Ter poder mental é como manter um trem nos trilhos – Por que a sensação da frustração é horrível?

Benji Palmer recentemente obteve sucesso em sua meta, a via Rumors of War (Rumores da guerra), na região de Obed, no Tennessee. Enquanto eu o treinava, eu percebi que ele perdia o foco mental ao se frustrar quando seus esforços atingiam menos do que ele esperava. Eu precisei ajuda-lo a diminuir sua frustração para que ele tivesse maior poder mental.

Ter poder mental é como manter um trem nos trilhos. Nesta metáfora, a atenção é o trem e as tarefas da escalada são os trilhos. Se o trem permanece neles, ele progride até o seu destino. Da mesma forma, se nossa atenção estiver focada nas tarefas da escalada, então iremos progredir até nossa meta. Nós saímos dos trilhos quando a mente distrai nossa atenção da tarefa. Quando estamos conscientes dessa tendência, diminuímos a chance de sairmos dos trilhos.

Alguns hábitos, como frustrar-se, podem estar enraizados profundamente nas redes neurais do cérebro. É preciso de prática intencional para muda-los, o que requer a aceitação dos resultados, permanecer curioso e trabalhar. Estes nos ajudam a permanecer focados na experiência relevante, para que possamos estar presentes para ela, aprender o que for necessário e aproveitá-la mais.

Foto: http://harvesttab.com/

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Podemos começar entendendo intelectualmente que a frustração não nos ajuda. Ela é um comportamento que demonstra que queremos algo por nada. Queremos atingir uma meta sem realizar o trabalho necessário. Quando nos tornamos conscientes dessa tendência de “algo por nada”, percebemos quão limitante ela é. Reconhecemos que nossas experiências mais significativas nos exigiram muito trabalho, mais do que pensamos inicialmente. Percebemos que queremos algo por algo: nos esforçamos para atingir uma meta. Focar no esforço que devemos fazer nos coloca em uma posição de aceitação dos resultados como eles são, permanecer curiosos para soluções possíveis e realizar o trabalho necessário.

Também é útil observar como nos sentimos quando estamos na experiência. A sensação da frustração é horrível; nos sentimos como vítimas. A curiosidade cria uma experiência diferente, mais eficiente, aproveitável e uma na qual nos comprometemos mais.

Eu dei algumas ferramentas tangíveis para Benji trabalhar a sua frustração. Elas consistiam em perceber quando ele se frustrava, parar tal comportamento e aceitar o resultado. A seguir, ele focava em permanecer curioso, se perguntando “o que contribuiu para a queda?”. Finalmente, ele aplicou sua atenção às tarefas de escalada quando estava escalando.

Benji caiu no segundo crux ‘bombante’ da via Rumors, se frustrou, e imediatamente disse “estou bem”, o que significava que ele havia percebido que tinha ficado frustrado. Isto o ajudou a aceitar o resultado e permanecer curioso. Ele se perguntou “por que eu caí?”. Este processo de questionamento o levou a perceber que ele havia se soltado da rocha porque ele não achava que conseguiria continuar escalando. Esta percepção mudou a forma como ele abordou a sua próxima tentativa de cadena: ele continuaria a escalar, mesmo se ele não achasse que conseguiria. Ele iria continuar no foco de seguir em frente.

Foto: Sam Bié | http://cruxcrush.com/

Foto: Sam Bié | http://cruxcrush.com/

Ele não se sentiu muito bombado ao escalar o segundo crux na cadena. Na verdade, ele se sentiu confiante. Ele estava tão confiante que sua mente criou o pensamento “Eu provavelmente irei conseguir”. Ele ainda tinha muita escalada ‘bombante’ pela frente e poderia falhar se sua atenção focasse no sucesso. Ele percebeu os pensamentos de “sucesso”, conscientemente se desfez deles, e levou sua atenção de volta para a tarefa de seguir em frente. Os pensamentos de sucesso continuaram a tirar sua atenção dos trilhos enquanto ele escalava. Ele observou isso, redirecionou sua atenção e escalou até o topo.

Depois, Benji demostrou certa tristeza, pois o trabalho com a Rumors havia terminado e ele gostaria que a experiência tivesse durado mais. “Foi como sair de um transe; eu queria permanecer na experiência” ele disse. Ele se perguntou se deveria entrar novamente na via para estender a sensação de transe da experiência, mas logo percebeu que fazê-la de novo não o colocaria na experiência passada; ela seria diferente. Escalá-la de novo, sabendo que ele já havia obtido sucesso, seria uma experiência totalmente diferente.

As experiências existem por um período limitado de tempo. Não podemos voltar e ter a mesma experiência novamente. Em vez de escalar frustrados por não atingir nossas expectativas, nós apreciamos a experiência quando estamos nela. Da mesma forma que não temos uma segunda chance de fazer uma primeira impressão, nós também não temos uma segunda chance para ter uma experiência única. O tipo de experiência que temos antes de obter sucesso é única. Existe um nível de dúvida sobre atingir ou não a meta, antes de atingi-la. Portanto, é importante apreciar a dúvida como parte da experiência.

Benji fez seis visitas à via Rumors no total. Ele disse que quando ele obteve sucesso, o desafio mental era maior do que o físico. Ele não havia melhorado sua força física. O que havia mudado era sua habilidade de não deixar a frustração tirá-lo dos eixos, o que manteve seu poder mental. Ele foi capaz de manter o seu trem nos trilhos, fluindo até o destino.

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Dica pratica: Não saia dos trilhos

A frustração é um sinal de que você quer algo em troca de nada. Não se comporte dessa forma. Todas as conquistas requerem esforço e trabalho. Em vez disso, espere obter algo em troca de algo: conquistas por trabalho.

Perceba quando estiver se frustrando. A seguir, aceite o resultado e pare com a frustração. Respire fundo e pergunte-se: “O que contribuiu com a queda?”.

Fazer essa pergunta desloca sua atenção para permanecer curioso, o que evitará que você saia dos trilhos e te ajudará a encontrar uma resposta.

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O livro “The Rock Warrior Way – Mental Training for Climbing” está à venda traduzido para a língua portuguesa no Brasil em: http://www.companhiadaescalada.com.br/

Tradução do original em inglês: Gabriel Veloso

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