Seletiva Olímpica do IFSC sofre processo, desconvida atletas e enfurece federações

O futebol é considerado o esporte mais popular do mundo, contanto com um público em torno de 3 bilhões de pessoas em todo mundo e é praticado, especialmente, em países da Europa, da África, da Ásia, da América do Sul e da América Central. Porém a Fédération Internationale de Football Association (FIFA), entidade que organiza as competições do esporte, é alvo de denúncias de corrupção e reclamações de conduta e organização há vários anos. Não por acaso houve um tsunami na sua direção e vários de seus dirigentes foram presos.

Quando a escalada esportiva passou a fazer parte da olimpíada, grande parte dos que acompanham o esporte tinham esperança que a International Federation of Sport Climbing (IFSC) fosse transparente, organizada e respeitasse federações, associações e, principalmente, atletas. Mas desde o início do mês o IFSC cometeu algo que em países desenvolvidos é um pecado mortal: mudar o regulamento de uma competição. Neste momento o seu presidente Marco Maria Scolaris tem em suas mãos a pior crise desde que a federação foi criada em 2007.

De acordo com um relatório publicado na climbers-web.jp, a Japan Mountaineering and Sport Climbing Association (JMSCA) está processando a IFSC no Tribunal Arbitral do Esporte (“TAS” em sua sigla em francês). O TAS, criado em 1984, foi planejado com o intuito de criar um foro especializado na resolução de conflitos esportivos, de modo que disputas pudessem ser resolvidas de forma privada, célere, a custos acessíveis e tornando-se uma opção aos tribunais nacionais.

O TAS, considerado sinônimo histórico de neutralidade, é uma organização não governamental e atualmente é considerada neutra e independente de governos, instituições e/ou órgãos esportivos. Pois está justamente na mão do TAS a decisão mais impopular da história do IFSC, desde que obrigou todos os atletas a competirem em velocidade.

Mudança de regra

O processo judicial ainda não definiu suas bases, mas os relatórios sugerem que está relacionado às alterações ou interpretações diferentes do regulamento de qualificação aos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Na semana passada, federações e atletas revelaram que o IFSC enviou 40 convites para o evento que irá classificar 20 atletas em Toulouse em 28 de novembro. O critério de convite era o ranking combinado na temporada 2019 da Copa do Mundo de Escalada. De acordo com o regulamento, disponibilizado publicamente pelo IFSC, apenas um máximo de 2 atletas por país poderia participar.

Mas, alguns dias depois, alguns atletas convidados não eram mais elegíveis para competir. Em uma decisão unilateral, esta cota máxima por país foi mudada pelo IFSC. A partir dessa decisão de alterar o regulamento, houve muita confusão sobre a presença de seleção de atletas do Japão no Campeonato Mundial de Hachioji e a participação adicional de seus atletas ao longo do caminho da seleção.

Foto: IFSC/Forrest Liu

Ao site britânico de montanhismo UKC, o IFSC respondeu:

“No momento, não podemos comentar os nomes dos atletas envolvidos, pois a situação permanece temporária e são necessários mais esclarecimentos sobre o caso JMSCA. Mas, pelo entendimento do IFSC, a reivindicação deles não está relacionada à mudança de regra. Como sempre, nosso objetivo é proteger nossos atletas e o IFSC está gerenciando essa situação da melhor maneira possível”.

A referência do IFSC à “mudança de regra” é ambígua, mas parece se referir à exclusão da regra de cota de 2 atletas por país para participação no evento de Toulouse. A confusão em torno da situação é dupla, no que diz respeito a convites para o próximo evento classificatório em Toulouse e interpretações diferentes do processo de seleção para as cotas olímpicas do Japão.

O motivo de tanta briga de bastidores é dada a predominância no esporte pelos japoneses, as vagas limitadas por país e a vaga de país sede que o Japão já possui. Em maio de 2019, a climbers-web.jp, publicou uma nota com os planos do JMSCA para o processo de seleção olímpica. A nota explicava que o atleta japonês, de cada sexo, melhor classificado no Campeonato Mundial da IFSC em Hachioji, em agosto, seriam os atletas da “seleção prioritária” e, portanto, garantiria uma cota olímpica pela JMSCA.

Após a edição extra do Campeonato Mundial Combinado do IFSC em Hachioji, em agosto, Akiyo Noguchi e Tomoa Narasaki foram os primeiros classificados para as cotas da JMSCA, com base em seus desempenhos dentro da equipe japonesa. De acordo com o anúncio da JMSCA de que um atleta japonês por sexo seria escolhido em Hachioji, foi amplamente divulgado que a JMSCA estava atrasando a seleção imediata de Miho Nonaka e Kai Harada. Na lista de atletas confirmados qualificados para os Jogos Olímpicos, publicada em 4 de novembro no site do IFSC, Nonaka e Harada são nomeados. Portanto, o Japão, na visão do IFSC, já teria preenchido a cota de dois atletas para as olimpíadas.

Em um comunicado à imprensa pela JMSCA, o presidente Kuniaki Yagihara escreveu:

“O IFSC tem uma interpretação diferente da cota do país anfitrião, portanto, isso é uma disputa no Tribunal de Arbitragem. É extremamente lamentável que isso tenha acontecido, mas faremos todos os esforços para garantir que todos os atletas que desejam participar das Olimpíadas de Tóquio em 2020 não sejam cortados”.

Foi aí que o IFSC cometeu o principal erro que está gerando tanta confusão: mudou a regra da seletiva em uma canetada. Em relação à elegibilidade para constar lista de selecionados para competir em Toulouse, a cota por país, de no máximo dois atletas, foi removida do documento. Sendo assim, o Japão, caso ganhe o processo, pode enviar atletas para o evento.

De imediato, quatro atletas tiveram seus convites revogados: Sandra Lettner (Áustria), Iuliia Kaplina (Rússia), Jernej Kruder (Eslovênia) e Aleksei Rubtsov (Rússia). Alguns desses atletas cujos rankings apareceram firmemente nos 20 principais eventos abdicaram de participar das etapas da Copa do Mundo no final da temporada, justamente para se concentrarem nos treinamentos do Toulouse.

Até resolver a crise, o IFSC suspendeu a lista de qualificação para Toulouse e somente dia 12 de novembro, apenas 15 dias antes do evento classificatório, é que existirá uma resolução.

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