O que isso significa, ou o que é estar em paz?

Não costumamos ter certeza sobre o que entendemos por desenvolvimento espiritual. Ou sobre como podemos fazer para ter disso em nosso dia-a-dia.

Talvez não saibamos ao certo o que isso significa, ou o que é estar em paz.

Quem são as pessoas com quem aprendemos sobre a vida?

O quanto elas realmente sabem sobre se manter em equilíbrio em todos os aspectos da existência?

Onde começa o real limite de tudo que conhecemos e onde termina nossa abertura para isso?

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Enquanto crescemos e vamos nos desenvolvemos pela infância aprendemos a como nos comportar socialmente de acordo com paradigmas emprestados de nossos pais, posteriormente do colégio e outros grupos que fazemos parte, como ambientes religiosos e locais de trabalho.

Cruzamos todas essas informações com a nossa própria observação do mundo e assim criamos um entendimento próprio sobre quais são as implicações de cada ação colocada em prática em nosso dia-a-dia.

Mas, uma vez que aprendemos a ler o mundo nas entrelinhas, descobrimos que nem sempre o que aprendemos era coerente ou útil.

Nem todos os paradigmas que emprestamos são suficientemente habilidosos como fontes de organização individual a ponto de que todas as perspectivas sejam correspondidas.

Silhouette of hiking man jumping over the mountainsSofremos constantemente, mas ainda sim não abandonamos estes comportamentos.

Porque?

Tememos não ser aceitos. Tememos perder aceitação que conquistamos.

Passamos a vida ocupados em simular congruências a um comportamento esperado.

Participamos de um envolvimento social que afirme nossa existência.

E mesmo assim, no final das contas quando estamos sozinhos à noite, próximo ao momento de dormir, sentimos que isso também não foi o bastante para trazer tranquilidade em nossas vidas.

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Existe ainda uma ânsia mais visceral com a qual precisamos aprender a conviver.

Dificilmente estamos dispostos a entrar por esse túnel em direção às fontes dos temores que mantemos inconsciente sobre a nossa existência.

E é aí que procuramos por válvulas de escape.buddha1_2_3_-3tonemapped[1]

Válvulas de escape, como atividades em interação ambientes naturais, podem ser efetivos em aliviar sintomas de desequilíbrio.

Mas se formos acomodados e continuarmos a acreditar que desfrutar disso como entrenimento, sem que qualquer mudança verdadeira tome curso em nosso modo de funcionar e ganhar a vida, isso não será diferente do que já estamos fazendo sobre a saúde nas cidades: medicina sintomática.

Aliviamos os sintomas, sem tratar de modificar o comportamento que gerou as causas do fenômeno.

Existem basicamente dois mundos.

monks[1]O natural, uma manifestação rítmica não linearizada; e o mundo artificial, tecnológico, regido pelo planejamento intelectual.

Cada um deixa uma marca em nós.

Em nossa mente, em nosso corpo.

Em nossa organização social comum temos cidades planejadas para um determinado fim de acordo com necessidades supostas. Somos ensinados a nos alinhas com essas necessidades através da cultura textual, visual e de audio e vídeo promovida pelos veículos de mídia.

Os problemas organizacionais e as falhas logísticas em distribuir igualmente os serviços nas cidades também não são problemas que limitam sua influência no corpo da cidade.

O nosso próprio corpo físico representa uma manifestação de nossa reidentificação com o meio.

Em um processo de auto-organização concordante com os padrões que mimetizamos do ambiente, estabelecemos nesse corpo doenças que são nada menos que simulações do macro em menor escala.

Aquilo que está acontecendo no ambiente que vivemos, está sendo replicado em nosso corpo por nossa psique em um processo de copia.buddhist-monks[1]

Nosso corpo manifesta o mesmo tipo de padrões aos quais somos expostos socialmente, e tudo que encontramos no ambiente que vivemos irá servir de guia para nossa reestruturação interna.

