Redes Sociais x Montanhismo – Não é só para inglês ver

Você já parou para pensar o quanto perfis de Instagram, canais do YouTube, blogs e outros projetos virtuais, principalmente, os de viagens e estilo de vida nos influenciam? Por outro lado, quantos desses são de fato tangíveis e próximos da nossa realidade? No caso das iniciativas que visam divulgar o universo outdoor, percebe-se um esforço maior nessa relação de trocas e acessibilidade.

Dicas de roteiros (como chegar lá), informações sobre uso de equipamentos e a própria experiência dos administradores dessas ferramentas têm servido para motivar novos praticantes e engajar os aventureiros mais experientes a uma execução mais consciente e segura das práticas esportivas ao ar livre. É com base nessas perspectivas, que se propõe aqui uma reflexão sobre o papel dos “influenciadores digitais”, para a produção de conteúdo, que tem tornado a modalidade mais acessível, tendo como foco perfis do Instagram voltados ao público feminino.

Mulheres na Trilha, durante a travessia Marins X Itaguaré – crédito Maicon Souza

Resenha Delas

O Mulheres na Trilha já nasceu com essa proposta de compartilhar informações sobre o hiking e o trekking para tornar a prática mais acessível. Na contramão da rede social que é altamente visual, ou seja, conteúdo baseado em fotos e vídeos curtos, minha aposta foi desenvolver um perfil no Instagram com cara de blog: editorias e legendas mais extensas. E tem dado certo. Os posts são feitos de forma colaborativa: as seguidoras participam enviando dicas e roteiros.

As meninas do Divas Trilheiras – Cris Campos, Denise Fernandez e Soraya Aline – e a responsável pelo perfil Mulheres que EscalamBia Carvalho – apostam nos reposts das seguidoras para divulgar roteiros de trilha, rapel e escalada.

Já as administradoras do Mochilando com Elas – Anazélia Tedesco, Dani Faria, Laura Sette Mariana Bernardes, Stephanie Vidigal, Thaís Tovar – compartilham suas experiências no universo outdoor, para fomentar a prática.

Divas Trilheiras – Crédito arquivo pessoal

Oportunidades

Independente do estilo adotado, o Instagram é uma importante ferramenta de relacionamento e networking. O canal conecta pessoas sem se preocupar com distância geográfica, crença ou idade.

Além disso, perfis que trabalham com nichos tão específicos, como é o caso dos que foram abordados aqui: mulheres praticantes de atividade outdoor, têm grande poder de influência sobre seus públicos. São conteúdos que motivam, inspiram e instigam os seguidores.

Riscos

Por outro lado, é preciso se conscientizar sobre as responsabilidades que o processo de comunicar para grandes públicos envolve. Em junho deste ano, participei de uma palestra com a temática “Turistificação do Montanhismo”, ministrada pelo montanhista e especialista em Gestão de Riscos em Turismo de Aventura Rapha Raine, a convite do Centro de Excursionista Mineiro.

O encontro foi uma oportunidade de refletir sobre os comportamentos que adotamos neste contexto de informar via rede social. E a grande lição aprendida foi: não compartilhar situações que possam trazer algum impacto negativo para a prática, tais como: fotos em locais em que a visitação não é permitida, imagens que expõem pessoas a riscos (beira de abismos e cachoeiras, por exemplo), registros de fogueiras ou algum tipo de degradação ambiental, entre outras.

Mochilando com Elas – Crédito arquivo pessoal

Conectadas e conscientes

“Evitamos exposição excessiva do corpo feminino, posts que envolvam algum tipo de modificação ou depredação da natureza. Não publicamos fotos que tenham alguma menção discriminatória de cor, sexo, religião, condição social etc. Evitamos também publicações de imagens em lugares proibidos ou em poses nas quais as pessoas possam estar arriscando suas vidas por uma foto.

A partir do momento que postamos coisas assim, nossos seguidores podem estar sendo influenciados a repetir e propagar práticas com as quais não concordamos”, destaca as meninas do Divas Trilheiras.

Dani Faria, uma das administradoras do Mochilando com Elas, se solidariza com esse posicionamento. “Estamos contribuindo para fomentar a cultura do trekking consciente, com esse foco no público feminino. Por isso, não postamos imagens de trilhas em locais proibidos ou que exponham pessoas a riscos. É preciso ter responsabilidade para passar informação”, completa ela.

No Mulheres na Trilha e até no meu perfil pessoal (@fabianasenna_) procuro reforçar a importância do planejamento, como ferramenta para minimizar os riscos. Não subestimar a montanha é regra de ouro para uma relação harmoniosa entre o praticante e o meio.

Bia Carvalho (Mulheres que Escalam)

Iniciativas que também seguem como referência para a modalidade como Mulheres que Escalam (já citado aqui), o Trilheiras do Brasil, o Mulheres na Natureza, o Mochila de Baton e outras compartilham dessa postura de se atentar ao conteúdo publicado. Sem dúvida, são projetos que extrapolam o universo digital e propõem trocas que agregam valor ao montanhismo nacional. Têm servido, inclusive, como exemplo para outros projetos que vem surgindo, nessa mesma pegada de tornar a prática mais acessível.

Sabe aquele sonho de subir uma montanha, tomar um banho gelado de cachoeira ou contemplar o pôr do sol, em meio à natureza? É bem possível! É isso que a gente comunica: podemos superar os medos juntas. A informação é um caminho para isso acontecer. Consciência virtual, montanhismo real. #TamuJuntas

Foto no topo: Fabiana Senna (Mulheres na Trilha) e Mariana Bernardis (Mochilando com Elas), durante a travessia MarinsXItaguaré

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