A temporada de montanhismo no Himalaia 2021 está prestes a começar, anunciando um retorno a alguma aparência de normalidade dentro do Nepal. Como sempre, há dois tipos de montanhistas que ambicionam chegar nos cumes mais altos do planeta: os montanhistas profissionais e o alpinistas sociais.
Os montanhistas profissionais, conforme foi esclarecido no MontanhaCast com Aretha Duarte (você pode escutar o episódio no topo do artigo), são aqueles que possuem como profissão guiar clientes em montanhas durante todo o ano. São pessoas que fizeram do seu ofício conhecer técnicas avançadas de montanhismo e sempre estão em grande altitudes trabalhando.
Os ‘alpinistas sociais’ são pessoas endinheiradas, como apresentadores de TV ou profissionais do marketing aposentados, que ambicionam usar a ascensão em alguma montanha (geralmente o Monte Everest) para alavancar uma pretensa ‘carreira’ como palestrantes motivacionais ou para continuar a manter programas de TV (geralmente em canais a cabo) com a qualidade visual, além de profundidade, de propagandas de perfumes.
Como usualmente este tipo de pessoa subir ao cume do Monte Everest (8.849 m) foi graças ao sherpa, que praticamente os carregam nas costas (às vezes até mesmo literalmente), não merecem destaques entre os que são recomendados a acompanhar. Afinal, para estas pessoas, o objetivo de subir ao cume é apenas criar uma reputação artificial de algo que não é.
Prova disso é que no ano de 2019, o Monte Everest ganhou as manchetes em todo o mundo graças a uma foto tirada pelo montanhista Nirmal Purja. Esta foto ilustra muito bem quem é maioria entre os montanhistas profissionais e os alpinistas sociais. A foto foi apontada como prova de que a montanha ficou muito lotada, uma crítica comum nas últimas duas décadas.
Quando seus corpos estiverem acostumados com o ar rarefeito, eles esperarão por uma janela de tempo para lançar sua proposta de cume. Tradicionalmente, essa janela abre por volta de 10 a 15 de maio e começa de fato a temporada de montanhismo no Himalaia.
Restrições ao montanhismo no Himalaia
Embora o Nepal esteja se abrindo para estrangeiros pela primeira vez em meses, o país não está fazendo isso sem implementar algumas regras para controlar o montanhismo no Himalaia. No início desta semana, foi anunciado que, embora a quarentena não fosse necessária, escaladores e praticantes de trekking ainda teriam alguns obstáculos para superar antes de partir de seu país de origem e ao chegar em Katmandu.
Essas regras determinam que qualquer pessoa que visite o Nepal deve fornecer uma prova de que foi vacinada contra COVID-19. Se essa regra for aplicada de forma adequada, isso por si só deve limitar o número de viajantes.
Embora as vacinas tenham começado a ser aplicadas em larga escala nos EUA, Canadá e partes da Europa, grande parte do resto do mundo ainda é escassa a oferta. Somente no dia de ontem, pouco mais de 11% das pessoas se vacinaram no Brasil.
Importante lembrar que a maioria das vacinas requer duas injeções para serem concluídas, com muitas pessoas ainda sem receber a primeira dessas injeções, quanto mais uma segunda dose.
Além de mostrar a prova de vacinação, os visitantes do Nepal também devem apresentar prova de um teste COVID-19 negativo na chegada. Mas mesmo isso não é suficiente para garantir a passagem para o Himalaia, pois eles também terão que ficar em Katmandu e fazer um teste adicional (às suas próprias custas) antes de poderem prosseguir.
A esperança é que essas medidas mantenham o acampamento base do Monte Everest seguro e saudável durante toda a temporada.
Total de licenças emitidas
Conforme explicado no artigo sobre Moeses Fiamoncini, o Monte Everest não será a única montanha de 8.000 metros a ver o retorno dos montanhistas este ano. De acordo com o Departamento de Turismo do Nepal, o governo emitiu licenças para Lhotse (8.516 m), Dhaulagiri (8167 m), Manaslu (8.156 m) e Annapurna (8.091 m).
Nuptse (7.861 m) e Ama Dablam (6.812 m) são esperados para receber equipes de expedição também. Só no Annapurna, que teve 50 licenças emitidas para a temporada de escalada na primavera, o volume é considerado muito grande para uma montanha considerada como ‘a mais perigosa do mundo’, a qual apresenta uma taxa de mortalidade ainda maior que a Monte K2 (8.611 m).
