Os 10 principais motivos que fazem com que as pessoas necessitem de resgate em trekking

O ano de 2018 bateu todos os recordes de pessoas sendo resgatadas em rotas de trekking no Brasil. Mesmo que estas pessoas sejam uma parcela muito pequena entre todos os praticantes no país, ainda assim fazem com que a imagem da atividade fique manchada perante quem é leigo no assunto.

Não há um levantamento preciso destes dados, mas tem-se como principal motivo a falta de preparo, irresponsabilidade e a imperícia como as principais justificativas.

Foto: Freddy Duclerc

Apenas porque alguém visitou alguma loja de produtos outdoor e gastou somas de dinheiro consideráveis, não chancela a este indivíduo o conhecimento de fazer qualquer atividade. Além disso, também é responsabilidade de todo e qualquer praticante experiente, explicar às pessoas o equívoco que estão cometendo no momento que testemunhar.

Portanto, chamar a atenção de quem não está tendo uma postura correta, ou mesmo realizando um procedimento incorreto, é um dever de quem possui mais experiencia e treinamento apropriado. Praticar uma atividade outdoor, qualquer que seja ela, é muito diferente que ir a um Shopping Center (onde sempre há alguém para acudir no caso de algum imprudente).

Portanto, antes que comece a temporada 2019 de trekkings e escaladas no Brasil, eu, junto da Revista Blog de Escalada, procurei reunir de maneira rápida quais são os principais motivos que fazem com que as pessoas necessitem de resgate por ficarem perdidas durante um trekking.

Equivocar-se com distâncias

Foto: Freddy Duclerc

Caminhar em em ambiente urbano, sem mochila e preferencialmente no plano, é relativamente fácil. Por conta desta facilidade, muitas pessoas acabam se equivocando em medir distâncias apenas por tempo de caminhada em uma situação corriqueira. Com uma mochila carregada, o mesmo trajeto plano já fica mais complicado.

É até fácil afirmar que cada quilômetro percorrido terá a sensação de ter caminhado o dobro da distância.

Pois no caso de um trekking, no qual há trechos de descida, subida e planos, além de terrenos mais macios que a calçada e outros elementos como frio e vento, a iniciativa de utilizar apenas o tempo para medir distâncias é equivocada. Principalmente para quem é um principiante na atividade ou mesmo sequer conhece o lugar.

A menos que a pessoa esteja contando quantos passos esteja realizando, somando-os uma a um para ir medindo pouco a pouco a distância, o ideal é possuir uma estimativa visual do que é a distância que pretende-se caminhar. Além disso, saber noções básicas de orientação, ajuda a não equivocar-se nestas situações.

Pouca atenção com os arredores

Muitas pessoas gostam de realizar um trekking e simplesmente desligar o cérebro. Não prestar atenção em pequenos detalhes, ou mesmo animais, à sua volta é perigoso. A distração às vezes é tamanha, que parece a pessoa guarda o mesmo espírito de quando se passeia em um Shopping Center.

Este tipo de atitude faz com que cobras, onças e outros animais que possam atacar, passarem despercebidos. Além disso, até mesmo os pertences pessoais podem ser perdidos neste tipo de caminhada “com cérebro desligado”.

Praticar trekking é uma atividade contemplativa, imersiva e envolvente. Mas não deve ser uma atividade alienadora, na qual espera-se que nada vá acontecer. Deve-se estar atento a todo tipo de ocorrências.

Possuir um ego exacerbado

Se você possui uma vaidade muito exacerbada, acarretando em um ego que faz com que você imagine que sabe de tudo, é grande candidato a ser resgatado. Se costuma ser arrogante, esnobe, insolente, assoberbado, pedante e orgulhoso em um trekking, nem deveria ter saído de casa.

Cada trekking traz um aprendizado, que somente é absorvido por quem estiver com a cabeça aberta a isso. Quem acreditar que sabe mais que todos, não necessitando nunca de ajuda e que ninguém é mais forte que você, pode se considerar forte candidato a ser resgatado em uma emergência.

Muitas pessoas assim sofrem do Efeito Dunning-Kruger, que é o fenômeno pelo qual indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto, mas acreditam saber mais que outros que são bem preparados, sofrendo de uma espécie de superioridade ilusória. Pessoas que sofrem da síndrome de Dunning-Kruger são sempre aquelas que são resgatadas.

Subestimar terrenos desconhecidos

Foto: Freddy Duclerc

Existe uma grande diferença entre praticar trekking no estado que vive, na sua rota favorita, e praticar a mesma atividade em um local que nunca esteve. Este erro de julgamento pode fatalmente fazer com que se perca e necessite de resgate.

Caso você viaje para um lugar como, por exemplo, a Patagônia e está acostumado a praticar trekking em um local bem diferente de lá como, por exemplo, Serra do Papagaio. O terreno, o clima, o vento, a vegetação e outros aspectos locais serão totalmente diferentes. Exatamente por isso não devem ser subestimados.

Exatamente por isso que itens de necessidade básica em trekkings em locais desconhecidos são fundamentais, como GPS, bússola e um mapa da região.

