Passagem de Gois: A estrada francesa que desaparece duas vezes por dia

Segundo o relato bíblico do primeiro testamento, durante o êxodo aconteceu um dos momentos mais marcantes que é a abertura do Mar Vermelho pelo profeta Moisés. A abertura, aparentemente mágica, permitiu que seu povo fugisse da perseguição do faraó. É nesta jornada que Moisés recebe de Deus as tábuas dos dez mandamentos. Como muitas partes da Bíblia, esta parte de que uma passagem que se abre de maneira mágica parece algo muito fantasioso.

Tem vontade de experimentar algo semelhante? Pois na França existe uma estrada que proporciona uma experiência muito parecida à travessia do Mar Vermelho. Aliás, a estrada é considerada uma uma atração turística de sucesso: Passagem do Gois (Passage du Gois). Esta estrada possui aproximadamente quatro quilômetros de comprimento e fica completamente submersa durante a maré alta e inteiramente exposta durante a maré baixa. A Passagem do Gois é das poucas estradas do gênero (que fica submersa períodos do dia) existentes no mundo. Esta estrada liga a Ilha de Noirmoutier e a costa francesa em Beauvoir-sur-Mer (440 km a sudoeste da capital francesa Paris).

A Passagem do Gois e o turismo

A Passagem do Gois é transitável somente durante a maré baixa, ficando completamente submersa duas vezes por dia durante a maré cheia. Esta peculiaridade praticamente “obriga” que os visitantes a pernoitem na ilha. Esta “obrigatoriedade” impulsionou a indústria do turismo no local. Por isso, é relativamente fácil encontrar um local para dormir na ilha.

A comida no local é baseada em frutos do mar. Especialmente a ostra, que é cultivada na própria Passagem do Gois, a qual permite o acesso facilitado na maré baixa aos locais de cultivo. Além disso, durante as marés altas, o local é famoso pela “pesca a pé”. Para quem quer tentar desafiar a maré, um aviso: a altura da água do mar que cobre a estrada durante a maré alta varia entre os 1,30 e 4 metros.

Por ser um lugar único, com poucos iguais em todo o mundo, a França já fez o pedido de reconhecimento como patrimônio da UNESCO e este já está em fase final. Atualmente vivem aproximadamente 10.000 pessoas na Iha de Noirmoutier.

A passagem é transitável de carro, bicicleta ou pé na maré baixa. A Passagem do Gois já fez parte do Tour de France, competição anual de ciclismo de estrada realizada na França, nas edições de 1993, 1999 e 2005 e 2011. A alta mobilidade dos cardumes de peixes torna o exercício de atravessar a Passage du Gois perigoso sem um guia quando começa a ficar submersa.

Caso haja nevoeiro na região (o que acontece com certa frequência) a travessia pode ser perigosa. Há várias histórias de pescadores que se arriscam na passagem e são surpreendidos pela maré alta. Há também na via uma tradicional corrida de rua, a Les Foulées du Gois, que é organizada todos os anos desde 1987, durante o verão.

Durante o Les Foulées du Gois o sinal de largada é dado quando as primeiras águas subindo cruzam a estrada. Alguns competidores chegam com água nos joelhos. O recorde atual é de 12 minutos e 8 segundos, do atleta francês Dominique Chauvelier em 1990.

A Passagem do Gois e a história

A Passagem do Gois, ou pelo menos o caminho, se formou pelas correntes marítimas norte e sul que batiam ao mesmo tempo na Baía de Bourgneuf. Este choque constante das ondas ocasionou o desprendimento de sedimentos da costa, que foram se depositando na baía ao longo de milhares de anos. Este depósito deu origem à elevação de uma espécie de caminho sobre a água.

A partir do ano 600 d.C. a Passagem do Gois é rasa o bastante para se cruzar e chegar na costa francesa. Desde o 1701 existem registros da passagem em mapas, mas o local passou a ser utilizado com frequência e regularidade a partir de 1840.

Durante a Guerra da Vendéia, guerra civil e de contrarrevolução, os monarquistas franceses se refugiaram na ilha. Os primeiros 18 marcadores de madeira ao longo da rota foram colocados em 1786. Hoje, sua travessia representa alguns riscos se o viajante não respeitar os horários das marés baixas.

Por convenção dos habitantes locais, o ideal é atravessar 1h30min antes e depois da maré baixa. Desde o ano de 1830 os horários das marés são exibidos perto da passagem para a orientação da população.

Referência:

Comente agora direto conosco

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.