Mais de 300 licenças para estrangeiros para subir ao Monte Everest são esperadas, com o lado do Tibet fechado para estrangeiros. A maioria dessas equipes já está no Acampamento Base do Monte Everest e se preparando para um ataque ao cume em meados de Abril (ou seja a partir de amanhã).
O total de permissões liberadas, até a publicação deste artigo, pelo Nepal para a temporada de montanhismo no Himalaia foi:
- Monte Everest: 290 em 30 equipes
- Lhotse: 55 em 6 equipes
- Nuptse: 23 em 3 equipes
- Manaslu: 1 em 1 equipe
- Annapurna: 44 em 4 equipes
- Dhaulagiri: 30 em 4 equipes
- Pumori: 5 em 1 equipe
- Tukuche: equipe 1 em 1
- Tilichho: 8 em 1 equipe
Montanhistas femininas
A principal atração na montanhismo no Himalaia, especialmente para os brasileiros, é da brasileira Aretha Duarte. A montanhista tem a ambição de tornar-se a primeira afrodescendente latino-americana a subir ao cume do Monte Everest. Caso consiga, Aretha seria a terceira pessoa afrodescendente da história a conseguir.
No Annapurna, a suíça Sophie Lavuad, de 52 anos de idade, que já escalou onze picos acima de 8.000 metros. Além dela estão seis mulheres sherpas: Pasang Lhamu Sherpa Akita, Maya Sherpa, Dawa Yangzum Sherpa, Dabuti Sherpa, Sharmila Shyangtan, Purnima Sherstha.
Um outro destaque fica por conta de Maya Sherpa, que está está indo para um recorde de uma mulher sherpa em montanhas acima dos 8.00 metros no Annapurna e Dhaulagiri (serão seus números 7 e 8 respectivamente).
Outro destaque fica por conta da catariana Sheikha Asma Al Thani, de 31 anos, que pretende se tornar a primeira mulher do Qatar a subir o Monte Everest. Ela é a terceira pessoa do Qatar a tentar escalar e tem como objetivo inspirar mulheres e jovens em todo o Oriente Médio.
Asma é uma grande defensora do empoderamento feminino no Oriente Médio e tem influência significativa nos esportes do Qatar, regionais e internacionais, além de ser uma funcionária sênior do Comitê Olímpico do Qatar.
Montanhistas masculinos
O destaque, claro, fica para o brasileiro Moeses Fiamoncini está próximo de chegar ao cume do Annapurna (8.091 m), a décima mais alta montanha do planeta, em estilo solo e sem usar oxigênio complementar. O Annapurna é uma das montanhas mais mortais do mundo, apresentando taxa de fatalidades em torno de 38% e nunca houve um (a) brasileiro (a) no seu topo.
Um outro destaque fica para Yandy Nunez Martinez, que ambiciona ser o primeiro cubano a chegar ao topo do Monte Everest. Martinez fugiu de Cuba e agora atualmente mor na Islândia com sua esposa (que também é islandesa).
A segunda maior atração da temporada de montanhismo no Himalaia está para o montanhistas espanhol Carlos Soria, de 82 anos. Este ano de 2021 está a sua tentativa de ascensão ao Dhaulagiri, que seria a sua 13ª montanha acima de 8.000. Para chegar a 14 cumes, Soria teria de subir o Shishapangma (8.013 m).
Os outros destaques ficam por conta de:
- O montanhista inglês Simon Ferrier-May espera se tornar o mais jovem britânico a chegar ao topo do Everest sem oxigênio suplementar.
- O corredor de trail runing espanhol Kílian Jornet planeja explorar a West Ridge do Monte Everest sem oxigênio suplementar. A via ambicionada por Jornet rota só foi feita com sucesso por apenas duas expedições (1963 e 1986).
- O inglês Kenton Cool tentará igualar o recorde de maior número de picos do Monte Everest por um ‘não sherpa’. A marca pertence ao norte-americano Dave Hahn (15 ascensões).
- Para chegar a um recorde de cumes de um sherpa, o guia Claro, Kami Rita Sherpa irá para o seu número 25.
Equipe da redação