Confiar demasiadamente em tecnologia

Atualmente a sociedade vive uma dependência muito grande dos aparelhos celulares. Alguns aparelhos parecem possuir todas as funcionalidades disponíveis e imprescindíveis ao homem moderno.

Porém, muitos destes aparelhos possuem algumas debilidades, como a dependência da carga de bateria, sinal de 3G/4G, aplicativos confiáveis e domínio da ferramenta.

Exatamente por isso que é importante qualquer praticante de trekking saber utilizar uma bússola ou mesmo ler um mapa topográfico. Se um aparelho de GPS nos coloca em perigo sinalizando caminhos em ruas de uma cidade, imagine então em uma área que a topografia do lugar é mais importante que o caminho mais rápido?

Por isso, é importante levar mapas confiáveis dentro da mochila e não improvisar com impressões improvisadas em locais suspeitos na internet.

Seguir qualquer trilha

Foto: Freddy Duclerc

Quando começa a seguir qualquer tipo de trilha, apenas porque está aberta, é pedir para perder-se.

Pois praticar trekking não é apenas seguir por uma trilha aberta, sem orientar-se por nada. Muitos animais de grande porte, como cavalos, vacas, onças, etc, podem caminhar por estes mesmos lugares (que muitas vezes não vão a lugar nenhum) fazendo com que praticantes de trekking se percam.

Então, quando você se encontrar em uma trilha que não leva a lugar algum, vire-se e procure por suas próprias pegadas. Verificar se há pegadas na trilha, também é uma maneira fácil de saber se seres humanos passaram por ali, e isso pode ajudá-lo a voltar para o caminho certo.

Ficar no escuro

Foto: Freddy Duclerc

Em quaisquer textos que abordem materiais básicos de trekking, todos eles abordam a importância de ter uma lanterna dentro da mochila. Ao sair de casa para qualquer atividade outdoor, é mandatório verificar se há uma lanterna ou headlamp na mochila e, claro, se ela está carregada.

Ficar em qualquer ambiente outdoor sem luz, é muito perigoso. Porque se estar em um ambiente estranho, perdido e sem noção do que fazer, imagine tudo isso sem poder também enxergar a um palmo do nariz?

Não interpretar previsão do tempo

Foto: Freddy Duclerc

Pode parecer inocente a afirmação, mas “previsão do tempo”, não é “garantia do tempo”. Todos sabem, mas não custa nada lembrar que muitas vezes a previsão do tempo pode falhar. Uma chuva não programada pode acontecer, uma neblina não prevista pode aparecer e um frio extremo pode fazer. Tudo isso sem nenhum aviso.

Exatamente por isso que cada item de sua mochila de trekking deve ser analisado cuidadosamente. Por este motivo que há tantas listas em tantos veículos relevantes sobre os equipamentos básicos de trekking. Pois são exatamente para isso: para prevenir-se de qualquer coisa não prevista.

Com a experiência, além de boa orientação, o praticante de trekking acaba aprendendo o que é essencial e o que é supérfluo no momento de carregar a mochila com itens de emergência para qualquer virada de tempo. O mesmo vale para a quantidade de comida. Recomenda-se a levar uma quantidade a mais, mas que não interfira no peso final da mochila pesadamente.

Querer descobrir um “atalho”

Foto: Freddy Duclerc

Este é mais um efeito da síndrome da superioridade ilusória de muitos praticantes de trekking. Existe um provérbio sueco que afirma que “atalhos fazem grandes atrasos”. Este ditado serve não somente para a vida, mas também para a prática de trekking. Tenha em mente que o atalho é o caminho que não deu certo.

Pode parecer uma afirmação de professor chato, mas geralmente há uma razão pela qual as trilhas e estradas seguem o mesmo caminho. Mesmo com todas as curvas e aparentes desvios e recuos que à primeira vista não tem sem sentido. Essas trilhas provavelmente evitam terrenos difíceis, áreas preservadas e outros lugares que não é lugar de um praticante de trekking ficar passeando.

O caminho natural de um trekking é sempre direcionado para o caminho que temos percorrer. O trekking para o inferno está pavimentado de boas intenções e atalhos.

Deixar a responsabilidade em casa

Foto: Freddy Duclerc

Alguns praticantes de trekking, experientes ou não, parecem esquecer a responsabilidade em casa. A sensação de liberdade de realizar um trekking é inegável. Mas liberdade significa responsabilidade e é por isso que tanta gente tem medo dela.

John Lennon já afirmava que é falta de responsabilidade esperar que alguém faça as coisas por nós, e esta é a realidade do trekking.

Quando aumenta a liberdade, aumenta a responsabilidade. Portanto, sair para o trekking acreditando que alguém tem de tomar conta de você, coletando seu lixo, resgatando-o quando se perde ou carregando seu peso quando se equivoca ao montar a mochila, é esquecer de todas as suas responsabilidades.

Mesmo quando estiver em grupo, fique junto, mesmo quando alguém o irritar ou tentar brigar. Você é mais vulnerável sozinho e mais propenso a se perder.

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