Protocolos de rastreamento em trekking

As atividades outdoor ganharam destaque em todo o mundo nas últimas décadas. Especialmente o trekking, que é uma das atividades mais acessíveis e que proporciona uma gama de opções de diversão e desafios.

Muitas pessoas por todo o mundo têm se lançado no mato com suas mochilas. Muitos sem o mínimo de preparo físico e equipamentos e sem tomar as medidas de segurança recomendadas. Mesmo os trilheiros experientes costumam relaxar em relação à segurança na trilha.

O trekking tem como requisito um mínimo de planejamento e preparo físico, pois estaremos em ambiente natural sujeito a vários riscos e distantes da civilização, ou seja, longe de um eventual socorro. Um item fundamental do planejamento é mitigar os riscos inerentes ao trekking.

Como fazer isso?

Rastreamento

Podemos listar os riscos da trilha a ser feita, definir as probabilidades de ocorrência e planejar ações caso uma situação de risco se apresente. Cada evento crítico (acidente) ocorrido forçosamente significará alteração no padrão de movimentação da equipe e/ou de alguns de seus membros, isso se refletirá no link do sistema de rastreamento escolhido, seja ele qual for.

Mesmo sem haver acidentes com o grupo, o simples fato de alteração na movimentação pode significar uma necessidade de auxílio e até de resgate.

Com o surgimento de rastreadores via satélite a preços relativamente acessíveis, muitas pessoas passaram a utilizar esses equipamentos e se sentiram plenamente seguras em suas aventuras. Evidente que portar e saber usar esses equipamentos traz mais segurança, porém, várias situações críticas podem ocorrer de modo a tornar o rastreador inútil.

Por exemplo, as pilhas descarregaram quando o grupo estava perdido, ou houve uma enchente e o grupo está ilhado e a água levou o rastreador. São várias situações que, se não previstas, podem dificultar o auxílio.

Protocolos de rastreamento

Rastreamento

Foto: Tim Dennert | Unsplash

Divulgar antecipadamente o roteiro completo e o link do rastreador é o primeiro passo. Mas não o único. Alguém vai acompanhar a movimentação? Quem receber uma mensagem como deverá tratá-la?

Esta são preocupações básicas que nem todo trilheiro experiente tem.

Considero nesse artigo um rastreador que apenas envia mensagens pré-programadas, sem comunicação online (como a maioria em uso no Brasil). Então é mandatório combinar ações com as pessoas que acompanharão o grupo remotamente pelo link do rastreador.

Estes são os protocolos a serem usados durante a monitoração a fim de evitar falhas na comunicação entre as partes e agilizar o eventual resgate.

A primeira providência depois de elaborar e divulgar o roteiro, é escolher uma pessoa que tenha disponibilidade e experiência com internet para cumprir as atribuições de rastreador remoto. Essa pessoa, além de acompanhar periodicamente o link, receberá TODAS as mensagens enviadas pelo grupo em campo.

Portanto ela terá sempre uma boa noção de onde está o grupo e se está tudo em ordem. O grupo determinará antecipadamente com o rastreador remoto o tipo e a frequência das mensagens.

Por exemplo: diariamente a partir das 9h e até as 18h serão enviadas mensagens “tudo bem” para o link e via SMS para os smartphones determinados. A última mensagem enviada no dia será considerada o ponto de pernoite e deverá ser enviada após o intervalo combinado, ou seja, após as 18h nesse exemplo.

Caso não haja sinal nem mensagens por um determinado período, o resgate deve ser acionado, pois é possível que o grupo esteja precisando de ajuda. Esse “período” deve ser definido antecipadamente com bastante critério, pois há de se considerar:

  • O tipo de trilha
  • O tamanho do grupo
  • A experiência dos membros
  • A meteorologia
  • A posição do último sinal registrado
  • O acesso à região

Geralmente considera-se um mínimo de 24h, e máximo de 60h, até se acionar o resgate aéreo.

A situação acima, de necessidade um resgate, tende a ser rara se o planejamento for bem feito. A recomendação é que o grupo utilize pelo menos dois rastreadores, com dois conjuntos de pilhas cada.

Todos os equipamentos devem ser testados antes de irem ao campo, assim como a transmissão, recepção e tratamento das mensagens. além disso, todos os conjuntos de pilhas deverão estar carregados.

Uma regra que deve ser evitada é a comunicação via smartphone, pois é um equipamento muito frágil, que consome muita bateria e que pode não estar disponível quando preciso. Deve-se levar o smartphone para a trilha, mas considerá-lo um equipamento auxiliar de segurança, mas não o principal.

