Picada de cobra: O que é mito ou verdade com animais peçonhentos?

Você está preparado quando acontece uma picada de cobra? Ao passear por trilhas, falésias de escalada, locais de prática de boulder e terrenos baldios existe o perigo potencial de se deparar com uma cobra. A maioria dos animais peçonhentos, como cobras, aranhas, lacraias e escorpiões podem acabar com o passeio de qualquer um e, em determinados casos, até causar a morte.

Por esse tipo de perigo potencial, há muitas ‘lendas urbanas’, que colaboram para que inverdades sejam divulgadas de pessoa a pessoa. Da mesma maneira que comer manga com leite não racha você no meio, brincar com fogo não faz fazer xixi na cama e praticar certas atividades faz nascer cabelo na mão, animais peçonhentos também possuem suas próprias ‘mentiras repetidas como se fossem verdades’.

Conforme descrito no artigo na Revista Blog de Escalada sobre animais peçonhentos, se qualquer indivíduo ou seu (sua) companheiro (a) for mordido (a), é importante ignorar informações irrelevantes ou errôneas, que podem ter consequências negativas reais, e procurar um hospital. Guias de escalada ou de trilhas de qualidade possuem informações sobre os hospitais mais próximos da região, portanto esteja atento (a) a isso quando for planejar uma atividade.

Lembrando que ao ser picado por uma cobra é importante manter-se calmo (a), imobilizar a área afetada e remover as joias (como anéis, pulseiras, tornozeleiras) ou roupas apertadas. Atente-se ao fato de que depois de uma picada de cobra é importantíssimo manter o membro que foi picado o mais imóvel possível, pois quanto mais se movimentar mais o veneno poderá se espalhar pelo corpo e chegar em vários órgãos vitais. Caso não seja possível transportar a cobra para o hospital, anote das principais características como cor, padrão, formato da cabeça e tamanho, ou, se possível, tirar uma foto.

Mito: as cobras são predadores dos seres humanos

Picada de cobra

As cobras são predadoras naturais de roedores. Por isso, as cobras se tornam responsáveis pelo controle da população de ratos. Apesar do perigo de ser morto por uma cobra para o ser humano realmente existir, em média, a cada mil pessoas picada de cobra, uma morre.

As mordidas geralmente ocorrem nos braços abaixo do cotovelo e nas pernas abaixo do joelho (por isso alguns lugares recomendo o uso de perneiras). Na maioria dos casos, a cobra ataca por ter sido provocada por ser tocada, hostilizada ou pisada inadvertidamente e não porque estava esperando para atacar.

A jararaca (Bothrops jararaca) é responsável por cerca de 90% dos acidentes ofídicos registrados no Brasil. Elas têm hábitos predominantemente noturnos ou crepusculares e apresentam comportamento agressivo quando se sentem ameaçadas, desferindo botes sem produzir ruídos (mas não ficam de tocaia).

A cascavel (cobras peçonhentas dos gêneros Crotalus e Sistrurus) é responsável por aproximadamente 8% dos acidentes ofídicos registrados no Brasil, ficado em campos abertos, áreas secas, arenosas ou pedregosas e é a mais encontrada em locais de escalada e trekking. Também não fica em tocaia esperando seres humanos.

Verdade: Uma serpente pode picar dentro da água

Picada de cobra

Se alguém acreditar que pulando na água irá se proteger de uma cobra, está completamente enganado. Se alguém afirmar que as cobras se afogam quando abrem a boca, não acredite.

Isso significa que as serpentes respiram embaixo da água? Não, pois também têm respiração pulmonar, mas conseguem mergulhar segurando o fôlego e, dependendo da espécie, conseguem segurar o fôlego por até 30 minutos.

Em áreas alagadas é comum encontrar serpente venenosa, como as jararacas, que podem picar uma pessoa que se aproxima pois sente-se ameaçada. Mesmo quem estiver atravessando um rio ou lagoa nadando, se a jararaca for interceptada por alguém, poderá picar.

