo final é se tornar observador do que estamos escutando e olhando. Fazemos isto observando a tendência da mente dde formular conclusões rápido demais. A mente quer certeza e criará conclusões antes que o processo de olhar e escutar possam acontecer.
A mente está motivada na direção de resoluções rápidas de uma situação para que ela possa atingir o conforto. Precisamos dar tempo para permitir que a informação seja absorvida e processada, antes de formular conclusões. Fazemos isto atrasando nossas conclusões.
Quando nós ocupávamos um PE/PO na Coréia, nós precisávamos escutar as ameaças. Nos ouvíamos sons da natureza e de humanos. Nossa tendência era categorizar os sons da natureza como não-ameaçadores e sons humanos como ameaçadores.
Rotular os sons da natureza (pássaros, vento) como não-ameaçadores significava que não precisávamos mais prestar atenção à eles. Escutar estes sons poderia revelar uma ameaça. A mente procurava conforto no rótulo de não-ameaçador, portanto o processo de escuta e observação eram diminuídos.
Havia uma tendência a categorizar o movimento que víamos para o sul como amigável e o movimento para o Norte como o inimigo. Se víamos movimento para o Sul, onde outra patrulha Americana deveria estar, então precisávamos olhar para determinar a ameaça, ao invés de rotulá-la como amigável.
Era um animal, a patrulha americana ou o inimigo? A mente buscava conforto no rótul de Sul/Norte portanto o processo de escuta e observação eram diminuídos.
Nosso trabaalho era atrasar as conclusões. Precisávamos observar e dar essa informação para a inteligência militar. Eles coletavam as informações de todas as patrulhas, as processavam e depois formulavam uma conclusão mais precisa sobre as ameaças.
Ao escutar e olhar nós engajamos nossa atenção no processo de observação. Nós estávamos engajados com a situação. Também observamos as tendências de nossa mente de tirar conclusões sobre aonde estava ou qual era a ameaça.
Nós mantínhamos nossa atenção engajada ao escutar tudo que ouvíamos e olhar a tudo que víamos, permanecendo no estresse de não saber ao invés de esconder nos rótulos confortáveis e conclusões.
Dica Prática: Atrase
Quando você escalar, você experimentará o estresse. A mente irá querer resolver esse estresse ao buscar conforto. Pegue por exemplo o cansaço físico, estar tijolado.
A mente vai querer escapar o estresse de estar tijolado e dizer “pega (ou trava)” para se pendurar na corda.
Não pegue ou trave. Invés disso, atrase e procure opções. O atraso te da tempo; o ato de olhar engaja sua atenção na situação. Olhe para a esquerda, direita e para cima.
Permaneça no estresse e observe quais opções se apresentam.
O livro “The Rock Warrior Way – Mental Training for Climbing” está à venda traduzido para a língua portuguesa no Brasil em: http://www.companhiadaescalada.com.br/
Tradução do original em inglês: Gabriel Veloso
Arno Ilgner distinguiu-se como um escalador pioneiro nos anos 1970 e 80, quando as principais ascenções foram as primeiras fortes e perigosas. Essas façanhas pessoais são a base para Ilgner desenvolver o programa de treinamento físico e mental – Rock Warrior Way ®. Em 1995, após uma pesquisa aprofundada da literatura e prática de treinamento mental e as grandes tradições guerreiras, Ilgner formalizado seus métodos, fundou o Instituto Desiderata, e começou a ensinar seu programa de tempo integral. Desde então, ele tem ajudado centenas de estudantes aguçar a sua consciência, o foco de atenção, e entender seus desafios de atletismo (e de vida) dentro de uma filosofia coerente, baseada em aprendizado de tomada de risco inteligente. Ilgner considera a alegria e satisfação no esforço – a “viagem” – intimamente ligada à realização bem sucedida das metas.