Para quem quer listar os trekkings mais icônicos do mundo, seguramente haverá uma citação à Pacific Crest Trail, conhecida popularmente por PCT. A trilha se popularizou mundialmente com o sucesso do livro Wild (traduzido no Brasil como “Livre”) da escritora americana Cheryl Strayed.
A principal característica da Pacific Crest Trail é, sem dúvida a oportunidade de imersão profunda na natureza da América do Norte, mesclando pernoite em abrigos e camping selvagem ao longo de seus 4.265 km, oficialmente medidos pela ONG responsável pela manutenção de todo trajeto. O trekking inicia na fronteira americana com o México (ao sul da cidade de Campo) e terminando no estado de Washington no Manning Park (que faz fronteira com o Canada).
Todo o percurso passa pelos estados americanos da Califórnia, Oregon e Washington, além atravessar nestes estados sete parques nacionais americanos. Não é, portanto, um itinerário indicado para iniciantes, nem para quem possui conhecimentos básicos de técnicas de montanhismo.
Como dito acima, a Pacific Crest Trail atravessa nada mais que sete parques nacionais americanos. Grande parte destes parques por si só já possuem várias rotas, também icônicas.
Os brasileiros
Edinho Ramon e Bia Carvalho, que atualmente estão percorrendo as trilhas da Pacific Crest Trail no projeto Caminho a Dois, 4.286 km pela PCT. Possuem o espírito aventureiro que tem mudado nosso lifestyle, aumentado nosso autoconhecimento e a vontade de se desafiar, além de nos levar a lugares incríveis.
Isso não implica necessariamente em viajar pelos cinco continentes, nem tampouco em realizar mil e uma aventuras. É muito maior que isso! É entender que “é importante sonhar, mas é fundamental transformar os sonhos realidade!”.
Edinho Ramon é um apaixonado pela vida. Procura vivê-la com uma intensidade incrível, enquanto executa um projeto já tem diversos em segundo plano. Fotógrafo e filmmaker, também se defende como compositor de vez em quando. Amante de aventuras e desafios, é paraquedista, ultra trail runner, Ironman, snowboarder, montanhista e escalador.
Bia Carvalho é apaixonada pelo mar e pela montanha! Traz da infância o amor pelos oceanos, pois passou a maior parte da infância à bordo de um veleiro. A atração pelas montanhas nasceu num momento de crise. Após duas perdas irreparáveis (pai e irmão) se encontrou na escalada. Paraquedista, escaladora e montanhista sempre que acha uma janela nos treinos é encontrada se aventurando por aí.
Os números (até agora)
Distância da fronteira com México | 2.416,8 km |
Altimetria positiva acumulada | 68.788 m |
Altimetria negativa acumulada | 69.231 m |
Dias | 111 |
Período | 5 de abril a 25 de julho |
Zeros (dias de descanso) | 9 |
Neros (distância < 15 km) | 15 |
Média km/dia | 23,7 km |
Média km/dia total (contando zeros) | 21,8 km |
Dia mais longo | 41,6 km |
Dia mais curto | 2 km |
Dia mais quente | 40°C |
Dia mais frio | -7°C |
A jornada
Essa jornada surgiu do desejo de viver um longo período em contato com a natureza selvagem. Para transformar esse sonho em realidade organizamos o Caminho a Dois e estamos atravessando esse país continental a pé. O projeto Caminho a Dois foi planejado para ser executado por mim, Bia Carvalho, e meu marido, Edinho Ramon, com o objetivo de vivenciarmos intensamente o nosso casamento, desconectarmos o máximo possível e nos reconectarmos conosco mesmos e com a natureza vivendo o minimalismo.
Junto a esse desejo veio também a vontade de incentivar a cultura outdoor no Brasil, o que nos levou a montar o projeto que conta com o apoio da Osprey, Julbo, Spot, My Safe Sport e WMAI Brasil, e que tem como produto final a publicação de um livro, um filme e uma exposição fotográfica contando sobre tudo que vivenciamos por aqui.
A nossa jornada começou na fronteira com o México tendo o Deserto como parte inicial da nossa caminhada. Diferente do inicialmente pensado o deserto do Sul da Califórnia, apesar de seco e com pouca fonte natural de água, nada se parece com a imagem que pensamos de um deserto de areia, marrom e sem vida. Aqui cruzamos o deserto de montanhas que surpreendeu com seu verde, suas flores e sua beleza. Chegamos a pegar frente fria com neve e o calor, apesar de grande em alguns dias, não foi tão intenso como esperado. As sombras eram frescas e as noites bem frias.
Depois de cruzarmos toda a parte do deserto com seus aproximadamente 1.130 km, entramos nas Sierras.
A seção das Sierras era a mais esperada por mim. As montanhas exuberantes, o frio intenso, a neve presente e seus inúmeros rios. Foi um sonho vivenciar os seus 506 km de altitude. Ficamos a maior parte do tempo acima dos 3.000 m de altitude, o dia de altimetria máxima chegou a 4.000 m. A variação altimétrica diária era grande. Fazer um Passo (região de passagem nas montanhas para transpor de um vale para outro) por dia era o planejado.
Subíamos até perto do cume da montanha para atravessar da face Sul para a face Norte, descíamos nos vales e fazíamos a aproximação do Passo do dia seguinte. A gente acordava de madrugada para conseguir chegar no cume do Passo com a neve bem compacta. Isso porque normalmente tinha grandes passagens de gelo. Nós caminhamos usando microspikes e ice axe ou trekking poles.
Travessia Muir Pass
Na travessia do Muir Pass, quando essa regra não funcionou, sentimos na pele a dificuldade de cruzar um Passo cheio de neve descongelando e afundando nossos pés na neve. Demoramos muito mais, atolando na neve e sofrendo para conseguir avançar. Teve trecho que afundávamos até a coxa e caminhar era complicado.
Outro grande desafio das Sierras foram as travessias de rios. Entre pular pedras, atravessar troncos e enfrentar a força da água, os desafios foram sendo superados.
Finalizando a Sierra era hora de entrar no Norte da Califórnia, onde nos encontramos agora.
A paisagem aqui mudou bastante. As flores voltaram, o clima ficou mais úmido e o calor intenso. As cores e os perfumes das flores encantaram no início assim como os lindos lagos que passamos. Alguns dias foram bem monótonos e até sem graça para nós que com 3 meses de trilha passamos a sentir saudades de casa e dos amigos, principalmente enquanto à distância acompanhávamos a Copa do Mundo de Futebol.
Passado o marco da metade do caminho e com a energia renovada caminhamos agora com a presença exuberante do Monte Shasta (4.322 m) na paisagem enfeitando nossos dias. Em mais 10 dias aproximadamente concluímos essa etapa importante que é o estado da Califórnia e seguiremos pelos estados de Oregon e Washington concluindo toda a essa jornada de grandes surpresas e intensos aprendizados.
Graças ao apoio do Spot compartilhamos nossa localização em tempo real no nosso site, também é possível acompanhar nossa jornada no Instagram e no nosso Facebook.
Abraços e bons ventos!
Bia Carvalho é apaixonada pelo mar e pela montanha. Edinho Ramon é um apaixonado pela vida. Ambos estão realizando a Pacific Crest Trail