Na Amazônia duas espécies de corais-verdadeiras (Micrurus lemniscatus e Micrurus surinamensis) apresentam hábitos aquáticos e, portanto, mesmo na água pode haver uma picada de cobra.

Mito: Cobras correm atrás da gente

Picada de cobra

Na verdade, o que a cobra faz é disfarçar para que não mais esteja ameaçada. Algumas espécies, as quais são não venenosas como a Jararacuçu-do-brejo (Mastigodryas bifossatus) e a Caninana (Spilotes pullatus) podem dar uma investida ameaçadora.

Porém, são estas duas espécies com hábitos diferentes das suas ‘primas’. Portanto, uma cascavel não ira correr atrás de você. Porque não faz parte de seu modus operandi e, como explicado acima, não é predadora do ser humano.

Mito: Os anéis do chocalho indicam a idade da Cascavel

Picada de cobra

O maior mito em torno de cobras cascavel é que os anéis de seu chocalho indicam sua idade. Esse é mais um mito que foi propagado como ‘lenda urbana’. Na verdade, os anéis do chocalho indicam o mínimo de mudas da pele que a cascavel já teve e o número de mudas não é constante durante um ano.

Uma cascavel muda de pele de 2 a 4 vezes por ano e, a cada vez que isso ocorre, acrescenta um novo anel no chocalho. A frequência com que a cascavel realiza a muda de pele está relacionada à vários fatores como a idade.

Além disso, há um menor intervalo de tempo entre a realização de mudas de pele quando a cobra é jovem, uma vez que o crescimento é mais acelerado nesse período.

Mito: Em uma picada de cobra o veneno de filhote é mais concentrado do que de adulto

O veneno de algumas cascavéis juvenis pode ser mais tóxico (2 a 3 vezes o dos adultos), mas cascavéis maiores são capazes de liberar quantidades muito maiores de veneno em uma única mordida (em média 17 vezes mais do que as jovens).

As cascavéis jovens têm dificuldade em controlar a quantidade de veneno que injetam e tendem a injetar quantidades semelhantes de veneno em presas de tamanhos diferentes. Cascavéis adultas injetam significativamente mais veneno em presas maiores, pois com o tempo conseguem calibrar a liberação de veneno.

Em outra espécie peçonhenta, os filhotes de jararaca possuem uma fração proteolítica da peçonha muito reduzida quando comparadas aos adultos de sua espécie.

Mito: Toda cobra possui veneno

Picada de cobra

A confusão de toda cobra possui veneno é justificada por um fato biológico: todas as cobras possuem glândulas produtoras de veneno. Porém, algumas possuem um mecanismo inoculador.

No Brasil, existem 386 espécies de cobras, sendo 62 peçonhentas (venenosas). Apesar de não terem veneno, podem causar sintomas incômodos, como dor, dormência, vermelhidão, inchaço, febre, sensação de queimação e até mesmo a transmissão de tétano, infecções secundárias e outras doenças.

Mito: Na ocorrência de uma picada de cobra, chupe o veneno

Picada de cobra

Apesar de serem conselhos antigos difundidos, chupar o local da ferida ou fazer um torniquete são práticas condenadas por especialistas que podem piorar mais a situação da vítima. No caso do torniquete, o veneno vai agir nessa região de maneira muito acentuada (pode causar a amputação do membro em questão.).

Sugar o veneno é um mito e possui eficácia inútil, já que o veneno da cobra pode se espalhar rapidamente pela corrente sanguínea. Além disso, ao tentar sugar o veneno pelo ferimento aberto há a possibilidade de passar bactérias para o lugar machucado, aumentando ainda mais o risco de morte.

A única coisa que realmente dá para fazer é tentar ficar calmo para reduzir a frequência cardíaca e ganhar tempo até chegar a um médico que possa aplicar o soro antiofídico adequado.

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