Reflexões sobre Dean Potter – Quem está louco?

Recentemente, Dean Potter morreu praticando Base Jumping, um esporte que envolve pular de precipícios com um paraquedas, sem paraquedas reserva. Um erro durante a queda livre ou ao empacotar o paraquedas pode te matar.

Ele também era conhecido por realizar escaladas em solo livre e solar na slackline sem corda de segurança. Estes esportes de risco podem parecer loucura.

Aliás, muitas pessoas não hesitam em dizer “isso é loucura” sobre o que Dean fez.

Foto: http://blog.stonemonkey.co/

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Uma parte importante do material do Caminho do Guerreiro é que nós sabemos algo quando nós temos a experiência, não apenas quando pensamos sobre esse algo. O pensamento constituiu a parte intelectual do conhecimento. Realizar uma atividade muda o conhecimento intelectual para o conhecimento experimental.

Quando as pessoas de fora observam uma atividade como o Base jump, escalada em solo, ou até mesmo escalada em rocha, eles observam desde uma perspectiva de conhecimento intelectual apenas.

Quanto mais fora algo está da nossa zona de conforto, menos conhecimento temos, e mais o julgaremos como loucura. Igualmente, quanto mais próximo algo está da nossa zona de conforto, mais conhecimento temos e teremos menos tendências a julgá-lo como loucura. O Base jump estava próximo à zona de conforto do Dean; ele não o julgava como loucura.

Então, quem está louco de fato aqui? Rotular algo que não temos conhecimento como loucura é loucura. Quem está de fora é louco, não o participante da atividade. A mente é responsável por esta tendência.

Ela nos engana.

A mente teme o estresse e procura formas para justificar a permanência na zona de conforto. Quando ela vê outras pessoas realizando atividades desafiadoras ela tem que se proteger. A mente faz isto criticando os outros e rotulando o que elas fazem como loucura.

Foto: http://deanpotter.com

Foto: http://deanpotter.com

A mente é doentia. Ela precisa aprender para tratar sua doença. Mas, ao invés de focar em sua própria aprendizagem, a mente se esconde em sua zona de conforto e cospe suas opiniões sobre porque os outros não deveriam estar vivendo as vidas que eles escolheram viver.

A mente tem inveja do que os outros realizaram e tem medo de que ela não consiga fazer o mesmo.

A mente também tem dificuldade com a morte. Ela vê uma vida longa como mais valiosa do que uma vida curta, mesmo se essa vida longa é vivida com medo e sem significância. O escalador em solo Michael Reardon costumava dizer que os escaladores em solo têm um desejo de vida, não um desejo de morte.

A escalada em solo os coloca na beira da vida e da morte, desloca sua atenção para o momento presente, fazendo com que eles se sintam mais vivos. Eles querem viver, não morrer. Mas eles querem viver a vida o mais plenamente possível.

Uma objeção que as pessoas de fora tem com as atividades como Base Jump e escalada em solo é o impacto que a morte tem nos que ficaram para trás, os amigos e a família. É fácil dizer que não se deve escalar em solo porque se pode morrer ao cair.

Mas existem muitas pessoas que pensam que não deveríamos escalar porque eles não entendem as verdadeiras consequências da escalada.

Podemos regredir e ficar em nossas casas e não se aventurar fora por causa do nosso medo da morte. É tudo uma questão de grau. Onde traçamos a linha sobre o que é muito arriscado e quem deve traçar essa linha?

As melhores pessoas para determinar o que é arriscado demais e aonde traçar essa linha são as pessoas que participam da atividade. Eles traçam essa linha baseado em seu conhecimento experimental e eles sabem o que é mais apropriado para eles mais do que outras pessoas.

Quem está de fora quer traçar essa linha baseado nos medos da mente e em sua falta de conhecimento.

Precisamos prestar atenção para nosso processo de aprendizagem. Se fazemos isto, então poderemos aprender mais sobre porque tememos a morte, como tomar riscos apropriados, e as tendências da mente de nos enganar.

Não queremos ninguém interferindo em nosso processo de aprendizagem, então não devemos interferir com o processo de aprendizagem dos outros.

Dean não estava louco; ele escolheu viver sua vida plenamente.

Dica prática: Por que eu acho que é loucura?

Existem várias coisas que as pessoas fazem que parecem loucura para nós. Não precisa ser algo extremo como Base jump ou escalada em solo. Pode ser o que alguém come ou lidar com o trânsito cada dia indo para o trabalho.

Enxergar tais coisas podem fazer com que nós digamos: “isso é loucura.” Lembre-se, a mente é doentia. Perceba-se quando você diz “isso é loucura” e desloque sua atenção para o seu próprio processo de aprendizagem.

Pergunte-se: “Por que eu acho que é loucura?”

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O livro “The Rock Warrior Way – Mental Training for Climbing” está à venda traduzido para a língua portuguesa no Brasil em: http://www.companhiadaescalada.com.br/

Tradução do original em inglês: Gabriel Veloso

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