Muito se discute sobre a ética e pureza dentro dos esportes, seja ela os tradicionais (como futebol, voley, basquete, etc…) ou outdoors (como escalada, trekking, corrida de montanha, canoagem, canyoning, etc…), por isso a utilização do recurso do doping por atletas é um tema sensível e que gera polêmica sempre que o assunto vem à tona.
Atletas de renome como Lance Armstrong e Marco Pantani no ciclismo, Ben Johnson e Florence Griffith Joyner no atletismo, e muitos outros casos trazem sempre à discussão o assunto do doping da existência da ética na prática esportiva e competitiva.
Mas o que seria a relação entre doping com o montanhismo e escalada?
Para alguns nenhuma, mas para outros mais estreita do que parece .
Grande parte da discussão do doping gira em torno, por exemplo, do fato de um atleta ingerir estimulantes para potencializar a sua atividade física em uma competição de escalada, e assim prejudicar não somente aos organizadores da competição, como também diretamente todos os participantes deste campeonato.
É de conhecimento geral que há atletas que fazem de tudo para ganharem, por isso o doping é mais visto como recurso do que como tabu.
O mesmo tipo de raciocínio é considerado por alguns quando se referem à atletas que utilizam suplemento de oxigênio para subirem em alta montanha, mas esta já é uma discussão um pouco mais profunda que será feita no final deste artigo.
O que é Doping
A palavra de origem inglesa “doping” foi cunhada no turfe, quando se referia à injeção ilícita de qualquer droga estimulante aplicada no cavalo de corrida com o objetivo de garantir a vitória, e assim fraudar os resultados da competição.
Além de ser comprovadamente prejudicial à saúde, o doping é proibido nos esportes porque acima de tudo é uma conduta antiética de qualquer atleta atleta por proporcionar uma vantagem competitiva desleal em relação aos outros atletas.
Em uma hipótese estapafúrdia de que o doping fosse permitido, a igualdade de possibilidades de todos vencerem não existiria, pois previamente um ou outro atleta teria acesso a elementos mais ou menos eficientes para o desempenho físico.
Para fins de fiscalização, o controle dos elementos químicos que são classificados como doping são realizados através de um “exame antidoping”.
Este exame consiste na coleta de uma amostra de urina do atleta imediatamente após o fim de uma competição.
Para alguns tipos de esportes e competições, como o Tour de France e o Giro D’Italia é adotado também a realização de exames surpresa nos atletas.
A determinação de que tipos de elementos químicos são considerados dopantes e feito ela AMA – Agência Mundial Antidoping (WADA – World Anti-Doping Agency) .
Tipos de Doping
Cada elemento químico que é banido (leia-se proibido) pela Agência Mundial Antidoping é dividido em categorias, e cada um destes é analisado nos exames anti-doping.
Maioria das competições consideradas de grande credibilidade realizam exame antidoping nos competidores.
As principais categorias de drogas banidas são:
- Estimulantes
São substâncias químicas que agem diretamente no cérebro do atleta, estimulando o rendimento corporal tanto mentalmente quanto fisicamente, intensificando a agressividade, a competitividade e o estado de alerta, além de, dependendo da substância ajudar no combate ao cansaço físico.
A característica deste tipo de elemento químico é que aumenta consideravelmente a adrenalina, e quando tomado em grandes quantidades causa paradas cardíacas e derrames.
Ex.: Efedrinas, Mesocarb, Estricnina, Anfetaminas, Cocaína, Chá de Coca, Cafeína, e etc
- Narcóticos
Variedade de substâncias que fazem adormecer e reduzem ou eliminam a sensibilidade, diminuindo também a sensação de dor.
Assim um atleta não sentiria uma contusão leve, por exemplo.O seu uso em doses não controladas produzem depressão respiratória, prisão de ventre, náusea, vômitos, e contração das pupilas.
Ex.: heroína, codeína e morfina.
- Esteroides anabólicos
Os esteroides são utilizados na medicina para o tratamento de pacientes que necessitam recuperar de cirurgias e doenças graves.
Procurando imita os efeitos da testosterona, o hormônio masculino, os esteroides anabólicos são voltados para o fortalecimento, pois estimulam as células dos dos ossos e dos músculos a sintetizarem proteínas, permitindo assim que atletas consigam aumentar a carga de treinamento.
Os esteroides anabólicos possuem como efeitos colaterais tais como traços masculinos em mulheres, infertilidade, impotência, espinhas e danos nos rins, endurecimento de artérias.
- Diuréticos
Os diuréticos ajudam a eliminar os fluídos do corpo e são usualmente utilizados para tratar doenças nos rins, problemas de fígado, pressão alta, distúrbios cardíacos, pois aumentam a produção de urina e consequentemente reduzem o inchaço dos tecidos provocado pela retenção de líquidos.
Alguns atletas recorrem aos diuréticos para rápida perda de peso e, também, para disfarçar alguma presença substâncias em seu corpo diluindo a urina e assim dificultar a detecção de remédios proibidos.
Ex.: Treiamtereno, Acetazolamida, bumetanida, espironolactona, clortalidona, ácido etacrínico, furosemida, hidroclorotiazida, mersail.
