Sustentabilidade: Por que ela se tornou diferencial competitivo em marcas outdoor?

A palavra sustentável deriva do latim sustentare e significa sustentar, apoiar, conservar e cuidar. O conceito de sustentabilidade aborda a maneira como se deve agir em relação à natureza, podendo ser aplicado desde uma comunidade até todo o planeta terra.

Considera-se o tripé da sustentabilidade três princípios básicos: social, ambiental e econômico. Os três fatores precisam ser integrados. Os maiores fabricantes de equipamentos outdoor há muito tempo reconheceram isso. A sustentabilidade tornou-se um trunfo para os varejistas.

Infelizmente no Brasil, um país que recentemente tem sido alvo da imprensa internacional pelas queimadas (que acontecem todos os anos, diga-se de passagem) e pela postura omissa da população brasileira em relação ao assunto, as marcas outdoor ainda sequer enxergaram oportunidade na sustentabilidade. Não à toa a imagem do Brasil no exterior, que já não era boa, está em declínio. Neste momento não adianta culpar determinados políticos se a maioria das empresas, em especial as marcas outdoor (incluindo as estrangeiras que atuam no Brasil), não se esforçam para serem sustentáveis.

Exagero? Nem tanto, pois se você buscar na memória quais marcas brasileiras que atuam no segmento outdoor, assim como os representantes de marcas internacionais, levantam a bandeira da sustentabilidade verá que, com muita sorte, podem ser contadas nos dedos de somente uma mão. Portanto, já está mais que na hora as empresas do segmento outdoor abraçar a sustentabilidade, até por estratégia de negócios, e o público que pratica esportes de natureza exigir posturas mais ecológica delas.

Como é a sustentabilidade no exterior

Pesquisas da área de negócios, realizadas por auditorias e consultorias empresariais, mostram que a maioria dos clientes quer ainda mais produtos, serviços e marcas com “rótulos verdes” para promover e implementar a sustentabilidade através de suas compras.

Uma pesquisa com mais de 1.100 varejistas na Europa mostrou que 72% de todas as lojas acreditam que os clientes estariam dispostos a gastar mais dinheiro em produtos “verdes”. Entretanto, apenas 11% das principais marcas treinam seus funcionários em sustentabilidade. Além disso, as perguntas dos clientes sobre sustentabilidade muitas vezes não chegam ao andar dos executivos, que é quem decide o rumo da empresa.

Durante o principal evento de equipamentos outdoor na Europa, a OutDoor by ISPO (que aconteceu na Alemanha), o assunto foi tratado com seriedade e como uma oportunidade de negócios para alavancar vendas. A sustentabilidade dos produtos e serviços, não somente uma parte da linha de venda de uma marca, é o rumo que os negócios do mercado de esportes de natureza devam tomar.

Mas o que uma marca pode fazer em termos de sustentabilidade? Primeiramente adquirir conhecimento e, no caso dos brasileiros (assim como no resto da América Latina), entender que existe uma grande diferença entre marketing e mentira. Pois é importante que as marcas não falem mal dos produtos não sustentáveis, pois o que está em jogo agora é promover um sentimento positivo ao cliente no ato da compra.

O tempo do “nós contra eles” deve ser deixado para trás, pois toda esta polarização e intransigência não devem contaminar a busca pela sustentabilidade nos negócios. As pessoas estão cada vez mais conscientes do peso ecológico e social de suas escolhas. A consequência disso é o dever da empresa possuir uma postura de responsabilidade com os valores ambientais e sociais, fundamentada na preservação do meio ambiente e melhoria da qualidade de vida das pessoas.

No exterior já há prêmios para os produtos sustentáveis. O primeiro deles é o Outstanding Outdoor Award, entregue pela OutDoor by ISPO, que premia categorias como sustentabilidade, “Performance Comfort” e “Urban Outdoor”.

Adidas aposta na sustentabilidade

As marcas esportivas Nike e Adidas estão no ranking BrandZ Top 100 Global das marcas mais valiosas do mundo, em 29ª e 100ª posição, respectivamente. Em termos de vendas, EUA e Europa concentram cerca de 75% do volume global. A América Latina representa apenas 6% das vendas.

