O peso do corpo é determinante na escalada, isso é um fato inegável. Obviamente isso se deve a que carregamos esta carga (nosso peso) até lá em cima, e contra a força da gravidade.
Quanto mais subimos, mais se é sentido o peso, fator este que influencia ainda mais em uma via ou boulder. Entretanto, assim como organizamos o interior de nossas mochilas para um trekking ou atividades de montanha, o que buscamos é otimizar levando o mínimo necessário e o mais leve possível.
Porém é necessário atenção, porque a relação não é proporcional na escalada, e não significa que quanto menos peso tenhamos, melhor escalaremos, pois é necessário conseguir fazer os movimentos que exigem força e resistência, pois mais vale estar “bem equipado” muscularmente falando. Saiba que os músculos são mais pesados que gordura.
Por isso para chegar a um estado físico ideal, é necessário chegar a um ponto de equilíbrio na combinação de peso/potência, em outras palavras: nem tão leve, nem tão pesado. O escalador deve considerar que escalar requer:
- Minimizar a carga aplicada em cada agarra (estar leve), mas podendo sustentar-se (estar forte)
- Resistir à distorção do corpo (deve ser forte para os movimentos que requer contraposição e volume, e leve para os negativos e tetos)
- Realizar o movimento: lutar conta a força da gravidade (o que requer força muscular)
Sendo mais específico, temos de identificar as formas de massa: a camada de gordura e a massa magra. A gordura é utilizada como combustível nos esforços de grande duração (mas não tão útil aos escaladores). A massa magra (os músculos e a carne) serve de motor, ou seja sustenta o escalador nas agarras.
O peso da forma física é o peso que permite a melhor performance e que corresponde ao melhor rendimento mecânico. Esta relação, portanto, é a otimização entre peso mínimo e potência máxima.
Mas mantê-lo controlado é difícil e existe uma linha tênue entre estar “otimizado” e muito magro, perdendo então massa magra. Para poder controlar esta relação é recomendavel:
- Pesar-se regularmente (mas não diariamente, e sim de mensalmente).
- Evitar concentrar-se nas pequenas variações naturais e inevitáveis, além de tratar de identificar as tendências (tanto de alta quanto de queda).
- Avaliar-se com um profissional sobre a porcentagem de gordura de maneira precisa, e assim pedir uma avaliação a respeito de sua necessidade.
Realizar uma dieta adequada, rica em alimentos que sejam boa fonte de gordura (Ômega 3 por exemplo), como carne magra, ovos, sementes, cereais, frutas secas, entre outros alimentos, além de comer a cada dois ou três horas repartindo bem o consumo diário ideal de calorias.
Consulte SEMPRE um nutricionista para a elaboração de seu cardapio.
Realizar exercícios cardiovasculares minimamente de dois a três horas na semana (corrida, spinning, CrossFit, treinamento funcional, bicicleta, etc…)
Evitar o abuso do treinamento com pesos (trabalhos de musculação) que realize um desenvolvimento muscular muito elevado. Use, se possível, o peso do corpo como ferramenta de trabalho físico.
A obsessão em baixar o peso
O primeiro escalador que não tenha preocupação em baixar o peso para melhorar o rendimento que atire a primeira pedra. Claro que alguns quilos a menos se sentem consideravelmente quando está escalando uma via, e muito normal subir o nível da escalada quando se diminui o peso corporal.
Esta variável (peso x rendimento) é um assunto importante, sobretudo quando busca-se o alto rendimento. Evidentemente o ideal é conseguir o peso mínimo mas sem que afete a força e a saúde, pois cada grama de peso não desejado pode roubar valiosa energia que necessitamos na subida.
A escalada é um esporte que exige estar leve e quanto a isso não há dúvidas. Há ainda um fator estético que, é estar magro, sendo motivo para ingerir a menor quantidade de alimento possível. No mundo há numerosos casos de escaladores, homens e mulheres, que frente à obsessão de render mais, desenvolveram distúrbios alimentares, incluindo a chegar à anorexia ou bulimia.
- A anorexia é uma disfunção alimentar, caracterizada por uma rígida e insuficiente dieta alimentar ocasionando baixo peso corporal, chegando ao peso corporal em 85% ou menos do nível normal.
- A bulimia é um transtorno alimentar caracterizado por períodos de compulsão alimentar seguidos por comportamentos não saudaveis para perda de peso rápido como induzir vômito, uso de laxantes, abuso de cafeína, uso de cocaína e dietas inadequadas
Um exemplo emblemático é o caso da Áustria, na qual sua Federação de Escalada Esportiva do país proibiu escaladores com índice de massa corporal (IMC) inferior a 17 de participar de competições. O índice de massa corporal (IMC), criado desde o século XIX, é uma medida internacional usada para calcular se uma pessoa está no peso ideal, determinado pela divisão da massa do indivíduo (KG) pelo quadrado de sua altura (m).
O resultado é comparado com uma tabela que indica o grau de obesidade do indivíduo:
IMC | Classificação |
< 16 | Magreza grave |
16 a < 17 | Magreza moderada |
17 a < 18,5 | Magreza leve |
18,5 a < 25 | Saudavel |
25 a < 30 | Sobrepeso |
30 a < 35 | Obesidade Grau I |
35 a < 40 | Obesidade Grau II (severa) |
≥ 40 | Obesidade Grau III (mórbida) |
Porém há sentido em desqualificar um atleta pelo seu índice de massa corporal quando na realidade depende da condição física de cada pessoa?
Chris Sharma, por exemplo, pesa entre 71 a 75 kg e mede 1,84 m. Baseado nestas medidas ele possui um IMC de 21,6. Importante lembrar que uma pessoa fisionomicamente magra não necessariamente é anoréxica.
Por esta razão o tema do peso é necessário sempre questionar, pois nem sempre a proibição é sinônimo de solução. Mas é certo que é bastante recorrente no mundo da escalada atletas com um grau baixo de anorexia, não somente pela obsessão de pesar o menor valor possível, mas também por acreditar que estão melhor visualmente na rocha ou competições.
Particularmente nas mulheres há a escolha de perder peso, em detrimento de desenvolver musculatura, para alcançar um nível de manutenção estético. Importante dizer que isso não é ruim, mas desde que sempre se mantenha nesta lógica níveis saudaveis. Dietas malucas, e sem acompanhamento de nutricionista, como nunca incluir carboidratos e açúcares provoca desordens que acarretam em danos para a saúde irreversíveis.
Por isso uma vez que o metabolismo muda, não volta a ser o mesmo. Por isso caso um atleta deixa de ingerir gordura, por exemplo, o corpo será capaz de tolerar ou digeri-las. Por isso é importante ter bastante claro que todas as pessoas são diferentes, e possuem características fisiológicas diferentes, e que não necessariamente estar pele e osso implica em escalar ou aparentar melhor.
Portanto é importante não se pressionar e, mais ainda, não comparar-se com a pessoa ao lado porque está mais magra e encadena mais vias. O ideal é conseguir ter uma harmonia entre peso e força, já que perder muitos quilos também implica perder capacidade.
Desfrutar da vida também é uma forma de sentir-se melhor e sem dúvida é uma qualidade mais atraente da que transmite uma pessoa extremamente magra.
Tradução autorizada de: http://soloboulder.com/
Equipe da redação