No filme “Tropa de Elite” (2007), há uma cena que ilustra bastante o tipo de treinamento mental, que passa um policial da força especial do Rio de Janeiro. Nela, o personagem Capitão Nascimento, vivido por Wagner Moura, está falando em uma voz bem calma, com tom grave, a respeito dos significados filosóficos da estratégia. A aula está sendo dada no final de um dia exaustivo de treinamentos físicos, e grande parte dos recrutas estão esgotados. A estratégia do instrutor era provocar sono nos recrutas, para que aprendessem a resistir à vontade de dormir. No filme, o próprio Capitão Nascimento utiliza de um recurso didático não muito ortodoxo, para manter a atenção da turma nele.
Pois o filme “Mountain”, produzido pela diretora Jennifer Peedom, parece querer provocar o mesmo sentimento de sonolência e letargia que o discurso do Capitão Nascimento sobre estratégia. Mas sem utilizar o mesmo instrumento que o personagem de Wagner Moura. A produção possui um visual inegavelmente exuberante, mas peca na ausência total de história. A todo tempo são proferidas frases que parecem extraídas de algum livro de autoajuda, narradas por Willem Dafoe. Tudo isso é um convite ao sono e ao tédio.
Ao todo, são 74 minutos de imagens captadas por drones e outros tipos de recursos muito utilizados em filmes outdoor, mas sem qualquer nexo umas com as outras, ou mesmo com o a expectativa de quem está assistindo. “Mountain” se mostra ao longo de sua projeção como uma produção vazia e dispensável, que está no mesmo nível dos realities promovidos por canal a cabo dedicado a filmes de surf. Mesmo que o expectador comece a ver o filme, mas saia por alguns instantes para ir ao banheiro ou fazer uma pipoca, não terá perdido nada da produção.
Para ser exibido em academias de escalada, lojas de televisores e lojas de produtos outdoor, “Mountain” talvez seja uma obra interessante. Mas é inegavelmente torturante assistir a tantas imagens, algumas até mesmo repetidas, com narração ao fundo no estilo de “Melhores Salmos” do apresentador Cid Moreira. A diretora Jennifer Peedom, que já tinha feito o filme “Sherpa – Trouble in Everest” e vinha sendo aclamada pela crítica e público, parece ter perdido um pouco a mão em uma produção tão sem pé nem cabeça.
A tentativa de fazer uma obra artística, mas extremamente arrastada e sem qualquer história que prendesse o expectador, “Mountains” é uma das grandes decepções de 2018 em termos de produções de esportes de montanha. Há, sem sombra de dúvida, muita qualidade técnica nas filmagens. Mas há também a total inexistência de história que as amarre. O uso excessivo de imagens em câmera lenta flerta com a cafonice.
Se baseando em tomadas longas de esportistas, apenas tenta emular os vídeos de músicas da extinta MTV. Uma espécie de videoclipe de intelectuais montanhistas. A produção parece ser claramente algum devaneio deste tipo. Se o Capitão Nascimento tivesse exibido o filme para seus recrutas, ao invés de falar sobre a filosofia da estratégia, o final de “Tropa de Elite” seria outro.
Nota Revista Blog de Escalada:

Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.
Belas paisagens e só.
No mais, muito monótono.