No ano de 1977 a australiana Robyn Davidson fez uma travessia pela Austrália com camelo. À época com apenas 27 anos, Davidson chamou a atenção pela coragem e, claro, pela inovação de realizar uma travessia com um animal sui generis para enfrentar o “outback” (interior desértico australiano).
Boa parte do deserto australiano é coberto de areia grossa, de cor avermelhada e ocasionalmente há alguma chuva (mas muito breves) que permite a existência de vegetação rasteira. Entretanto o solo é muito estéril, que mesmo com uso de fertilizantes a agricultura neste local é impossível.
Com apenas quatro camelos a travessia de Robyn Davidson chamou a atenção da mídia que considerou “jornada perigosa”. Ao todo foram percorridos 2.735 km em 1977. Toda a jornada foi documentada em seu livro “Trilhas – A Incrível Jornada de Uma Mulher Pelo Deserto Australiano”, lançado em 1995, considerado por muitos como um dos melhores livros de trekking existentes até hoje. Para a realização da aventura, a jornalista passou dois anos trabalhando com os camelos para que se familiarizasse com os animais.
A autora saiu da cidade onde morava, Alice Springs, e foi caminhando até o Oceano Índico. Ao todo a travessia de Robyn Davidson levou pouco mais de nove meses, tendo percorrido uma média de 10 km por dia. Após toda a jornada pelo deserto americano passou a referir-se a ela como a “garota dos camelos” (the camel lady).
A autora, após estes dois anos de convívio com os camelos, comprou quatro animais para si: Dookie, Bub, Zleika e Goliath. Robyn Davidson escolheu também fazer a viagem junto a um cachorro, para que lhe fizesse companhia e a alertasse de animais peçonhentos ao longo da viagem. Como uma viagem destas não sai barata, pois é necessário alguns meses para cumprir a meta, a National Geographic concordou em patrocinar. No patrocínio houve visita constante do fotógrafo Rick Smolan.
Quando publicado o artigo teve muita repercussão, tando ganhado alguns prêmios por conta disso. Desde então a autora se especializou em reportagens sobre viagens e tornou-se referência no assunto. A australiana em nenhuma vez nestas viagens que fez fez algo efêmero e sem importância como travessias de pontes em vulcões e outras abordagens equivocadas de quem mais deseja aparecer do que propriamente realizar algo relevante.
Aliás relevante é a palavra-chave para a autora.
O livro é uma mistura muito bem elaborada de trekking, romance, mar, deserto, tempestades de areia, convivência com os povos aborígenes e, principalmente, reflexões a respeito da vida e da paisagem australiana.
Em 2013 o livro foi adaptado em um filme estrelado por Mia Wasikowska e Adam Driver. Por algum motivo que ainda não foi explicado, “Trilhas – A Incrível Jornada de Uma Mulher Pelo Deserto Australiano” não é um livro comentado nem recomendado no Brasil. Há pessoas que, erroneamente, compara a obra da australiana com “Livre” (que também virou filme), sem se atentar que as obras são absolutamente diferentes e somente se assemelham por ser uma mulher a autora.
Tradicionalmente os livros sobre trekking e montanhismo que ganharam fama no país, somente focam em tragédias e atos heroicos. Temática intimista e filosófica como a que Davidson realizou, deixa a entender que não é muito apreciada por grande parte do público praticante de trekking.
Ficha Técnica
- Título: Trilhas – A Incrível Jornada de Uma Mulher Pelo Deserto Australiano
- Autor: Robyn Davidson
- Edição: 1ª
- Ano: 2015 (edição brasileira)
- Número de páginas: 248
- Editora: Seoman
Equipe da redação
O filme é excelente.e instigou a procurar o livro, e estou adorando! Gosto dessa temática, pois prorcionam reflexões profundas da vida. Leiam o livro e vejam o filme, não importa a ordem!