O verdadeiro custo monetário (e pessoal) de conquistar uma via de escalada

Quantos escaladores vão à rocha semana a semana, subindo uma grande variedade de vias, as quais a segurança depende de algumas chapeletas, bolts e correntes (algumas com décadas de idade)? Chapeletas que, aparentemente, pertencem a todo mundo e que por mágica parecem que sempre estiveram ai. Parece descabido pensar que alguém venha as reclamar como sua propriedade e as levar (sim, já tem pessoas que fazem isso).

Seria uma espécie de roubo, visto que as chapeletas passam a fazer parte da rocha e, no momento da conquista, passa a ser de todos… Ou não?

Alguns desconfiam e pensam que houve conquistadores motivados que colocaram as chapeletas. Sentindo uma certa gratidão por que houvesse alguém que se preocupou com isso. Mas alguém já tirou uma calculadora e fez contas da contabilidade disso?

Na verdade é que somente existe nesta matemática motivação e grandes somas de dinheiro. O suficiente para comprar grande quantidade de equipamentos de escalada. No mercado atual, imaginando o melhor dos casos, uma chapeleta de qualidade e procedência está custando de R$ 7,00 a R$ 10,00. Um parabolt, dependendo da qualidade, custa em média R$ 3,00. Já uma corrente de ancoragem (para ficar na parada) não sai por menos de R$ 50,00, isso se não for importada.

Por isso, quando se escala uma via de uns 15 metros, a qual em média tem 10 chapeletas, deveria saber que o mínimo que exige de dinheiro para equipá-la é de aproximadamente R$ 150,00 (10 chapeletas x R$ 7,00+ 10 parabolts x R$ 3,00 + 1 parada com corrente x R$ 50,00).

A partir deste gasto hipotético extrapole agora este valor a um local como Las Chilcas (local de escalada no Chile), o qual há 100 vias, com maioria delas acima dos 15 metros de altura. A cifra total, no melhor dos casos, está próximo das dezenas de milhares de reais. Isso somente em equipamento. A via “San Pateste”, a qual possui várias enfiadas, possui 60 chapeletas, 6 paradas… Consegue calcular o quanto é caro equipar uma via assim? Imagine re-equipá-la no caso de roubo!

Pensemos um pouco melhor: não é somente questão de comprar as chapas pronto. O trabalho e gasto para isso é tamanho, ou mais, que simplesmente comprar as mesmas chapeletas.

Uma furadeira de qualidade e adequada para equipar uma via de escalada não sai por menos de R$ 1.700,00. Aliado a isso é óbvio que a broca é vendida separadamente e custa R$ 50,00 cada uma e, infelizmente, dura para uma ou duas vias.

Mas a lista de custos não para: martelo, jogo de chaves para porca, escovinhas e um monte de outros acessórios que, se não tem a sorte de possuir, seguramente terão de ser comprados.

A partir disso uma pergunta: De seu equipamento de escalada, o que é o que mais você cuida? Seguramente é a sua corda, a que deverá usar para escalar uma via. Então imagine você nela por horas e horas limpando e rezando para que não caia nenhuma rocha em cima dela e que o desgaste com o roçar não seja grande. Existem casos de escaladores que morreram por este mesmo motivo (corda cortada por pedras) enquanto estavam equipando.

Aliado a tudo isso, não se esqueça que o tele-transporte ainda não existe. Por isso seguramente é necessário ao equipar uma via de escalada deve colocar nos gasto o combustível de seu carro, além da comida. Deve saber que a grande maioria das vezes que for equipar, a possibilidade de escalar é muito baixa. Isso porque passará grande parte do dia limpando a via e ao final do dia ficará cansado e que não renderá nada se escalar. Isso porque gastou todas as forças para equipar. Mas não acabou! Saiba que somente de gasolina e pedagio, para isso, gasta-se mais dinheiro que todo o equipamento para equipar, caso decida equipar em algum lugar longe da sua casa

Aliado a todo este custo monetário, equipar uma via de escalada é um trabalho perigoso. O equipador é o primeiro a explorar a rocha na linha que imagina que pode sair uma via. Por isso está exposto à possibilidade de que alguma rocha caia em cima dele (sim, já vi acontecer). Por soar como trágico, mas é a vida do equipador que está em jogo quando testa as ancoragens e chapeletas que colocou. Obviamente não esqueça que é o próprio equipador que desce pelas proteções.

Seguindo com a análise: O equipador espera toda uma semana de trabalho e/ou estudo para depois ir escalar. Você gastaria todo o seu final de semana em conquistar uma via de escalada se sabe que deverá desembolar uma boa quantidade de dinheiro, colocar a sua própria corda ao desgaste sem ser efetivamente para escalar e, ainda por cima, nem escalar? É algo a se pensar.

Conquistar vias de escalada é uma paixão que muito poucos possuem. Estas poucas pessoas são aquelas que deixam centenas escalarem e, obviamente, a escalada exista. Mas ao longo dos anos, reparei que esta paixão morre em muitas pessoas por todo o custo que acarreta. Costos tanto monetários quanto pessoais.

Em Las Chilcas foram pouco menos que 20 conquistadores em toda a história do local e não tenho dúvida de que lá já escalaram milhares de pessoas.

Se não deseja conquistar uma via de escalada, não tem o menor problema, pois é um trabalho duro e que deve fazer com total convicção e comprometimento. Mesmo não conquistando, tente ajudar, Se você, caro leitor, é destes escaladores, que existem aos milhares, que nunca colocaram uma só chapeleta na rocha, ajude ao menos a preservar.

Tradução autorizada de: http://rocanbolt.com

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There is one comment

  1. inacio bianchi

    Gostei da matéria, eu mesmo já fiz e refiz estas contas várias vezes. Mas o que mais me deixa triste é que tem gente tão sem noção destes valores e dos valores morais e éticos da vida, que não quer pagar R$ 5,00 por um dia de escalada na Falésia Paraíso onde temos até o momento 163 vias de escalada equipadas quase que totalmente com o dinheiro e trabalho de apenas 6 pessoas.
    Eu sei que este tipo de gente geralmente não lê matérias como esta, mas muitos dos que lêem conhecem alguns exemprares deste tipo de gente. Deixo o meu apelo para ajudarem na conscientização!

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