Quanto custa uma escalada de alta montanha para iniciantes?

Muitas pessoas me perguntam se uma escalada de alta montanha custa caro ou se é realmente necessário adquirir determinados equipamentos. Escrevo para vocês um artigo bem detalhado à respeito deste assunto.

Inicialmente, entendam que cada montanha é única e os equipamentos utilizados podem variar bastante em decorrência de clima, tipos de relevo ou formas de aproximação até a montanha.

O período que pretende permanecer na montanha e a infraestrutura lá existente também influenciam no custo total de uma expedição deste nível.

Para escalar o Everest por exemplo, um montanhista pode chegar a desembolsar valores entre US$ 50.000 (da forma mais básica possível) até US$ 120.000 entre passagens, permissos, logística, sherpas e equipamentos.

Mas não se assustem com esses valores, o Everest é uma exceção e cobra por sua popularidade, em outras partes do mundo e até mesmo nos Andes podemos encontrar diversos destinos de alta montanha por preços muito mais modestos.

PROVISÕES GERAIS

Antes de se aventurarem por montanhas geladas, vejam algumas provisões importantes que devem ser tomadas ainda no Brasil:

1- Adquira um seguro internacional que cubra esportes outdoor (recomendo o www.worldnomads.com). Ele não só assegura você em caso de acidentes graves como presta assistência em caso de emergências médicas menores, consultas ao dentista ou extravio de bagagem. Custa US$ 60 por duas semanas de seguro.

2- Renove seus documentos e passaporte. Mesmo para viagens a países do Mercosul, prefira utilizar o passaporte ao invés do RG, em algumas fronteiras como Bolívia/Peru os agentes costumam dificultar o acesso de viajantes mal informados (que portam apenas o RG) para tentarem algum tipo de propina. Caso já tenha carimbos do país no passaporte, os oficiais federais costumam ser menos rigorosos.

3- Apesar de não ser mais obrigatório para alguns países, a ANVISA ainda recomenda que viajantes com destino a África ou países da América Latina que tomem a vacina para febre amarela e portem o certificado internacional de vacinação, expedido pela própria ANVISA.

4- Faça uma cópia de todos os seus documentos e armazene em uma conta de e-mail ou disco virtual. Armazene também as apólices do seguro de vida, seus voos, itinerários e telefones das embaixadas mais próximas e das operadoras de cartão de crédito. Em caso de perda, ou furto, terá esses dados sempre em mãos.

5- Por último e não menos importante, deixe um cronograma preciso da sua localização com parentes próximos, incluindo os telefones dos hotéis e dias que será possível o contato com familiares. É comum em alta montanha o viajante ficar mais de 10 dias sem comunicação com a família e é importante que estejam cientes disso. Uma outra alternativa (mais cara) é adquirir um localizador GPS como o Spot.

O aparelho custa R$ 529 e por mais R$ 229 anualmente você tem uma cobertura via satélite em qualquer lugar do mundo para informar sua localização ou solicitar resgate em caso de emergência.

VESTIMENTAS

Uma expedição de alta montanha exige inicialmente um investimento razoável em equipamentos técnicos e roupas próprias para baixas temperaturas.

Por serem utilizadas em quase todas as ocasiões, vale um bom investimento nestes itens.

Talvez já possua em seu armário peças como conjuntos de underwear ou um anoraque de Gore-Tex que possam ser aproveitados, mas convém uma consulta com um montanhista mais experiente, não pense que aquela luva de couro com lã que comprou em Campos do Jordão vai servir para alta montanha…

O conjunto de roupas para alta montanha é composto por um sistema de camadas que podem variar de 02 a 05 camadas de acordo com sua preferência. Os preços abaixo seguem a média dos produtos no mercado internacional e de marcas renomadas como Marmot, The North Face, Patagonia, Mountain Hardwear e Columbia.

No Brasil encontramos poucas opções com qualidade e preços competitivos, convém pesquisar.

Vamos ao checklist :

  • Tronco
    • Segunda pele/Base layer leve: US$ 30,00
    • Segunda pele/Base layer Polartec: US$ 45,00
    • Jaqueta de Polartec ou “fleece”: US$ 149,00
    • Jaqueta de pluma de ganso: US$ 259,00
    • Anorak impermeável: US$ 350,00
  • Pernas
    • Segunda pele/Base layer leve: US$ 28,00
    • Segunda pele/Base layer Polartec: US$ 40,00
    • Calça de fleece ou Polartec®: US$ 75,00
    • Calça impermeável*: US$ 95,00
    • Polainas de neve: US$ 70,00

*Algumas optam por calça de snowboard ou modelos com suspensórios (salopetes), vai da preferência de cada um.

