Otto “Rambo” Herzog e a história do mosquetão

Poucos sabem, mas a história do mosquetão passa pela história de um Rambo. Mas…Qual a primeira coisa que vem à sua cabeça quando pensa em “Rambo”?

Muito provavelmente é o personagem eternizado pelo ator norte-americano Sylvester Stallone. O filme, que mais tarde tornou-se uma franquia de filmes de ação, popularizou o nome “Rambo”.

Desde então, o nome ficou quase que um sinônimo para descrever uma pessoa imprudente, desconsidera ordens, usa a violência para resolver seus problemas, entra em situações perigosas sozinha e é excepcionalmente difícil, insensível, cruel e agressiva.

Entretanto, a história do mosquetão no montanhismo está ligada à Otto “Rambo” Herzog.

Rambo?

O filme original do personagem “Rambo” é baseado em um livro de 1972, do escritor David Morrell, de nome “First Blood”. Na obra o home do protagonista John James Rambo foi inspirado por uma variedade de maçãs Rambo (Malus pumila), desenvolvida nos EUA por Peter Gunnarsson Rambo.

Quando emigrou para o continente americano em 1637 Gunnarsson nomeou a espécie provavelmente derivando a forma abreviada de Ramberget (montanha da ilha Hisingen em Gotemburgo, onde nasceu). Ramberget mais “bo” significa “residente de”.

O montanhista alemão Otto “Rambo” Herzog ganhou este apelido setenta anos antes dos filmes de Sylvester Stallone. “Ramponieren” em alemão significa “bater” ou “socar”. Herzog recebeu o apelido de “Rambo” pelas horas em que passou “socando” problemas específicos na montanha.

Hoje, Herzog é lembrado por apresentar o mosquetão ao montanhismo e “quebrar” o sistema de graduação de vias de Hans Dülfer. Assim como Wolfgang Güllich, Chris Sharma e Adam Ondra inauguraram novas dificuldades em vias de escalada esportiva.

Por volta de 1921, Herzog introduziu uma versão do primeiro mosquetão para montanhismo da história, pesando 128 gramas (atualmente um mosquetão sem trava pesa em torno de 50 gramas).

Os primeiros mosquetões

Tecnicamente falando, não se sabe com exatidão quem foi que criou o mosquetão. Historiadores estimam que foi antes da primeira Revolução Industrial (1760 a 1840).

Um dispositivo comparável ao que conhecemos hoje como mosquetão de pressão (o qual possui uma mola para fechamento automático) é mencionado um livro militar (Kriegskunst zu Pferdt) de Johann Jakob von Wallhausen, publicado em 1616. Uma primeira descrição de construção do mosquetão pode ser encontrada já em 1785.

No final do século XIX e início do século XX, as carabinas eram as armas utilizadas pelas tropas de cavalaria e de caçadores (“Karabiner” em alemão). Para prender a bandoleira (fita de couro que permite carregar a carabina) era usado este “recém inventado” gancho (haken em alemão).

O nome dado a esta ligação era “karabinerhaken” (Karabiner + haken), que poderia ser traduzido como “gancho de prender a carabina”. Portanto, o primeiro uso deste equipamento em larga escala foi feito por soldados alemães, durante as Guerras Napoleônicas (1803 a 1815), já durante Revolução Industrial.

Giuseppe Bonaiti começou a fabricar mosquetões para expedição de soldados na Itália em 1830. A oficina fabricava também trefilados, pequenas peças metálicas para uso civil e militar, fechaduras para portas e enrolamento de tiras de aço. Nos EUA, foi patenteado um mosquetão simples para conectar elos de correntes em 7 de abril de 1868.

Esta primeira patente de um mosquetão com mola foi feita com o registro de “gancho oval metálico”, para construção todo em aço. Os primeiros mosquetões voltados para trabalhos manuais, já com uso de molas, foram introduzidos por volta de 1900.

Por que “mosquetão”?

O mosquete é uma das primeiras armas de fogo usadas pela infantaria entre os séculos XVI e XVIII. Esta arma de fogo portátil foi usada pela infantaria das potências europeias. Até a década de 1650, o mosquete, em virtude do seu peso, precisava ser apoiado no solo por uma vara com uma forquilha em cima, para possibilitar a mira e o disparo.

Esta arma foi evoluindo, ficando mais leves, até também mais conhecida militarmente como mosquetões, uma arma de fogo, individual, semelhante ao fuzil porém mais leve e mais curta. Como também usava uma bandoleira, começou a usar fivelas e anéis metálicos no final do século XIX.

A fusão entre o tipo de fivela do mosquetão, com o uso em espadas e relógios de relógios de algibeira em suas correntes, difundiu o nome do “anel metálico com fecho de mola” como um mosquetão na língua portuguesa.

Otto Herzog

Otto Herzog nasceu em 1888 na cidade alemã de Fürth e era um montanhista considerado dos melhores escaladores da Alemanha no início do século 20. Herzog não apenas estabeleceu novos padrões de dificuldade em vias de escalada, mas também em tecnologia e equipamentos.

O mosquetão foi usado pela primeira vez na escalada por Herzog em 1910, depois de assistir a um treinamento de incêndio em Pasing, perto de Munique e testar o mosquetão na área de escalada de Buchenhain , perto de Munique.

Meses depois, Otto Herzog usou mosquetão de pressão, que até então eram usados ​​apenas como ganchos de cinto pelo corpo de bombeiros. Graças à abertura de encaixe, o mosquetão podia agora ser facilmente enganchado no olhal da proteção e a corda amarrada no mosquetão. A desamarração e a passagem da corda pelas proteções foram suprimidas.

Antes da Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918) Otto Herzog, juntamente com o guia da montanha Zillertal, Hans Fiechtl, escalou a face sul da Schüsselkarspitze (2.551 m) em 1913. Esta é uma das escaladas mais difíceis até hoje.

O montanhista foi soldado na Primeira Guerra Mundial e voltou com uma lesão na mão. Mesmo assim se dedicou com paixão à escalada e conseguiu alcançar rapidamente os níveis mais altos de dificuldade de escalada novamente.

Otto Herzog permaneceu conectado à escalada e montanhismo. Companheiros de escalada relatavam o montanhista como um contemporâneo bizarro, embriagado, com humor áspero. Era um cara durão que não evitava as noites frias de acampamento, mesmo quando estava velho.

Em 1938, dois alpinistas de renome, Paul Allain e Raffi Bedayn, desenvolveram mosquetões mais leves e mais confiáveis, estes agora fabricados ​​em alumínio. O mosquetão de Bedayn ganhou muito mais notoriedade e fama que os de Allain (apesar de ter tirado a patente pouco antes).

O segredo foi o espírito empreendedor de Bedaym, que era um dos principais escaladores do Sierra Club, foi a diferença. Seu mosquetão não tinha preço baseado no valor de mercado, mas como um serviço para seus colegas. Assim o equipamento se popularizou e pouco mudou em seu conceito, apenas foi aprimorada a sua forma.

Em 1957, mosquetões feitos especificamente para escalada foram introduzidos no mercado.

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