Torn: Filme sobre Alex Lowe e seu corpo encontrado 17 anos depois já está no Disney+

TornA partir de hoje a plataforma de streaming Disney+ disponibiliza o documentário Torn, dirigido por Max Lowe e produzido por Chris Murphy e vencedor do prêmio BANFF de Melhor Longa-Metragem. A história conta a vida do montanhista norte-americano Alex Lowe, cujo corpo foi encontrado 17 anos após sua morte.

Mas que fique claro que Torn não é um thriller aterrorizante de ver na tela grande a todo custo, como Free Solo, mas é quase garantido que fará o expectador chorar até o final. Em vez disso, é um drama familiar que, em vez de explorar suas reviravoltas de cair o queixo, visa algo mais contemplativo e muito mais emocional.

Alex Lowe era um famoso montanhista conhecido por sua habilidade como “controlador de risco”. Na época Lowe era um dos montanhistas mais famosos dos EUA, e parte do fascínio da imprensa norte-americana, que lhe rendeu reportagens e capas de revistas, foi que estava vivendo aventuras que desafiavam a morte e depois voltava para casa com sua esposa, Jenni, e seus três filhos.

Mas, como todos devem saber, Alex Lowe morreu em decorrência de uma avalanche fatal no Monte Shishapangma (8.027 m) em 1999. Quem sobreviveu à avalanche foi seu melhor amigo e parceiro de escalada Conrad Anker. A culpa que Alex sentia por negligenciar as necessidades de seus meninos foi ‘transferida’ para Conrad, arruinado com a aparente “injustiça” de sua sobrevivência e determinado a ser o pai que seu amigo não foi capaz de ser em vida.

Sim, Conrad Anker acabou se casando com a viúva de Alex Lowe e ajudando a criar seus filhos. Isso não é um spoiler, pois todos no mundo do montanhismo sabe dessa história, além de estar escrita em todos os tipos de divulgação do filme.

Max Lowe, filho de Alex Lowe e diretor do filme, está em todos os quadros de Torn. Mesmo quando o cineasta não está aparecendo na tela como tema de seu documentário, está atrás da câmera, ou sua voz está carregada para fazer uma pergunta investigativa. A própria dor e curiosidade de Max Lowe inundam cada segundo da produção.

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Torn tem as lentes apontadas para a própria família, quando o corpo de seu pai é encontrado 17 anos após sua morte. A família de Lowe viaja para o Himalaia para recuperar os restos mortais de Alex Lowe. O diretor Max Lowe na produção traça os sentimentos há muito enterrados que essa descoberta desenterrou nele e em sua família.

Com um enredo e ritmo não convencionais, a primeira hora do filme fica principalmente perto de casa, entrevistando os vários membros da família dentro de sua casa no estado norte-americano de Montana. O diretor faz perguntas que não são exatamente importantes, mas que se tornam uma vantagem, principalmente porque nunca finge ser objetivo.

Max é rigoroso ao retratar sua incapacidade de aceitar Conrad como seu ‘novo pai’, pois era apegado a Alex muito mais do que seus irmãos mais novos, Sam e Isaac, que não têm nenhuma memória ressonante do pai biológico.

O filme é uma tentativa do diretor entender seu pai e as origens muito, digamos, “inusitadas” da família criada, e não necessariamente da maneira mais fácil ou mais limpa possível. Pois, como não poderia deixar de ser, Max idolatrava seu pai, mas claramente guardava também algum ressentimento pelo fato de que a atração das montanhas por seu pai era maior do que a atração da vida em família.

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Ao mesmo tempo, ele respeita Conrad e entende que, para seus dois irmãos, Conrad é pai e Alex é apenas “Alex”. O que Max tem são perguntas reprimidas, perguntas que nenhuma criança de 11 anos jamais faria a sua mãe e seu novo padrasto

As perguntas que o diretor tem são provavelmente idênticas às perguntas que qualquer espectador vai ter depois de ler a descrição do documentário ou os primeiros 15 minutos.

Então Max se senta em frente a Jenni e Conrad e dispara várias perguntas desconfortáveis. Às vezes o casal têm respostas, mas vezes são evasivos e às vezes não podem articular respostas. Não importa quem está sendo colocado no local, Max se contenta em deixar a câmera rodando através de qualquer reviravolta ou incerteza.

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Tecendo imagens de arquivo das aventuras de Alex, com vídeos caseiros e entrevistas de Jennifer, Sam, Isaac e Conrad, o diretor desafia antigas tradições familiares e questiona suas próprias crenças, resultando em um exame profundo de paternidade, amor, perda e resiliência no mundo de montanhismo profissional.

Max está, como o título do documentário sugere, Torn (dividido, em inglês). Mas se colocando no lugar dele, como ele não poderia estar? É uma situação inconcebível para quase todo mundo.

O filme é cativante e absorvente como qualquer documentário sobre as emoções de escalar uma face norte de alguma montanha. Um de seus prazeres é que todos em Torn são completamente reais, com uma história real para contar.

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Mas nada em Torn é limpo ou fácil, mas Max trata a bagunça com uma contenção surpreendente em todos os níveis. Como entrevistador, ele não levanta a voz, nem como cineasta deixa sua frustração ou conflito interno se desenrolar por meio de edição conflitante ou escolhas musicais apertadas de Danny Benji e Saunder Jurriaans.

“Torn” provoca lágrimas de uma maneira crua, inesperada e totalmente merecida. Ao convidar os espectadores a compartilhar o mais privado dos períodos transformadores para sua família, Max Lowe escalou o Monte Everest da alma, criando um presente cinematográfico que toca o coração de uma maneira que poucos filmes conseguem.

A coragem do estreante Max Lowe em escavar sua própria família em um documentário íntimo e honesto, merece também destaque.

Nota Revista Blog de Escalada:

Torn está disponível para visualização no Disney+

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