Cabeça

  • Balaclava: US$ 30,00
  • Goggles de neve fator 4: US$ 115,00
  • Óculos de neve fator 4: US$ 129,00
  • Gorro de Polartec® ou similar: US$ 25,00
  • Gorro/bandana do tipo Buff: US$ 15,00

Aqui fica uma opinião minha. Particularmente prefiro o conjunto balaclava+goggles por ser muito mais confortável e por proteger 100% do rosto e pescoço da radiação solar, caso prefira um conjunto mais leve e opte pelos óculos, considere o protetor solar (FPS 60) o seu melhor amigo!

A bandana tipo Buff também é muito versátil na cidade e na montanha, vale o investimento.

Obs: tenha sempre óculos de Sol de reserva!

  • Pés
    • Meias grossas de merino (Smartwool, Fox River, Lorpen) para alta montanha: US$35,00 o par.
    • Meias intermediárias para trekking e aproximação: US$ 22,00 o par.
    • Meias liner (base layer): US$ 10,00 o par.
    • Bota de trekking impermeável (Asolo, Scarpa, Vasque, Salomon): US$ 235,00
    • Bota dupla ou bota de couro para alta montanha (Asolo, Koflach, Scarpa, La Esportiva): US$ 390,00
  • Mãos
    • Par de luvas “liner” ou segunda pele: US$ 28,00
    • Par de luvas Windstopper®, Polartec ou fleece: US$ 52,00
    • Par de luvas impermeáveis ou de Goretex: US$ 90,00
    • Par de luvas mitten, (shell): US$ 115,00

A lista é extensa, mas estas roupas podem ser adquiridas aos poucos e algumas até mesmo alugadas no país destino. Para algumas montanhas menos frias, e abaixo dos 6.000 metros podemos excluir ou ajustar alguns desses itens, mas convém consultar um especialista.

Procure adquirir principalmente boas luvas, meias e calçados apropriados. As extremidades das mão e pés são as partes mais vulneráveis em baixas altitudes.

Agora que já falamos de vestimentas, vamos aos custos de outros equipamentos essenciais:

  • Equipamentos
    • Barraca pequena 4 estações: US$ 550,00
    • Bastões de trekking (par): US$ 80,00
    • Cadeirinha de escalada: US$ 90,00
    • Corda de escalada (60 m): US$ 229,00
    • Cordeletes (10 metros 6 mm): US$ 10,00
    • Canivete multiuso: US$ 39,00
    • Capacete: US$ 72,00
    • Comida liofilizada: indefinido
    • Conjunto de costuras de escalada: US$ 94,00
    • Crampons: US$ 149,00
    • Estacas de neve (2 un.): US$ 48,00
    • Fita expressa de escalada ou 2 metros de fita tubular. US$ 10,00
    • Fogareiro MSR: US$ 149,00
    • Freio ATC: US$ 30,00
    • Headlamp: US$ 75,00
    • Isolante térmico (eva/espuma): US$ 29,00
    • Isolante térmico inflável: US$ 60,00
    • Mochila Cargueira (70l): US$ 219,00
    • Mochila de ataque (30l): US$ 120,00
    • Mochila marinheira (100l): US$ 100,00
    • Mosquetões sem trava (4un.): US$ 80,00
    • Mosquetões com trava (2un.): US$ 60,00
    • Panelas e talheres de camping: US$ 46,00
    • Parafusos de gelo (jogo): US$ 160,00
    • Porta Parafusos – US$ 30,00
    • Piolet de marcha: US$ 180,00
    • Proteções plásticas para ponta de piolet US$ 12,00
    • Piolet técnico* (o par, caso necessário): US$ 560,00
    • Saco de dormir de duvet: US$ 479,00

Enfim, estes são equipamentos essenciais. Ainda poderíamos inserir nesta lista, diversos itens como equipamento de GPS, pilhas, silver tape, daisy-chain, primeiros-socorros, garrafa térmica, hand warmers e outros mais.

Como mencionei acima, cada montanha é única e em algumas delas o uso de crampons e piolets por exemplo é desnecessário. É preciso pesquisar bastante e se planejar antes de seguir viagem.

Outra possibilidade muito comum é contratar a estrutura de acampamento base com uma agência local, isso exclui a sua necessidade de providenciar utensílios de camping e alimentação por exemplo.

Em algumas montanhas mais populares como o Aconcágua esta opção é viável, já em outras como o Denali no Alasca, esta “terceirização” não é possível.

MAS AFINAL, QUANTO CUSTA ESSA BRINCADEIRA?

