Que tipo de pensadores queremos ser? Que tal pensar no máximo de ideias loucas e agir sobre elas

Burt Rutan era um engenheiro aeroespacial que teve uma ideia revolucionária em 1994: construir um cruzeiro espacial reutilizável com fundos privados. Isso foi antes do SpaceX e tudo o que aconteceu na arena privada na última década, uma época em que a NASA liderou a exploração espacial dos Estados Unidos. Sua ideia parecia louca na época, mas Burt sabia algo sobre ideias. Ele disse que “as ideias revolucionárias vêm de bobagem.

Se uma ideia é verdadeiramente um avanço revolucionário, no dia antes dela surgir ela deve ter sido considerada louca ou sem sentido ou ambos – caso contrário, não seria uma revolução”. Finalmente, dez anos depois, em 2004, a ideia louca de Burt criou uma revolução. Ele construiu a SpaceShipOne com fundos privados. Voou para o espaço, voltou para a Terra e voltou ao espaço dentro de um período de duas semanas, usando 80% do hardware original do veículo.

O livro Abundance descreve pensadores loucos para fazer um caso sobre um futuro abundante para o mundo. Os autores dizem que algumas ideias são loucas e não funcionam. Mas isso não significa que elas não deveriam ocorrer. Em vez disso, elas são necessárias para chegar a ideias que realmente funcionam. Algumas ideias loucas serão falhas; algumas terão sucesso. Nunca saberemos de antemão quais serão.

Os autores dizem que a maioria das pessoas não são tais pensadoras. Pelo contrário, são dois outros tipos de pensadores. Os pensadores do tipo 1 têm medo de erros. Eles vêm o fracasso como vergonhoso, então eles são avessos ao risco. Os pensadores de Tipo 2 temem perder as oportunidades. O que é vergonhoso para eles é deixar os outros ganharem a glória de uma nova ideia enquanto eles saem perdendo. Eles temem a perda de reputação. Os autores sugerem que é melhor ser como os pensadores do tipo 2 porque aproveitar as oportunidades cria mais abundância no mundo.

No entanto, ambos os tipos de pensadores estão baseados no medo, com resultados ligados à sua identidade e valor. Eles se sentem com valor quando têm sucesso, porque têm evidências para provar isso. Da mesma forma, quando eles falham, eles têm evidências para provar que são falhas.

Nenhum desses tipos valoriza a luta e o esforço. Eu sugiro que possamos adicionar pensadores de tipo 3, aqueles que não temem o fracasso ou não temem perder as oportunidades. Os pensadores de tipo 3 não precisam de evidências para provar seu valor. Eles separam o que sentem sobre si mesmos dos resultados que eles criam. Eles baseiam no amor as suas abordagens para novas ideias. Sem se preocupar em cometer erros ou proteger sua reputação, eles podem relaxar no momento estressante e permanecer curiosos sobre o que encontrarão lá.

Os pensadores do tipo 1 raramente se empolgam com a escalada. Eles pensam que errar os desvaloriza, portanto eles se protegem implacavelmente. O medo os mantém em suas zonas de conforto e eles não progridem. Os pensadores de tipo 2 vão além de seus limites para que possam aproveitar as oportunidades antes que outros o façam. O medo os leva a competir com os outros. Todo o processo de escalada torna-se um fim para obter provas de seu valor e proteger sua reputação.

Os pensadores de tipo 3 não estão preocupados em cometer erros, perder as oportunidades ou proteger suas reputações. Eles têm ideias loucas e depois as colocam em ação, às vezes falhando e às vezes criando avanços que impulsionam nosso esporte.

Foto: http://fcorpet.free.fr/

Escaladoras como Lynn Hill, que escalaram em livre o Nose de El Capitan em Yosemite, na Califórnia, são exemplos de pensador tipo 3. Ela levou vários dias para atingir seu objetivo. Outras vias em El Cap tinham sido escaladas em livre em investidas de vários dias, então Lynn não era incomum. O que era incomum era que ela era uma mulher. Os homens não esperavam que uma mulher fosse escalar em livre o Nose. Então, Lynn teve uma ideia louca de subir o nariz em um dia, que ela conseguiu um ano depois. Agora, muitos escaladores escalaram vias no El Cap em um dia, seguindo a liderança de Lynn.

Tony Yaniro é outro exemplo de um pensador tipo 3. Ele estabeleceu a Grand Illusion (9c), uma via tradicional difícil na Califórnia, que foi quase um grau inteiro a mais do que outras vias estabelecidas na época. Tony teve uma ideia louca sobre treinamento. Ele criou máquinas de fenda para que ele pudesse praticar em casa e foi criticado por “treinar demais”. Agora, os escaladores vêm a importância do treino e seguem sua liderança.

Patente de um Friend

Outro exemplo de um pensador tipo 3 é Ray Jardine. Ele inventou os dispositivos Camming e a tática de “Hang-dog” (pendurar na costura) na década de 1970. Ray era um engenheiro que tinha ideias loucas sobre proteger fendas de novas maneiras. Ele criou dispositivos com mola (friends) que expandiam em fendas, tornando-as mais fáceis de proteger. Ele também teve uma ideia louca sobre malhar vias de escalada para livra-las. Os escaladores costumavam descer ao chão depois de cada queda na década de 1970. Ray desenvolveu uma tática, agora conhecida como hang-dogging, que seria se puxar na corda depois de uma queda para que ele pudesse continuar trabalhando na via. Então ele levou sua tática de Friends e Hang-dog para a difícil escalada de fendas chamada Phoenix, escalando-a em 1977; um dos primeiros 9 grau em Yosemite.

Que tipo de pensadores queremos ser? Eu incentivaria todos nós a pensar no máximo de ideias loucas quanto pudermos e agir sobre elas. Algumas serão fracassos e algumas, avanços. Não podemos ter os avanços sem as falhas. Se pudermos eliminar o medo do fracasso e o medo de uma reputação diminuída, podemos adorar a luta de transformar ideias loucas em avanços. Isso parece muito mais divertido.

Dica prática: pense divergentemente: pense convergentemente

Pense divergentemente para determinar a amplitude do problema, e então pense de forma convergente para levar essas ideias para um plano inovador.

1. Pensamento divergente: defina o problema. Observe todas as questões, obstáculos e oportunidades inter-relacionados associados a ele. É válido ter ideias loucas. Exemplo: confiança em competições.

  • Defina: eu não tenho confiança quando eu escalo em competições.
  • Problemas: não gosto de escalar na frente dos outros; sinto que os outros esperam que eu tenha uma boa performance e tenho medo de não o fazer; A pressão da concorrência me deixa com medo de falhar; não tenho certeza se vou estar preparado mentalmente.
  • Obstáculos: falta de força mental para manter a calma.
  • Oportunidades: Aprender como as expectativas, a falha e a pressão podem tornar-me um concorrente melhor.

2. Pensamento convergente: encontre formas de integrar e sintetizar as informações que você descobriu acima em um plano claro que pode criar um avanço.

  • Plano: Saiba exatamente quais são as tarefas na escalada; saiba exatamente no que é preciso focar para executar essas tarefas de forma adequada; pratique concentrar a atenção nessas tarefas.

1-WarriorsWaylogo_

O livro “The Rock Warrior Way – Mental Training for Climbing” está à venda traduzido para a língua portuguesa no Brasil em: http://www.companhiadaescalada.com.br/

Tradução do original em inglês: Gabriel Veloso

Comente agora direto conosco

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.