Escrito por Alex da Silva Araujo
Talvez a criança mais jovem a chegar no cume do Dedo de Deus (1.675 m)? Esse é o Rafinha, com apenas 5 anos de idade. O Dedo de Deus é a montanha escolhida como símbolo do montanhismo nacional.
Num dia de escalada normal, há pouco mais de três meses, durante uma conversa com o Helton (escalador de longa data e pai do menino Rafinha), ele me disse que tinha o sonho de levar o Rafinha até o cume do Dedo de Deus. Helton mal terminou de falar e eu já disse que estava dentro!
Então ele me falou que já havia conversado sobre isso com outro amigo nosso, o Nei. Na logística, que ele já havia pensado, seriam necessários três adultos escaladores, para superar a trilha e a exposição da Maria Cebola (diedro quase horizontal, em forma de rampa, com 10 metros de extensão e inclinada para fora) e chaminés junto com uma criança de cinco anos.
Primeiramente era preciso avaliar como faríamos tudo isso. Isso porque já fazia muito tempo que o Helton subiu o Dedo de Deus, assim como o Nei. Para isso programamos uma data para irmos escalar o Dedo de Deus antes de levar o Rafinha. Essa foi a primeira vez que escalei o Dedo e a segunda vez do Helton e do Nei.
Na subida ao Dedo de Deus há vários lances em chaminés, diedros, aderência e todos exigem muita técnica de escalada, não somente força. O escalador deve dominar escaladas de 4º grau. Parece fácil, mas todos devem entender que este “escalar 4º grau” consiste não só em agarras, mas também em aderência, diedros e chaminés.
Depois de concluída essa avaliação, marcamos o dia para levá-lo: 30 dias depois da escalada prévia. Então na sexta-feira, dia 06/07/2018, saímos de São Paulo à tarde e chegamos ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos de madrugada. Para o pernoite, acampamos no estacionamento do restaurante.
Já no dia seguinte, às 6:00 da manhã, estávamos de pé e desmontando o acampamento. Logo mais às 7:00 começamos a trilha.
A escalada no Dedo de Deus
Rafinha subiu tranquilamente a maior parte da trilha. Foram poucos os momentos que foi necessário ajudá-lo. Como toda criança com 5 anos de idade, tem muito gás (risos). Nos cabos de aço fizemos sua segurança com a corda, mas ele foi subindo segurando nos cabos de aço. Chegamos no pé da via às 10:00 (após pouco mais de 3 horas de trilha) e começamos a subir.
Nas partes mais fáceis Rafinha subiu sozinho, mas em outras partes Helton o ajudava escalando ao seu lado. Na Maria Cebola, Helton subiu ao lado dele com o Nei dando segurança em “A”. Nesta técnica foi utilizando reverso e da cadeirinha do Rafinha havia uma outra corda que estava atada até a mim. Eu estava na base da Maria Cebola, para evitar qualquer risco de pêndulo do Rafinha como visto na foto acima. Nas chaminés, por causa da sua altura, nós o puxamos pela corda. Sempre com o Helton, que era o pai da criança, ao lado dele.
Na Maria cebola o Rafinha sentiu medo, então o Helton o pegou no colo e disse:
– Está vendo aquelas nuvens? Nelas tem anjos que estão nos protegendo.
Com essas palavras o Rafinha se tranquilizou, abriu um sorriso lindo e seguiu escalando rumo ao topo.
Em alguns momentos o cansaço batia nele. Então o motivávamos dizendo que iríamos passar pela chaminé do Papai Noel, ou que lá em cima tinha o livro dos segredos. Neste livro, chegando lá, ele poderia escrever o nome dele.
Ao chegar à escada para o cume, Rafinha estava super ansioso para ver o “livro dos segredos”. Ele, inclusive, não se importou com a altura e o balanço da escada. Sua alegria foi tocante, juntamente com a emoção do Helton ao ver que conseguimos realizar seu sonho!
No vídeo a abaixo Rafinha está escrevendo seu nome e as coisas que mais gosta. Ele contou com a ajuda do pai que soletrava as letras para ele.
Fizemos o rapel pela via Texeira. Rafinha não demonstrou medo da altura em nenhum momento. O motivo desta confiança é que o Helton já fez rapel e escalou com ele algumas vezes. Ao chegar à trilha, já estava escuro, então, para agilizar a descida, o coloquei na cadeirinha nas minhas costas e fui na frente. Enquanto descia com Rafinha, Helton e Nei desmontavam o rapel que usamos nos cabos de aço.
Fomos conversando durante o caminho, mas às vezes Rafinha ficava quietinho demais e então percebia que estava dormindo (risos). Ele estava bem cansado.
Chegamos de volta no estacionamento ás 19:00 e voltamos para São Paulo. Para o Rafinha esta foi a primeira de muitas grandes aventuras que virão por aí!
Ainda mais com um pai escalador como o Helton. Eu como testemunha ocular da história espero estar presente em todas elas, pois foi uma experiência inesquecível para todos nós.
Parabéns pela escalada! Certamente ficará marcado na memória dele para sempre! Para frente e para o alto! Montanha!!!
Parabéns! Rafinha, Alex, Helton e Nei. Linda conquista.
Fantástico!
Uma aventura que ficará gravada pra sempre na memória do Rafinha!
Parabéns