Desconsiderando os custos para aquisição de equipamentos, uma expedição para montanhas ou vulcões da América do Sul (como o Illimani, Huayna Potosi, Sajama, Pequeno Alpamayo, Chimborazo, Cotopaxi, Illampu, Parinacota etc) custa aproximadamente U$50/dia + passagens e encargos de infraestrutura que talvez precise contratar como: guias, transfer até o acampamento base, mulas e permissos.

Uma expedição de 7 dias para ascensão do Huayna Potosi, por exemplo, custa aproximadamente US$ 850,00 ao todo, somando passagens e serviços locais. Caso pretenda contratar guias, cozinheiros, porteadores e outros serviços, os custos aumentam.

Um bom guia nos andes lhe cobrarará aproximadamente US$ 130/dia pelos seus serviços. Porteadores e cozinheiros cobram menos, algo em torno de US$ 60/dia.

Já uma expedição de 20 dias ao cume do Aconcágua, por exemplo, custa aproximadamente US$ 4.500,00 + passagens. Custos que podem variar bastante como mencionado anteriormente.

Conheci montanhistas que fizeram toda a aproximação até o acampamento base de Plaza de Mulas economizando ao não alugar animais para transportar parte do equipamento ou comendo alimentos mais baratos. Considero uma economia desnecessária e diria até irresponsável, mas enfim…

A soma das roupas e equipamentos pode assustar de início: chega facilmente a R$ 12.000,00!

Mas entenda que é um custo para começar do zero e com equipamentos novos.

Geralmente eles são adquiridos aos poucos ou são alugados, até que consiga comprar todos, ou quem sabe, seja agraciado por algum bondoso patrocinador. Uma estratégia legal é ir adquirindo os equipamentos conforme sua experiência e interesse por alta montanha for crescendo.

No entanto, nunca (NUNCA!) subestime a força da natureza e das montanhas.

Imprevistos sempre ocorrem na montanha e você precisa estar minimamente equipado para lidar com adversidades como um crampon quebrado (como presenciei recentemente) ou um white-out durante a travessia de um glaciar.

Acima de qualquer investimento financeiro, é importante lembrar o quanto somos diminutos diante das montanhas e que não adianta persistir em subir quando tudo manda você descer.

Seus equipamentos não lhe conferem superpoderes, apenas oferecem condições adequadas para que possamos apreciar, parafraseando Messner, “as belezas que só estão ao alcance dos mais ousados”.

There are 11 comments

  1. Elias

    Muito bom que algumas pessoas compartilhem seu conhecimento e experiência de forma tão simples e elucidativa. Ver a montanha pela tv ou internet passa essa ideia de que eu tb posso, eu tb quero, mas somos realmente insignificantes diante da força e dos desafios da natureza, ou seja, não só a estimativa das despesas, mas as dicas e a lembrança quanto a responsabilidade fazem parte desse pacote de informações indispensáveis, principalmente para quem pretende iniciar.
    Valeu e parabéns!!!

  2. Murilo Lessa

    Ótima matéria, apenas uma ressalva: considerar irresponsável alguém que abre mão de mulas para transportar sua tralha pra cima é, no mínimo irresponsável. Isso é uma questão de estilo e preferência pessoal. Existem várias montanhas e equipamentos alternativos que podem baixar os custos consideravelmente, o problema é que os “escaladores de plantão”, querem escalar a montanha ABC, e não apenas escalar por escalar. Como diria o sábio Bito Meyer, todo mundo quer ser escalador, mas poucos querem escalar. O montanhismo deve ser feito ao nosso redor.

    1. Renato

      Isso ae Murilo!
      Existem diversos equipos alternativos e convém pesquisar e estudar bastante cada um deles, desde que esta economia não comprometa sua segurança.
      – Quando me refiro a irresponsabilidade (mais na questão dos alimentos do que das mulas) não quero dizer que seja irresponsabilidade (para todos os montanhistas) não contratá-las, pois como bem mencionou, existem estilos e preferências que devem ser respeitados. Apenas considero esta uma forma mais prudente, uma vez que este post foi destinado a iniciantes… O exemplo mais comum ocorre no Aconcágua, anualmente diversos “montanhistas de plantão” com cargueiras de 40kg abandonam a escalada após os 24km até Plaza de Mulas. Por falta de planejamento, conhecimento técnico ou logística.

      Não gosto porteadores ou mulas para o meu equipamento, sou defensor inclusive da não suplementação de oxigênio para cumes de 8.000. Mas acho prudente esse auxílio para aqueles que nunca estiveram em ambientes de alta montanha antes. Desde que respeitem seus limites e não enxerguem neste “conforto” uma oportunidade para abusarem da sorte.

      PS: Boa citação do Bito Meyer, é bem por aí!

      Abraços!

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