Casos Graves

Foto: Andrew Neel | Unsplash

São várias as possibilidades de acidentes que exigem auxílio externo. Todo procedimento deve ser combinado antecipadamente com todo o grupo e o rastreador remoto.

Em casos graves, todo o grupo se mantém no local e o socorro via aérea deve ser solicitado imediatamente utilizando o rastreador no mínimo 3 (três) vezes (com intervalos de 3 minutos). Recomenda-se repetir esse procedimento a cada hora por segurança.

A mensagem de ajuda local também será enviada, por dois equipamentos, ao rastreador remoto que deverá acionar a ajuda local após o recebimento da terceira mensagem. O rastreador remoto deduzirá que a situação é grave porque o grupo está imóvel no mesmo ponto, isso deverá ser repassado à equipe de ajuda local.

Casos sem Gravidade

Foto: Simon English | Unsplash

Em caso de acidente sem gravidade, que exija ajuda externa e, caso a (s) vítima (s) tenha (m) dificuldade de locomoção, ela (s) deverá (ão) permanecer no local com pelo menos um companheiro e um equipamento de rastreamento. O rastreador remoto será acionado no mínimo 3 (três) vezes, com intervalos de 3 minutos para que solicite ajuda local.

Recomenda-se repetir esse procedimento a cada hora por segurança. Dois outros membros se deslocarão com outro equipamento de rastreamento ligado até a comunidade mais próxima em busca de auxílio. A cada hora esses membros enviarão sua localização para o rastreador remoto.

O rastreador remoto por sua vez, solicitará ajuda local informando a localização da(s) vítima(s) e da equipe que está se deslocando. Ele entenderá que a situação não é grave pois constatou que o grupo de dividiu.

Demais Casos

Foto: Nicole Y-C | Unsplash

Na fase de planejamento, como dito anteriormente, todo o roteiro deve ser analisado pelo grupo e pelo rastreador remoto, devem ser destacados os pontos críticos, as rotas de fuga, os pontos de pernoite e os tempos de percurso.

Todos devem estar preparados para variações do roteiro, que podem ser apenas um pequeno desvio até o descarte total do planejado. Ao optar por fugir do planejado, o grupo em campo deve ponderar se tal fato não poderá gerar um acionamento desnecessário de resgate.

Se a frequência de mensagens “tudo certo” for mantida conforme combinado, todos entenderão que a alteração é consciente e que doravante o trajeto será outro. Por outro lado, o rastreador remoto deverá redobrar a atenção até constatar que o grupo não está perdido, uma consulta a imagens de satélite é recomendável.

É possível o acionamento acidental do botão de resgate por algum membro em campo, nesse caso, nada se faz, pois o protocolo diz que a mensagem só será considerada se enviada 3 vezes. Mesmo assim, o rastreador remoto deverá redobrar a atenção até constatar que o grupo não está precisando de ajuda.

Se o (s) rastreador (es) for (em) danificado (s), impedindo o pleno funcionamento em um ponto da trilha distante no mínimo 24h do próximo ponto onde haja possibilidade de comunicação com o rastreador remoto, o grupo deve retornar ou pegar uma rota de fuga a fim de evitar acionamento indevido de resgate.

Caso estejam distantes de qualquer ponto desejado, dois membros devem ir na frente, o mais depressa possível, com mochila leve para comunicar o ocorrido ao rastreador remoto. O grupo decidirá se existem condições para retomar a trilha ou se desistem.

Às vezes o sistema de rastreamento falha e surge um ponto no mapa muito fora do trajeto. Nesse caso, o rastreador remoto deverá aguardar até o recebimento do novo posicionamento para tirar alguma conclusão.

Todo o exposto acima, será obrigatoriamente combinado durante a fase de planejamento. Simulações são recomendáveis.

Conclusão

Vários resgates foram dificultados e até inviabilizados devido apenas à falta de comunicação prévia do roteiro e/ou a elaboração de um protocolo de rastreamento. Ao se considerar a elaboração desse protocolo, deve-se ponderar se a trilha e o grupo justificam o rigor desse procedimento.

Muitas trilhas são movimentadas, localizam-se próximo a centros urbanos e têm baixo nível de dificuldade, então, justifica-se a não utilização de rastreamento, porém, caso as condições meteorológicas sejam desfavoráveis e o grupo decida fazer a trilha fácil mesmo assim, é aconselhável usar o protocolo de rastreamento.

Ao final da trilha, cabe uma reunião com todos para avaliar os resultados e rever os procedimentos.

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