Peter Freuchen: O explorador que sobreviveu fabricando uma faca com fezes congeladas

É quase impossível falar sobre exploração dos continentes sem falar em Peter Freuchen. A partir do descobrimento do continente americano, no início do século XVI, o interesse em explorar e conquistar novas terras ganhou força.

Ao chegar na América, os exploradores tinham de ter conhecimentos avançados de sobrevivência para conseguir explorar um terreno completamente desconhecido e uma população nativa local que lutava conta a sua invasão. Portanto, a história das explorações está protagonizada por uma infinidade de pessoas que, evidentemente, fizeram algo notável por sua sobrevivência.

Alguns, claro, como os bandeirantes, ficaram notadamente conhecidos por sua relação nada amistosa com os índios e o alto índice de assassinatos destes. Outros, como o dinamarquês Peter Freuchen, ficou conhecido como atuou na exploração do Ártico.

Nascido em Nykøbing Falster (município da Dinamarca) em 1886, não era considerado uma pessoa que seria destaque em seu país. Freuchen vinha de uma família de comerciantes e quando chegou à maioridade, foi matriculado em medicina na Universidade de Copenhagen.

Peter Freuchen

Peter Freuchen

No ano de 1906, com apenas 20 anos de idade, fez sua primeira viagem à Groenlândia, que atualmente é região autônoma do Reino da Dinamarca, junto de Knud Rasmussen, explorador e antropólogo gronelandês e uma espécie de herói dinamarquês. Rasmussen abandonou sua carreira de cantor de ópera para dedicar-se à exploração do ártico.

Ao todo liderou sete expedições que ficaram conhecidas como Expedições Thule (sim, mesmo nome da marca). Estas expedições atravessaram todo o território ártico de ponta a ponta, e documentou com detalhes a cultura inuit (nação indígena esquimó que habitam as regiões árticas do Canadá, do Alasca e da Groenlândia). Até os dias de hoje, Knud Rasmussen é considerado o patriarca da esquimologia.

Nos primeiros anos de viagem os dois acabaram tornando-se sócios e em 1910 abriram uma estação comercial em Cap York (atualmente chamada de Uummanq) na costa noroeste da Groenlândia. O local ficou conhecido como Estação Comercial Thule, em alusão à mítica ilha que na antiguidade era considerada o local mais setentrional do mundo.

A estação serviu como ponto de partida para expedições com o mesmo nome entre 1912 e 1933. A primeira expedição levou Knud Rasmussen e Peter Freuchen a verificar se a afirmação do norte-americano Robert Peary, que que tinha se tornado o primeiro homem ao chegar no Polo Norte em 1909, era verdadeira.

Para esta expedição, foi realizada uma imensa caminhada por milhares de quilômetros sobre o gelo, até comprovar que a teoria de Peary estava equivocada. A aventura é contada no livro “Vagrant Viking: My life and adventures” de Peter Freuchen.

Peter Freuchen

Peter Freuchen

No livro Peter Freuchen conta um episódio em uma viagem pela Groenlândia, acabou enfrentando uma forte tempestade junto de sua equipe de expedição. Tentando se salvar, cobriu o corpo com os trenós que tinha, mas acabou enterrado sob o gelo.

Coberto com uma capa de gelo e neve, somente conseguiu sair graças a uma faca fabricada com suas próprias fezes congeladas, que o ajudou a cavar o gelo e escapar.

Freuchen ao longo da vida teve três esposas, com quem teve três filhos. Uma outra história curiosa aconteceu justo no seu primeiro casamento, quando sua primeira esposa (que o acompanhou em várias expedições) morreu devido à gripe espanhola de 1921.

A gripe espanhola foi uma pandemia do vírus influenza que se espalhou por quase toda parte do mundo. Por sua esposa ser indígena e não ter sido batizada, a igreja católica se recusou a fazer o enterro de sua mulher. Freuchen decidiu então fazer ele mesmo.

Peter Freuchen

Peter Freuchen

Carismático, ainda chegou a casar outras duas vezes. A segunda com Magdalene Vang Lauridsen, herdeiras da margarina Alfa, em 1924. De 1926 a 1932, foi editor-chefe de uma revista, Ude og Hjemme , da família de sua segunda esposa. Nesta mesma época acabou fundando uma companhia de cinema.

Durante a segunda guerra mundial, Peter Freuchen uniu-se à resistência dinamarquesa contra os nazistas, pelo que foi detido e condenado a morte pelas tropas de ocupação alemã. Conseguiu escapar e fugir para a Suécia. Entretanto, seu casamento acabou terminando 20 anos depois.

Em 1945 ele se casou com a designer dinamarquesa Dagmar Freuchen-Gale, ilustradora das capas da revista Vogue, e foram morar em Nova York. Morando nos EUA fez carreira escrevendo livros sobre suas aventuras e como roteirista de cinema.

Peter Freuchen morreu de um ataque cardíaco, três dias depois de escrever o prefácio de seu último trabalho, “Livro dos Sete Mares”. Depois de sua morte, suas cinzas foram espalhadas no distrito de Thule.

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