Poder estar na montanha é um privilégio e oportunidade únicos e quem possui o sangue de montanhista correndo nas veias sabe disso. Mas um dos quesitos de segurança para montanhistas é frequentemente ignorado por parte de grande parte dos praticantes: O protetor solar.
Por estarmos em um país que a cultura de praia, especialmente no verão, é muito forte e por isso associa-se que o uso de protetor solar deve ser somente quando procura-se o bronzeado perfeito. Um outro conceito errado é de que somente quem pratica esportes de praia é que deve se preocupar com o uso contínuo de protetor solar. Um engano comum diga-se.
A pergunta que muitos se fazem é: É necessário utilizar protetor solar para realizar atividades de montanha? A resposta é SIM, sempre. O motivo é relativamente simples: proteger-se dos raios UVA e UVB, que podem provocar câncer de pele além de provocar queimaduras na pele.
Particularmente na prática de alta montanha a exposição às radiações são ainda mais elevadas, por causa da altitude e outras variáveis que são multiplicadas por conta do terreno nevado o qual espelha as radiações.
A radiação proveniente do sol contém três tipos de raios:
- Raios Infravermelhos: Que correspondem a 50% da radiação solar e são os que proporcionam a sensação de calor
- Raios de luz: É o que proporcionam a luminosidade solar e que correspondem a 40%
- Raios ultravioleta: Correspondem a 10% da radiação e causam queimaduras e alteração celulares que podem evoluir a um câncer de pele. São divididos em UVA, UVB e UVC.
Os raios que mais são nocivos ao ser humano são os ultravioletas UVC que, por conta da camada de ozônio, não chegam á superfície da terra. Mas ainda assim os UVA causam o envelhecimento precoce da pele e os UVB provoca profundas queimaduras solares. UVC é o mais nocivo e, na teoria, provocaria queimaduras graves e multiplicaria exponencialmente o risco de tumores na pele.
Fatores que influenciam a radiação
A radiação pode ser mais ou menos nociva, dependendo da sua localização geográfica e da altitude em relação ao nível do mar. Por isso a atividade em montanha pode fazer com que seja mais perigoso, do ponto de vista da radiação solar, do que estar em uma praia em pleno verão. Por isso é importante saber quais os fatores que potencializam o risco para, assim, saber qual o tipo de protetor solar comprar para utilizar em uma atividade de montanha.
- Fatores atmosféricos – Vento e ar seco (que deixam a pele seca e desidratada), muito comuns em ambiente de montanha, fazem com que a pele esteja mais desprotegida da incidência de raios solares.
- Neve – as superfícies nevadas reflete aproximadamente 80% dos raios solares como se fosse um verdadeiro espelho natural. Por isso esta superfície potencializa a incidência dos raios.
- Altitude – A potência dos raios ultra-violeta aumenta de acordo com a altitude porque há menos atmosfera para absorvê-los. Estudos a respeito do fator de aumento de exposição a esta radiação foram realizados e chegou-se a conclusão que a cada 300 metros de altura o risco aumenta em até 5%. Assim em um lugar, como o Pico dos Marins (2.420 m de altitude) a incidência de raios UV aumentam 40%. Este fator de risco aumenta quando estamos em algum pico nevado.
Proteção solar na montanha
A menos que o montanhista tenha uma pele impenetrável como o personagem de quadrinhos Luke Cage, ele está sujeito à incidência de raios solares. A maneira mais eficaz de evitar a exposição á estes raios, especialmente no horário de maior exposição, é utilizando roupas, bonés, luvas, balaclavas e óculos.
Além de utilizar roupas, para simular uma verdadeira armadura antirradiação, há a opção de utilizar os cremes de proteção solar. Estes cremes, conhecidos também como filtro solar, possuem elementos químicos capazes de absorver os raios UVA e UVB. No mercado são comercializados por uma unidade de medida conhecida como FPS (Fator de proteção solar). Para atividades de montanha é recomendável o uso de protetores solares a partir de FPS 50, o qual deve ser reposto a cada duas horas.
Para se ter uma ideia da seriedade que é este assunto, a Sociedade Brasileira de Dermatologia sugere que o FPS mínimo indicado a qualquer pessoa é o FPS 30 (independentemente da cor da pele).
Para chegar a este “número mágico” os laboratórios fabricantes expõem uma espécie de pele artificial (às vezes cobaias vivas dependendo da empresa) sob luz que simula a solar durante determinado período. Neste período está exposto uma parte sem o protetor e outra com o produto. Depois do período é feito um cálculo que divide o tempo que a vermelhidão demorou a aparecer nos dois locais.
Mas vale uma observação: filtros solares acima de FPS 50 não apresentam evoluções significativas, por isso um produto com FPS 60, 80 ou 100 pode não significar necessariamente melhores resultados. Por isso é importante se preocupar também com a frequência com as “demãos” do protetor solar, por isso um FPS elevado em hipótese alguma pode ser motivo de passar pouco produto ou de não ser necessária uma reaplicação.
Junto dos cremes de proteção solar, na montanha é importante também utilizar um protetor labial que também possui FPS como os filtros solares. O protetor labial deve ser passado a cada hora.
No mercado de protetores solares existem muitas marcas vendidas e com os mais variados nomes que, graças à inventividade das mentes deturpadas de publicitários, oferecem proteção em distintas situações. Por isso preste muita atenção ao filtro solar comprado e verifique a confiabilidade do fabricante. Há muitos protetores solares de marcas desconhecidas a preços muito convidativos mas que possuem eficiência nula.

Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.