Mulheres na montanha: O encontro com a liberdade?

Nota do editor: Na semana da mulher, a Revista Blog de Escalada pediu que praticantes destacadas de seus esportes escrevessem seus sentimentos sobre o universo outdoor, tendo toda a liberdade para expor seus sentimentos. Desta maneira a Revista Blog de Escalada, mais uma vez, demonstra ser o veículo brasileiro que mais respeita a diversidade.

O texto é de inteira responsabilidade e autoria das convidadas. Sem qualquer tipo de censura prévia.

A quinta convidada na semana da mulher é a colunista mexicana Sofía Arredondo do site parceiro Freeman


Por Sofía Arredondo

Mulheres na montanha

Fanny Bullock Workman (1859 – 1925) – Uma das primeiras montanhistas profissionais

Desde 1975 (designado pela ONU) comemora-se o Dia Internacional da Mulher, dia que se reafirma o legado histórico dos programas e objetivos acordados, em cada canto do mundo, para melhorar a condição das mulheres, muito além das fronteiras, idiomas, nacionalidades, etnias, culturas e classes sociais.

Dentro do universo do montanhismo, o caminho percorrido pelas mulheres, ao longo da história chegou, em muitas ocasiões, muito além dos cumes. Têm sido nas montanhas a diferença do que ocorre em outros âmbitos sociais, nos quais a igualdade de gênero é mais real.

Homens e mulheres de todas as culturas se sentem atraídos e conectados pelas montanhas desde muitos séculos e das mais diferentes maneiras. É difícil situar a data a qual as mulheres se sentiram pela primeira vez o chamado da montanha, entendido como temos o conceito hoje, como a ideia de chegar ao cume, superando barreiras físicas e mentais, para voltar sãos e salvos.

O que é certo, é que as montanhas, concebidas em seu aspecto natural, não distinguem gêneros ou classes.

O montanhismo não é masculino: tão logo as mulheres começaram a se aventurar, mostraram suas indiscutíveis capacidades. O montanhismo tampouco é somente dos de “primeiro mundo”. No México, Argentina, Brasil ou Paquistão, as mulheres têm demonstrado que as barreiras não existem quando se trata de conseguir seus sonhos.

Mulheres na montanha

Fanny Bullock Workman (1859 – 1925) – Uma das primeiras montanhistas profissionais

Mas, por que as montanhas são um lugar de emancipação?

Sim, é verdade, a montanha nos engrandece por si só. Um cume não nos faz melhores, ou piores, pessoas. São os valore dos homens e as mulheres que determinam a experiência na montanha.

Mulheres na montanha

Wanda Rutkiewicz – A primeira mulher a chegar ao cume do K2 em 1986

Mas há algo na prática do montanhismo que propicia a emancipação. A liberação. É na montanha que nos medimos, diante tudo, com a força da natureza e, em segundo lugar, com nós mesmos.

Na montanha, em alguns momentos, saímos da vida cotidiana, seus estigmas, rotinas e padrões de comportamento, situações as que, fora da zona de conforto, independente do gênero, nacionalidade ou classe social, nos sentimos parte de um todo. Talvez nos descobrimos vulneráveis.

A montanha é um território de liberdade, não unicamente de saber-se livre, senão compreender que a liberdade pessoal não somente depende de nós, mas também de nosso entorno.

Como escaladora, me sinto conectada com esta cultura inconformista, que se opõe ao crescente materialismo, contaminação e corrupção da sociedade. Nosso foco na escalada tradicional, com uma menor dependência de equipamento, em certo sentido, é uma extensão de nosso ponto de vista ético”
– Lynn Hill

Mexicanas na montanha

A lista de mulheres mexicanas que maracaram a história do montanhismo no México (país que vivo) é longa e difícil colocar tudo aqui.

Não obstante, cada uma, seja alpinista, escaladora, boulderista, corredora de montanha ou ciclista, encontrou o chamado da montanha, com sua personalidade irreverente, no melhor sentido do termo, sabendo deixar para trás prejuízos, barreiras e estigmas.

Para apenas exemplificar, cito Elsa Ávila, que deixou um legado importantíssimo pelas suas mais d oito expedições ao Himalaia e ao cume do Monte Everest (8.848 m) em 1999.

Mulheres na montanha

María Fernanda Rodríguez – Primeira mexicana a encadenar via esportiva de 11c

Cito também as gerações mais jovens, como Maria Fernanda Rodríguez, a primeira mexicana a encadenar uma via de 11c brasileiro (9a francês / 5.14 americano). Há ainda Lorena Drumundo, campeã pan-americana de Mountain Bike, um esporte que até hoje é de predominância masculina. Kari Carsolio, uma das corredoras de montanha de mais destaque do México.

A lista continua com uma extensão que não caberia em um simples artigo, mesmo assim nem poderia fazer justiça a cada uma das mulheres que, com título ou sem eles, deixaram seu coração na montanha. Abrindo um caminho novo e cheio de possibilidades.

Em mais um dia 8 de março nos unimos em celebração, também em memória e esforço constante, por um mundo que, como a montanha, não imponha etiquetas ao ser humano.

Mulheres na montanha

Lorena Dromundo,Campeã panamericana downhill | Foto: Edgar Hurtado

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