- HGH
O elemento HGH, conhecido como hormônio do crescimento humano (Human Growth Hormone) é um hormônio natural que estimula o crescimento e promove mais facilmente a síntese de proteínas estimulando a formação de tecidos e músculos.
Quando ingerido inadequadamente, especialmente por adultos, ocorre hiper crescimento de mãos, pés e mandíbulas excessivamente causando assim certo desfiguramento.
- Eritropoietina
A Eritropoietina, também chamada de hemopoetina, é mundialmente conhecida pela sigla EPO é um hormônio sintetizado pelos rins que servem para regular a produção de glóbulos vermelhos, ampliando assim a capacidade do corpo humano utilizar oxigênio.
Este elemento é muito popular por praticantes de esportes que requerem muita resistência como maratonistas, corredores de montanha e praticantes de alta montanha.
O EPO possui como efeitos colaterais o aparecimento de coágulos em veias e artérias, inchaço no cérebro e convulsões.
- Beta-bloqueadores
Os beta-bloqueadores são usados na medicina para tratar de casos de angina, pressão alta e doenças cardíacas, e bloqueiam a transmissão de impulsos por meio dos beta receptores localizados no coração, nos pulmões e nas veias.
Quando consumidos por atletas diminui os batimentos cardíacos e evitam tremores em modalidades como arco e flecha e tiro ao alvo.
Dentre os efeitos colaterais estão a fadiga, depressão e falência do coração.
- Injeção de glóbulos vermelhos
Conhecido popularmente como “doping sanguíneo”, consiste na injeção de glóbulos vermelhos, ou de outros produtos semelhantes, para aumentar o número deste tipo de células no corpo. O sangue injetado é tirado do atleta durante um treinamento intenso, armazenado e depois recolocado cerca de um mês antes de uma competição.
Dentre os efeitos colaterais desse método inclui desde o aparecimento de infecções sanguíneas graves, febre, calafrios, falência dos rins e danos cerebrais.
Doping na escalada e montanhismo?
- Não
É discutido largamente se o uso de máscara de oxigênio para ascensão em alta montanha seria, ou não, de fato doping, e que, em teoria, tiraria a “legitimidade” da subida.
Uma discussão tão importante quando considerar que o herói de quadrinhos Noturno se teleportar ao topo de Everest e voltar também constituiria uma ascensão.
A mesma discussão infrutífera e extremamente filosófica, possivelmente levantada pelas mesmas pessoas apegadas demasiadamente à teoria, é a de comparar o uso de garrafas de oxigênio à possibilidade de atletas de competições de escalada podem ou não tomar um café expresso antes da competição, e o quanto isso daria de vantagem aos outros.
Considerando que chegar ao topo da montanha não é, ou pelo menos não deveria ser, uma competição com ninguém e apenas um recurso para preservar a própria vida, é estapafúrdio pensar que um tanque de oxigênio seria doping esportivo na prática de alta montanha.
Usar um tanque suplementar de oxigênio não quer dizer que a pessoa esteja despreparada para subir uma montanha, pois há outros fatores que devem ser levados em conta, e são independentes do uso de oxigênio, cafeína ou até mesmo hipnose.
Este tipo de discussão (oxigênio em alta montanha) é apenas uma masturbação sociológica levantada por puristas, e que seguramente rendem boas conversas em mesas de bar, mas efetivamente não significa ser verdade.
- Sim
Quando colocamos no centro da conversa um ambiente competitivo de campeonatos, a conversa muda de rumo, e é necessário colocar elementos como ética e regras de jogo.
Porém em ambientes competitivos, como um campeonato de escalada , uma atividade de cross country, na qual é requerido igualdade de condições a todos os atletas, é inaceitável a existência de um doping.
Mesmo que um cafezinho expresso pareça inofensivo, aquela dosa intensa de cafeína faz com que a igualdade de condições que é necessária na competição esportiva, por exemplo, seja comprometida.
Não somente em campeonatos de escalada, mas em corridas de montanha, um caso de doping pode colocar toda a credibilidade de um atleta no lixo.
Cabe ao atleta, especialmente no momento de decidir tornar-se de fato um atleta, ter a plena consciência de que a ética e seu comportamento perante ao doping faz ele ser um vencedor ou uma fraude.
Principalmente porque em competições um atleta está representando não somente sua vontade de ganhar, e também de patrocinadores, organizadores e da credibilidade de seu esporte.
- Depende
Para quem pratica atividades esportivas de maneira não profissional, e a tem praticado como lazer e não como profissão, fica por sua própria conta a decisão de dopar-se ou não.
Claro que na hipótese de alguém ingerir, ou injetar, qualquer tipo de droga no momento de escalar uma via, ou iniciar uma corrida, caminhar em um trekking, o atleta terá sempre na sua consciência o fato de que utilizou de métodos não naturais para atingir seu objetivo.
Se a pessoa conseguir conviver com isso, e acreditar que não há mal nenhum, não existe nenhum motivo para que uma atividade de lazer seja levada ao purismo extremado.
Entretanto, se o praticante é adepto do purismo máximo, e preza por não utilizar nenhum estimulante, este poderá ter o prazer de dormir todos os dias sabendo que não necessitou de nada, somente de si, para atingir seu objetivo.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.