O peso ideal de um escalador e a perigosa obsessão em baixá-lo

O peso do corpo é determinante na escalada, isso é um fato inegável. Obviamente isso se deve a que carregamos esta carga (nosso peso) até lá em cima, e contra a força da gravidade.

Quanto mais subimos, mais se é sentido o peso, fator este que influencia ainda mais em uma via ou boulder. Entretanto, assim como organizamos o interior de nossas mochilas para um trekking ou atividades de montanha, o que buscamos é otimizar levando o mínimo necessário e o mais leve possível.

Porém é necessário atenção, porque a relação não é proporcional na escalada, e não significa que quanto menos peso tenhamos, melhor escalaremos, pois é necessário conseguir fazer os movimentos que exigem força e resistência, pois mais vale estar “bem equipado” muscularmente falando. Saiba que os músculos são mais pesados que gordura.

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Foto: www.patchworkandpebbles.com

Por isso para chegar a um estado físico ideal, é necessário chegar a um ponto de equilíbrio na combinação de peso/potência, em outras palavras: nem tão leve, nem tão pesado. O escalador deve considerar que escalar requer:

  • Minimizar a carga aplicada em cada agarra (estar leve), mas podendo sustentar-se (estar forte)
  • Resistir à distorção do corpo (deve ser forte para os movimentos que requer contraposição e volume, e leve para os negativos e tetos)
  • Realizar o movimento: lutar conta a força da gravidade (o que requer força muscular)

Sendo mais específico, temos de identificar as formas de massa: a camada de gordura e a massa magra. A gordura é utilizada como combustível nos esforços de grande duração (mas não tão útil aos escaladores). A massa magra (os músculos e a carne) serve de motor, ou seja sustenta o escalador nas agarras.

O peso da forma física é o peso que permite a melhor performance e que corresponde ao melhor rendimento mecânico. Esta relação, portanto, é a otimização entre peso mínimo e potência máxima.

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Mas mantê-lo controlado é difícil e existe uma linha tênue entre estar “otimizado” e muito magro, perdendo então massa magra. Para poder controlar esta relação é recomendavel:

  • Pesar-se regularmente (mas não diariamente, e sim de mensalmente).
  • Evitar concentrar-se nas pequenas variações naturais e inevitáveis, além de tratar de identificar as tendências (tanto de alta quanto de queda).
  • Avaliar-se com um profissional sobre a porcentagem de gordura de maneira precisa, e assim pedir uma avaliação a respeito de sua necessidade.

Realizar uma dieta adequada, rica em alimentos que sejam boa fonte de gordura (Ômega 3 por exemplo), como carne magra, ovos, sementes, cereais, frutas secas, entre outros alimentos, além de comer a cada dois ou três horas repartindo bem o consumo diário ideal de calorias.

Consulte SEMPRE um nutricionista para a elaboração de seu cardapio.

Realizar exercícios cardiovasculares minimamente de dois a três horas na semana (corrida, spinning, CrossFit, treinamento funcional, bicicleta, etc…)

Evitar o abuso do treinamento com pesos (trabalhos de musculação) que realize um desenvolvimento muscular muito elevado. Use, se possível, o peso do corpo como ferramenta de trabalho físico.

A obsessão em baixar o peso

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Foto: http://www.excesodepeso.com.ar/

O primeiro escalador que não tenha preocupação em baixar o peso para melhorar o rendimento que atire a primeira pedra. Claro que alguns quilos a menos se sentem consideravelmente quando está escalando uma via, e muito normal subir o nível da escalada quando se diminui o peso corporal.

Esta variável (peso x rendimento) é um assunto importante, sobretudo quando busca-se o alto rendimento. Evidentemente o ideal é conseguir o peso mínimo mas sem que afete a força e a saúde, pois cada grama de peso não desejado pode roubar valiosa energia que necessitamos na subida.

A escalada é um esporte que exige estar leve e quanto a isso não há dúvidas. Há ainda um fator estético que, é estar magro, sendo motivo para ingerir a menor quantidade de alimento possível. No mundo há numerosos casos de escaladores, homens e mulheres, que frente à obsessão de render mais, desenvolveram distúrbios alimentares, incluindo a chegar à anorexia ou bulimia.

  • A anorexia é uma disfunção alimentar, caracterizada por uma rígida e insuficiente dieta alimentar ocasionando baixo peso corporal, chegando ao peso corporal em 85% ou menos do nível normal.
  • A bulimia é um transtorno alimentar caracterizado por períodos de compulsão alimentar seguidos por comportamentos não saudaveis para perda de peso rápido como induzir vômito, uso de laxantes, abuso de cafeína, uso de cocaína e dietas inadequadas

Um exemplo emblemático é o caso da Áustria, na qual sua Federação de Escalada Esportiva do país proibiu escaladores com índice de massa corporal (IMC) inferior a 17 de participar de competições. O índice de massa corporal (IMC), criado desde o século XIX, é uma medida internacional usada para calcular se uma pessoa está no peso ideal, determinado pela divisão da massa do indivíduo (KG) pelo quadrado de sua altura (m).

IMC

O resultado é comparado com uma tabela que indica o grau de obesidade do indivíduo:

IMC Classificação
< 16 Magreza grave
16 a < 17 Magreza moderada
17 a < 18,5 Magreza leve
18,5 a < 25 Saudavel
25 a < 30 Sobrepeso
30 a < 35 Obesidade Grau I
35 a < 40 Obesidade Grau II (severa)
≥ 40 Obesidade Grau III (mórbida)

Porém há sentido em desqualificar um atleta pelo seu índice de massa corporal quando na realidade depende da condição física de cada pessoa?

Chris Sharma, por exemplo, pesa entre 71 a 75 kg e mede 1,84 m. Baseado nestas medidas ele possui um IMC de 21,6. Importante lembrar que uma pessoa fisionomicamente magra não necessariamente é anoréxica.

Por esta razão o tema do peso é necessário sempre questionar, pois nem sempre a proibição é sinônimo de solução. Mas é certo que é bastante recorrente no mundo da escalada atletas com um grau baixo de anorexia, não somente pela obsessão de pesar o menor valor possível, mas também por acreditar que estão melhor visualmente na rocha ou competições.

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Particularmente nas mulheres há a escolha de perder peso, em detrimento de desenvolver musculatura, para alcançar um nível de manutenção estético. Importante dizer que isso não é ruim, mas desde que sempre se mantenha nesta lógica níveis saudaveis. Dietas malucas, e sem acompanhamento de nutricionista, como nunca incluir carboidratos e açúcares provoca desordens que acarretam em danos para a saúde irreversíveis.

Por isso uma vez que o metabolismo muda, não volta a ser o mesmo. Por isso caso um atleta deixa de ingerir gordura, por exemplo, o corpo será capaz de tolerar ou digeri-las. Por isso é importante ter bastante claro que todas as pessoas são diferentes, e possuem características fisiológicas diferentes, e que não necessariamente estar pele e osso implica em escalar ou aparentar melhor.

Portanto é importante não se pressionar e, mais ainda, não comparar-se com a pessoa ao lado porque está mais magra e encadena mais vias. O ideal é conseguir ter uma harmonia entre peso e força, já que perder muitos quilos também implica perder capacidade.

Desfrutar da vida também é uma forma de sentir-se melhor e sem dúvida é uma qualidade mais atraente da que transmite uma pessoa extremamente magra.

Tradução autorizada de: http://soloboulder.com/

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