Poucas partes de nosso corpo recebendo muito, muitas recebendo pouco, congestionamento de fluxos em nossos vasos sanguíneos e em nosso sistema nervoso, sinápses cerebrais ocupadas com assuntos que não se concluem, dificuldade de mobilidade…

Percebem alguma semelhança com os tipos de situações que enfrentamos diariamente nas cidades?

Não são meras coincidências, são padrões observáveis e replicáveis.

Sobreviver em um ambiente artificial, contando apenas com escapadas eventuais pode funcionar para satisfazer nossa mente.

Mas nosso corpo, diariamente exposto ao desequilíbrio, dia-a-dia em um ciclo de desgaste sem prazo para término, sofre em sua inércia.

Não é natural o envelhecimento como conhecemos. Um homem de 90, 100 anos não deveria necessitar de auxilio para resolver as tarefas mais básicas da vida como se levantar, ir ao banheiro, se locomover.

Hoje em dia é comum a idéia de que a alta idade seja motivo para cuidados especiais. Desenvolvemos até cursos superiores para que pessoas se dediquem a essa causa. Cuidadores de idosos.

Nos adaptamos para encontrar conforto em nossos maus hábitos, e usamos da tecnologia para compensar a degradação de nossa saúde.

Contemple que talvez um passeio semanal nas florestas ainda não seja a solução final para o desgaste psíquico que nos desmotiva internamente a não desejar uma longevidade com saúde.

No fundo, tudo que queremos quando vivemos fora do fluxo natural é que tudo termine logo.

As mensagem inconscientes que enviamos para nós mesmos se aproximam de uma frustração imbuída de desejo de fuga. ”Torne-se fraco, corpo, acabe logo com isso.

Adoeça, ninguém pode culpar um adoecido por não participar dessa loucura”.

Talvez, estejamos criando um corpo que não quer se manter funcional por muito tempo por simplesmente não conhecer outras formas de existir. Não fomos ensinados a buscar por outras formas de viver.

Algumas regras sociais sequer nos permitem explorar outras formas de viver.

Acordar com o sol e adormecer ao fim da luz do dia.

Quantos de nós estamos alinhados com esse hábito?

Nas cidades, qual é a categoria de empregos que nos permitem isso?

É algo até mesmo satirizado em muitas rodas de conversa.

Quem disse que paredes de concreto são vendidas para seu maior interesse?

Não são, saiba.

Se vc se fecha entre paredes, e ainda sim busca por entretenimento outdoor, saiba, você está doente.

Foi ensinado a se manter doente e a lutar pelo direito constitucional de se manter doente.

Você vota em urnas pela sua doença, e paga sua doença a custo do tempo de vida que continua doando à manutenção da máquina social que participa.

Havia uma floresta bem ai ao seu lado.

Porque pegar o carro para se mover quilometros para a floresta mais próxima, se durante a semana continua a trabalhar para o sistema que arranca a floresta de seus pés?

Um conjunto de desejos que nos leve a viver em um ambiente de desequilíbrio não possuem a qualidade de motivação necessária para nos encaminhar a um estado de paz, natural a todo ser que se tornou verdadeiramente humano.

Não acredito que ”humanidade” seja uma característica inata dos primatas que dirigem carros e perseguem carreiras. Mas sim, uma habilidade natural de viver em equilíbrio e harmonia com tudo que existe o tempo todo em todas as áreas de nossas vidas.

Abrir mão do que se deseja e a ter a coragem para descobrir, e aceitar, aquilo que é realmente preciso para viver em paz. Sábio, é aquele que não precisar dividir a vida em categorias para compreender as implicações de suas próprias ações.

Os efeitos de nossas ações não se limitam nas categorias que criamos.

Eles influenciam tudo que existe, em todas as áreas ao mesmo tempo.

Todas as coisas se manifestam interdependentemente. Nada que existe possuí qualquer autonomia de individualidade.

Tudo que participamos envolvem as escolhas que fizemos, e nada foge ao nosso controle além de nossa própria cobiça e desejo.

Carma é o nome dado a uma verdade profunda de retribuição, que explica a mecânica de funcionamento das correlações entre ação e reação, as causas e as consequências de nossas intenções.

A vida é inconcebível, e nada é impossível.

