O retrato de uma crise mundial: A história do plástico

Com exceção das pessoas que estavam em coma por pelo menos 20 anos, todos já devem saber que o plástico é um problema mundial. Os plásticos quando não descartados de forma certa vão parar em ruas, bueiros, rios, lixões, aterros sanitários, florestas e oceanos.

O plástico está tão presente no nosso dia a dia que raramente paramos para pensar no quanto prejudicam a natureza. Segundo a ONU, a poluição causada pelo descarte de objetos de plástico é um dos maiores desafios (senão o maior) da atualidade.

À medida que se decompõem no meio ambiente, os plásticos liberam gases do efeito estufa, contribuindo dessa maneira com as mudanças climáticas e o aquecimento do planeta. Os plásticos podem levar centenas e centenas de anos (mais de 400 anos) para se decompor no solo, configurando-se em um lixo eterno e poluidor do espaço em que se encontra.

O problema possui solução? Solução possui, mas exige uma mudança fundamental na forma como vemos sua fabricação, seu uso e como fazemos o seu descarte. Resumindo: teremos de mudar significativamente nosso costumes e modos de vida para isso.

Ilustração: Lily Padula | https://www.nbcnews.com

Se as pessoas não conseguem ainda respeitar umas as outras, conversando em vez de “exigir” como crianças mimadas, como poderemos nos preparar para diminuir o impacto dos plásticos? A consequência desse tipo de ignorância e despreocupação se reflete no assustador número de que 91% do plástico utilizado no mundo não é reciclado.

No ritmo que estamos indo, até 2050, haverá mais plástico nos oceanos do que peixes.

O documentário”The Story of Plastic” (disponível para visualização gratuita no topo desse artigo), vencedor do Emmy revê as mentiras em torno da reciclagem de plástico.

A história do plástico

Alexander Parkes

Ao pé da letra Plástico é uma palavra que originalmente significava “flexível e facilmente moldável”. Desde os primórdios da história, a espécie humana buscou desenvolver materiais que ofereçam benefícios não encontrados na natureza.

O desenvolvimento dos plásticos começou com o uso de materiais naturais que possuíam propriedades plásticas intrínsecas, como goma-laca (resina secretada pelo inseto Kerria lacca) e borracha.

Foi em um estágio posterior na evolução dos plásticos que a transformação química do que antes eram plásticos naturais teve que começar. Um dos primeiros exemplos foi a invenção da Parkesina pelo britânico Alexander Parkens em 1855, hoje conhecida como celulóide. O termo celuloide só passou a ser utilizado em 1870.

O material era utilizado em estado sólido e tinha como características principais flexibilidade, resistência a água, cor opaca e fácil pintura. Moldado com facilidade, o celuloide foi produzido originalmente como substituição para o marfim.

Um de seus usos mais conhecidos é na indústria fotográfica e cinematográfica, na confecção das chamadas películas ou filmes. Acabou por definir a nomenclatura das matérias plásticas que foram criadas a partir de sua utilização.

Eugen Baumann

Entre 1838 e 1872 , o cloreto de polivinila, o PVC comum, foi polimerizado pelo químico alemão Eugen Baumann, mas, por um motivo não explicado, nunca solicitou uma patente. Na verdade o PVC foi patenteado em 1913, quando o alemão Friedrich Klatte inventou um novo método de polimerização do cloreto de vinila usando a luz solar.

Mas uma verdadeira criação revolucionária ocorreu em 1907, quando o químico norte-americano Leo Baekeland criou a Baquelite, feita por condensação entre fenol e formaldeído, a primeira resina termoendurecível de origem sintética.

A Baquelite teve um sucesso surpreendente, tornando-se por muitos anos o material plástico mais difundido e utilizado. A resina sintética, quimicamente estável e resistente ao calor, que foi o primeiro produto plástico e sua produção industrial em massa começou nos EUA e no Reino Unido na década de 1920 e foi amplamente utilizada pelo menos até a década de 1950.

A década de 1930 e a Segunda Guerra Mundial marcaram a passagem definitiva para a chamada “Era do Plástico”, com a criação de uma verdadeira indústria moderna. A década de 1950 viu a descoberta das resinas de malamina-formaldeído, que possibilitaram a produção de laminados para decoração e moldagem de louças de mesa a preços baixos, enquanto as “ fibras sintéticas ” (poliéster e nylon) tiveram uma explosão de popularidade, tornando-se a alternativa moderna e prática para os naturais.

A Segunda Guerra Mundial exigiu uma grande expansão da indústria de plásticos nos EUA, já que o poder industrial se mostrou tão importante para a vitória quanto o sucesso militar. A necessidade de preservar os escassos recursos naturais tornou a produção de alternativas sintéticas uma prioridade e os plásticos forneceram esses substitutos.

Wallace Carothers

Conforme descrito no artigo sobre fibras sintéticas na Revisa Blog de Escalada, o nylon, inventado por Wallace Carothers em 1935 como seda sintética, foi usado durante a guerra como paraquedas, cordas, coletes à prova de balas, forros de capacete e muito mais. Durante a Segunda Guerra Mundial, a produção de plástico nos EUA aumentou 300%.

Porém é na década de 1960 que surge definitivamente o plástico como instrumento essencial da vida cotidiana e uma nova fronteira na moda, no design e na arte.

Por serem os polímeros sintéticos fortes, leves e flexíveis (em outras palavras, é o que os torna tão plásticos), tornaram-se excepcionalmente úteis e, desde que aprendemos como criá-los e manipulá-los, se tornaram uma parte essencial da vida moderna.

Especialmente nos últimos 50 anos, os plásticos saturaram nosso mundo e mudaram a maneira como vivemos. Mas o otimismo imaculado sobre os plásticos não durou e nos anos do pós-guerra, houve uma mudança nas percepções dos norte-americanos, pois os plásticos não eram mais vistos como algo positivo.

Detritos de plástico nos oceanos foram observados pela primeira vez na década de 1960, uma década em que os norte-americanos se tornaram cada vez mais conscientes dos problemas ambientais. O livro de Rachel Carson de 1962, Silent Spring, expôs os perigos dos pesticidas químicos.

À medida que a consciência sobre as questões ambientais se espalhou, a persistência de resíduos de plástico começou a incomodar os observadores. Assim, a reputação do plástico caiu ainda mais nas décadas de 1970 e 1980, à medida que aumentava a preocupação com o desperdício.

O plástico se tornou um alvo especial porque, embora tantos produtos plásticos sejam descartáveis, o plástico dura para sempre no meio ambiente.

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