Desde o último resgate ocorrido nesta semana, quando dois praticantes de trekking ficaram perdidos na Serra Fina, representantes das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) e do Corpo de Bombeiros, estudam a possibilidade de impor algum tipo de controle de acesso à travessia. Ambas as entidades cogitam também uma solução menos radical que limitar o acesso, que seria implementar um plano de conscientização sobre a necessidade de contratação de guias e de uso de equipamentos apropriados para trekking. A notícia foi divulgada pelo jornal Estado de Minas.
A travessia, que possui 33 km de extensão e com boa parte dela acima dos 2.000 metros acima do nível do mar, demora quatro dias em média para ser completada. Dada a sua dificuldade, especialmente para iniciantes, as ocorrências de desaparecimento na Travessia da Serra Fina não são incomuns. Nos últimos meses, vários praticantes de trekking, quase todos sem experiência, se perderam e foi necessário realizar grandes operações de resgate. Somente em 2018, seis pessoas necessitaram de socorro e resgate no trajeto.
RPPNs é um dos tipos de unidades de conservação brasileiras previstas no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). Os objetivos que justificam as RPPNs são promover a conservação da diversidade biológica, a proteção de recursos hídricos, o manejo de recursos naturais, desenvolvimento de pesquisas científicas, atividades de ecoturismo, educação, manutenção do equilíbrio climáticos e ecológico, bem como a preservação de belezas cênicas e ambientes históricos.
De acordo com o gestor e proprietário de uma das RPPNs que preservam a Serra Fina, José Sávio Monteiro, a preocupação com a preservação natural da região e com a segurança das pessoas que percorrem suas trilhas tem aumentado a cada resgate realizado na região. Monteiro estuda encontrar um denominador comum com outros proprietários de RPPNs utilizadas na travessia, junto do corpo de bombeiros, para uma solução do problema.
O despreparo de muitos que frequentam a trilha é alvo de reclamação constante de montanhistas e guias que frequentam a trilha. Um exemplo ilustrativo da imprudência e irresponsabilidade pode ser visto no último resgate realizado. Ambos os resgatados do último resgate não tinham sequer um GPS para orientação e portavam apenas um mapa impresso de um site na internet.
Muitos praticantes de trekking mais experientes culpam a popularidade da travessia às redes sociais, esquecendo que quem alimenta o conteúdo das redes sociais, são as próprias pessoas. Portanto o problema é muito mais de conscientização, responsabilidade, educação e maturidade de quem procura realizar a trilha. Vários montanhistas experientes contestam o título de “Travessia mais difícil do Brasil”, colaborando assim para que mais e mais pessoas desacreditem neste título.
Como a área pertence a propriedades privadas, uma proibição da realização desta travessia pode ser impedida por tempo indeterminado após cada dos donos das RPPNs decidirem de alguma maneira frear o ímpeto de praticantes de trekking no trajeto. Além disso, um outro ponto que dificulta a limitação de acesso é a baixa adesão dos praticantes de trekking a uma entidade de classe, como associação ou federação de montanhismo, a qual seria a responsável por classificar a experiência e conhecimento do praticante.
Equipe da redação
Erar é umano.
Mas não entendo mandar automaticamente, e por “default” a conta dos erros de cada excursionista para o público.
Bom dia. Os problemas nas trilhas no Brasil são reais e crescentes eum muitas serras: Pico Paraná, Ciriricia, Serra Fina, Marins Itaguaré, Caparaó e muitas, muitas outras, isso é fato. Só o que não é fato é que ” autoridades” discutem limitação de uso. Na reportagem não há nenhuma autoridade falando sobre o assunto. A única pessoa que fala na reportagem é o dono de uma RPPN (cuja criação polêmica foi questionada por muitas pessoas e instituições).
André, o corpo de bombeiros, citado na reportagem, é uma autoridade a respeito do resgate. O dono da RPPN, que pode proibir a entrada de pessoas em sua propriedade privada (embora de conservação) também é uma autoridade. Ambos podem sim entrar em uma acordo e impedir que o certo trajeto possa ser feito. Uma autoridade nem sempre é alguém chancelado e sim os interessados e com poder de resolver a situação como bem entender. Não somente a polícia ou um representante público são autoridades. Da mesma maneira que você é a autoridade em sua casa, e decide quem pode e não pode entrar, o dono da RPPN pode fazer o mesmo.
abs
O negócio é será se tornar guia pra não ter que contratar guias. rs
Oi Cassiano
Eu acredito que haverá, pelo menos um dia, um denominador comum que é ter um cadastro de experiência de montanhistas. O responsável será, para o bem ou para o mal, associações de montanhistas e a federação de montanhismo. Por serem quem, aos olhos do estado, nos representa, será a responsável por livrar todos da obrigatoriedade de guias. Eu pessoalmente não gosto desta ideia, mas como há muitos “entendidos” ficando perdidos e gerando toda esta comoção (de pais, família, autoridades e nós que cobrimos o universo outdoor) será o mais perto de uma situação aceitável.
O Alexandre foi perfeito em seu comentário! Basta dar uma olhadinha nas trilhas da Table Mountain na Cidade do Cabo
No mundo inteiro existem trilhas com maior extensão que a serra fina e este tipo de evento não ocorre. O problema é que não existe a demarcação correta da trilha, sobretudo nos pontos mais críticos. Quando ocorre este tipo de evento, surgem ideias para retirar dinheiro dos praticantes em nome da segurança…