Relato: O free solo na via ‘Passagem dos Olhos’

Por Rafael Sales Vilar

Eu vejo a escalada, em geral, como um esporte abstrato.

Cada pessoa busca a escalada por um motivo particular, seja ele qual for. Mas não podemos imaginar o que estamos prestes a vivenciar, principalmente porque cada pessoa irá interpretar de uma forma a sua experiência com a escalada, baseado nas emoções e sentimentos despertados durante a atividade.

O fato é que: cada pessoa tem seus motivos pessoais e únicos para continuar escalando.

Baseado na minha vivência e nos meus motivos, vou compartilhar minha experiência durante o processo da escalada free solo na via ‘Passagem dos Olhos’, Pedra da Gávea – RJ.

Eu sempre gostei de assistir os filmes e vídeos de escaladas free solo, achava admirável, mas não tinha a menor vontade de fazer algo do tipo. Mas, de repente algo me chamou atenção, sabe?! Aqueles vídeos que eu assistia com naturalidade, começaram a despertar algumas emoções diferentes em mim.

Em sentido figurado, eu penso que é como um convite da montanha… Que não chega para todas as pessoas, e quando chega, nós não somos obrigados a aceitar.

Foi a minha primeira escalada free solo, para isso escolhi uma via que eu gosto, respeito e me sinto confortável. Dessa forma eu conseguiria aproveitar o máximo da escalada, sem me preocupar com fatores externos. Apenas escalar e me divertir. Lembrando que esses são os meus motivos, cada pessoa tem os seus.

A via ‘Passagem dos Olhos’

A ‘passagem dos olhos’ é uma via que possui uma enfiada vertical de 35 metros e 3 horizontais até o olho direito do imperador, que totalizam aproximadamente 75 metros de escalada horizontal. Depois existe um lance de cabo de aço que leva até a orelha.

Minha opção foi levar uma mochila para deixar na primeira parada da via e seguir para as horizontais sem peso, depois eu voltaria escalando para acessar a mochila e faria o rapel de volta para a base.

Durante a trilha de acesso, estava ventando muito e confesso que fiquei com medo de qual seria minha reação ao sentir o vento na parede.

Felizmente deu tudo certo e minha experiência foi incrível, realizei todo o percurso com um nível de concentração e conexão que eu nunca tinha experimentado antes, o vento que me preocupava, acabou tornando tudo ainda mais divertido.

Não existiam preocupações, apenas o momento presente, um passo de cada vez e tudo conectado.

Tem algumas dúvidas pertinentes sobre esse tema que são:

  • “Você ficou com medo de estar solto?”
  • “Em algum momento você achou que poderia cair?”

Tem uma frase da Catherine Destivelle, que diz:

“Without a rope there is no fear because to fall is unthinkable.”

Sobre compartilhar esse tipo de conteúdo, sei que é um tema um pouco delicado. Muita gente fala que é perigoso e pode influenciar pessoas a arriscarem suas vidas nessa modalidade. Não é essa a ideia, mas onde eu cresci, pessoas arriscam suas vidas diariamente, e quem dera fosse praticando um esporte.

Influenciar pessoas a praticarem um esporte, nunca será uma influência negativa.

Rafael Sales Vilar, 27 anos, é escalador e guia e instrutor de escalada. Reside em Nova Iguaçu – RJ.

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