Um dos pontos fundamentais para o desenvolvimento das vendas das empresas é o pesado investimento em marketing esportivo. Roland Auschel, membro do Conselho Executivo da Adidas, já anunciou que “Esta é uma oportunidade para as marcas contribuírem para as tendências do futuro”.

A marca enfatizou sua “excelente cooperação com a Messe München“, empresa pioneira no campo da sustentabilidade com a linha “Parley”, elaborada com produtos de plástico marinho reciclados. Além da parceria, a Adidas possui uma meta ambiciosa de sustentabilidade até 2020: o algodão 100% sustentável em toda sua produção.

Quem pensa que a empresa alemã entrou agora no jogo da sustentabilidade, se engana. A Adidas lançou em 2016 a Estratégia de Sustentabilidade, que traduz os esforços da marca em metas tangíveis e objetivos mensuráveis até 2020. A estratégia possui seis pilares: Água, Materiais, Energia, Empoderamento, Saúde e Inspiração.

A consequência da Estratégia de Sustentabilidade da marca foi a eliminação de aproximadamente 70 milhões de sacolas plásticas nas lojas físicas, além de 23% de economia de água por empregados nas instalações da Adidas. Como reconhecimento do esforço, a empresa foi selecionada para integrar os Índices de Sustentabilidade Dow Jones (DJSI). O índice foi lançado em 1999 como o primeiro indicador da performance financeira das empresas líderes em sustentabilidade a nível global.

As empresas que constam neste Índice, o qual é indexado à bolsa de Nova York, são classificadas como as mais capazes de criar valor, a longo prazo, através da gestão dos riscos associados a fatores econômicos, ambientais e sociais. O índice é o reflexo da preocupação crescente de empresas e grupos econômicos com um mundo sustentável.

Os produtos da Adidas construídos a partir do Parley Ocean Plastic fazem parte do conceito de economia circular. O produto utiliza resíduos plásticos retirados das áreas costeiras antes de alcançar os oceanos e chegar à grande ilha de plástico do pacífico. Na produção de um tênis Parley, 11 garrafas plásticas são coletadas, possibilitando que o resíduo tenha um novo fim, evitando a poluição.

Hoje, estima-se que até 2050 haverá no oceano mais matéria plástica do que peixes. Neste cenário catastrófico é que aparece o tênis Parley, no qual a parte superior é feita com o material coletado na costa das Ilhas Maldivas pela Parley Ocean Plastic, assim como com redes de pesca ilegais recuperadas por uma organização parceira, a organização sem fins lucrativos Sea Shepherd.

Segundo dados publicados pela empresa, foram produzidos mais de cinco milhões de pares de calçados com resíduos de plástico reciclado em 2018. A Adidas prometeu dobrar esse número em 2019. Para saber o benefício disso, basta fazer uma conta simples: uma garrafa plástica de um litro pesa em média 30 gramas e pelo volume de vendas conclui-se que a Adidas evitou aproximadamente 1.650 toneladas de plástico de chegar ao oceano.

A Adidas também usa esse mesmo material reciclado para produzir roupas, como a camisa da Champions League para o Bayern de Munique e a camisa do tenista alemão Alexander Zverev para o Australian Open.

A lista de iniciativas da Adidas não termina por aí, pois a empresa também assinou a Climate Protection Charter for the Fashion Industry (Carta de Proteção Climática para a Indústria da Moda) na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, na qual se compromete em reduzir em 30% as emissões de gases de efeito estufa até 2030 e usar somente poliéster reciclado em todos os produtos e aplicações até 2024.

Mas tudo isso apenas por bondade da Adidas? Não exatamente. Conforme explicado acima, apostar na sustentabilidade, apelando também para o sentimento ecológico do consumidor, rende lucro para a empresa. Quando lançado, o tênis Parley esgotou nas lojas assim que foi lançado. O equipamento foi vendido a um preço médio de US$ 220. Isso significa que a marca faturou mais de US$ 1 bilhão.

Parece um sonho distante, mas o eco-tênis já é uma realidade bastante lucrativa, inclusive, para a Adidas.

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