Compreender isso nos coloca em contato com uma profunda calma. Uma despretenciosidade que pode mudar qualquer estilo de vida conturbado.

Encontrar essa paz que é viver apenas por viver, alinhado a algo mais profundo que as moralidades construidas e antagonicas, nos deixa mais próximo de toda classe de seres vivos que nos cercam.

A vida natural é muito mais simples de se manter que a vida artificial. A maior dificuldade que encontramos é a coragem para tomas decisões.

Como mencionamos, talvez apenas não tivemos outra opção.

Não tivemos a oportunidade de conhecer bons exemplos de uma conduta verdadeiramente humana.

Não tínhamos de onde copiar. O primeiro passo então é buscar por esses exemplos.

Quem são os mestres?

Como vivem, em seu silêncio, os sábios que mantêm uma conduta tão harmônica que se quer notamos que eles existiam?

O que foi que eles perceberam que mudou suas vidas e a maneira como se comportavam?

É possível que mais importante ainda do que essas perguntas seja a diferença entre o que os motivou a ampliar sua visão.

Nada no caminho do desenvolvimento espiritual se relaciona com as respostas que obtivemos, mas com o que motivou nossos passos em direção a um caminho.

Viver e paz se relaciona muito mais com a motivação que gera a ação do que com o entendimento que alcançamos. Bem motivados, vivemos em paz mesmo nos primeiros passos tropeçados nessa mudança.

Com o tempo apenas nos tornamos mais habilidosos e menos frustrados com aquilo que ainda não podemos mudar em nós mesmos. Mas, se bem motivados, continuaremos sempre caminhando.

Os mestres são aqueles que desistiram de tentar ser quem foram ensinados a ser.

Eles deixaram de usar informações emprestadas para interagir com a vida, e assim adquiriram a maestria em se tornar aquilo que sempre foram: humanos.

Viva na passividade de cada momento em reorientação dos seus costumes.

Não há nada para alcançar, apenas excessos para desistir. Mesmo que você não tenha nada físico para desistir, e seja pobre, o excesso esta em sua mente. Excesso de rancor, ou excesso de culpa auto-imposta. Algo existe que nubla sua visão e o impede de desfrutar da abundância natural da vida.

Se a sua realidade te mantém em constante busca, se sempre lhe falta algo, você e tornou um mecanismo sugestionado, e nunca encontrará paz. Insatisfatoriedade é o nome dado à sua programação.

É a habilidade de nunca estar satisfeito, e você e tornou bom nisso. Foi criado para assim ser.

Se compreender isto lhe traz alguma ansiedade, bom.

Você deve estar se aproximando de um momento de abertura.

Deve estar pronto para remover alguns dos véus que cobrem seu discernimento a respeito do que é ser realmente vivo.

Do que é seu útil a vida permitindo e beneficiando o seu fluir no simples fato de existir.

Ligue os pontos e faça sua paz consigo, nunca foi sua culpa. Nada disso é um problema para ser ultrapassado na verdade.

Estamos falando de paz pessoal, e não de paz no mundo. Não há nenhum mundo que você precisa modificar além do seu.

Desidentificação é um processo de pacifidade.

Do que você reclama? Do que você adoece?

Jogue isso no lixo junto com esse texto.

Enquanto continuar buscar por culpados ou mestres, não conhecerá sua própria sabedoria.

Respire fundo se quiser dar o primeiro passo.

A mudança verdadeira não é um passeio no parque. É inicialmente solitária e nada menos que assustadora.

There is one comment

  1. jorge gomes silva

    Tenho 72 anos e nunca li um texto tão contundente assim, até me parece que eu o buscava. Bravo, bravíssimo…..não como uma coisa corriqueira inventada no (do) mundo, mas nos termos do próprio texto, ou seja, o entendimento, a compreensão de e por cada qual. Endosso suas palavras e ao mesmo tempo gostaria de declarar que é (pelo menos ao meu ver), aquilo que mais se aproxima do que (do qual) chamamos de REAL.
    Bem, por enquanto fiquemos até aqui……Ótimo.

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