Nova forma de patriotismo? Entenda o que é o “Civilian Climate Corps” nos EUA

Civilian Climate Corps: se você tem vontade de trabalhar com alguma atividade de natureza (como atleta ou mesmo com preservação), já deveria saber o que é. Se não sabe o que é, fique atento, pois muito provavelmente será a temática que fará parte de campanhas eleitorais e de futuros planos de governos em outros países, como o Brasil.

Por definição, patriotismo é um sentimento de orgulho, amor e devoção à pátria, aos seus símbolos e ao seu povo. Importante lembrar que nacionalismo, que é uma ideologia, erroneamente é utilizado como sinônimo. Foi apelando a ele que muitos países se reconstruíram de guerras e tragédias.

Ser um patriota implica fazer algo de bom pelo seu país, sua cultura ou nação. Esse conceito, que é bem difundido nos EUA e comumente confundido com arrogância, foi construído através da história e notadamente é bem mais presente do que no Brasil (com exceção das épocas de Copa do Mundo de futebol).

O patriotismo norte-americano é, na verdade, respeito pela história, lutas, conquistas e patrimônios nacionais. Pois o presidente Joe Biden agora procura inspirar uma nova forma de patriotismo nos EUA, baseado no orgulho pelo meio ambiente e seus muitos recursos naturais.

O que é o Civilian Climate Corps nos EUA

A economia do mundo inteiro sofreu com a pandemia de COVID-19, mas há países que estão pensando no futuro, como os EUA, e outros, como o Brasil, que ainda continua com os olhos nos anos 1960 e ‘perseguindo comunistas’. Prova disso é que o governo de Joe Biden quer injetar trilhões de dólares para fazer o país se reinventar no século XXI e, finalmente, deixar o século XX.

Sempre se apoiando no compromisso nacional e internacional dos EUA com a agenda climática, o governo Biden está implementando o Civilian Climate Corps. O programa é nada menos que um novo Neal Deal, que foi uma série de programas implementados com o objetivo de recuperar e reformar a economia norte-americana durante a Grande Depressão.

O Neal Deal articulou investimentos estatais e privados, reformas para adequar diversos setores da economia e estimular o consumo, reaquecendo assim a economia daquele país. As medidas tomadas nesse período buscaram, acima de tudo, a geração de empregos e criar um ciclo virtuoso de desenvolvimento.

No começo da década de 1940, o New Deal era um sucesso, uma vez que colocou a economia dos EUA no mesmo patamar em que se encontrava antes da crise. Pois é esse mesmo impulso que Joe Biden deseja dar para a economia norte-americana, mas desta vez voltando-se para a “economia verde”.

O Civilian Climate Corps é, em linhas gerais, uma iniciativa para criar novos empregos para jovens, formando-os para atividades na área de meio ambiente, assim como empresas com foco em atividades outdoor, para proporcionar uma maior inclusão, visto que elas, assim como os meios de comunicação dedicados à atividade, já foram constantemente criticados por parecerem homogeneamente brancos.

Sim, você leu certo, Biden quer pagar pessoas para ajudarem a combater as mudanças climáticas, colocando-as para trabalhar em projetos de conservação. E, sim, isso tem tudo a ver com os esportes outdoor e manutenção de áreas naturais.

A agenda de conservação climática com formação de empregos de Biden se assemelha ao Civilian Conservation Corp (CCC), criado pelo então presidente norte-americano Franklin Roosevelt. Agora tem uma grande diferença, pois é voltado a todos: mulheres e minorias.

Isso porque em 1933, o CCC só permitia homens e os segregava de acordo com a raça. Agora, o CCC de Biden visa a inclusão diversificada tanto em raça quanto em gênero.

Resumindo: O Civilian Climate Corps inspira-se no Civilian Conservation Corps, que fazia parte do New Deal, que, à época, empregou cerca de 3 milhões de norte-americanos. Muitos desses, durante a vigência do CCC, se mudaram de leste para oeste no país, para lugares onde nunca haviam estado antes, construindo estradas, pontes, linhas telefônicas, acampamentos e represas.

O CCC original terminou em 1942, interrompido pela Segunda Guerra Mundial. Mas enquanto durou, de acordo com o livro do historiador Neil Maher “Nature’s New Deal” de 2009, aumentou a consciência de conservação de muitos de seus participantes.

O programa CCC original também tinha valor educacional para as pessoas que viviam nos acampamentos. Muitos dos que participaram aprenderam a ler e escrever durante o tempo que estiveram no programa. Além disso, centenas de pessoas foram trabalhar com o Serviço Nacional de Parques, unidades de serviços florestais do Departamento de Agricultura e outros programas de conservação federais, estaduais e locais norte-americanos.

Uma parte do plano de Biden pede US$ 10 bilhões para lançar um ‘novo CCC do século XXI’, dessa vez em grande escala, tem objetivo de combater o problema das mudanças climáticas, fortalecer as defesas naturais dos EUA e manter as terras públicas longe dos interesses de empresas privadas. além disso, apostar na inclusão social e fortalecer o espírito de sociedade em todos.

Um ‘novo CCC’, revisto e modernizado, poderia ser um lembrete de algo que muitos norte-americanos parecem ter esquecido: a capacidade de um governo de ser um instrumento do bem comum. Ao em vez de alimentar-se de diferenças ideológicas, preparar a sociedade norte-americana para o futuro.

Assim, os Civilian Climate Corps seriam uma força-tarefa dedicada a mobilizar a próxima geração de conservacionistas, criando empregos que restauram terras e águas públicas, aumentando o reflorestamento e diminuindo a pegada de carbono na agricultura, protegendo a biodiversidade e, em última instância, lidando com as mudanças climáticas.

Biden espera aumentar o financiamento para US$ 40 bilhões com a aprovação do projeto de lei no Congresso norte-americano. Assim, de maneira indireta, a indústria de atividades outdoor pode receber um incentivo nunca antes visto na história do país.

Unindo programa econômico, agenda ambientalista, adicionando o velho patriotismo norte-americano, ser outdoor ou ser ambientalista vai ser mais que uma modinha, mas uma identificação de uma nação. Se os empregos de tecnologia foram o que mudaram a cara do mercado de trabalho no início do século XXI, os “empregos verdes” serão a próxima tendência.

Resta, obviamente, ver se o desejo de Biden, de fato, vai se concretizar.