O governo do Nepal se recusa comentar o assunto da explosão de infecções por COVID-19 no Acampamento Base do Everest (5.364 m) e Vale de Khumbu. A denúncia foi feita pelo jornalista Alan Arnette em seu blog, que afirma que o negacionismo nepalês pode conduzir a uma tragédia.
Arnette é considerado o mais bem informado jornalista do mundo em coberturas sobre escaladas no Monte Everest (8.849 m). Segundo o jornalista, o Ministério de Turismo nepalês ignora os casos positivos, enquanto as agências de trekking no Acampamento Base do Everest também se silenciam.
Todas as agências continuam postando nas redes sociais as movimentações dos montanhistas para acampamentos mais altos e cerimônias de puja. Estas mesmas agências se omitem de mencionar os montanhistas (incluindo membros de sua própria equipe) transferidos de helicóptero e testados como positivos para o vírus.
COVID-19 no Acampamento Base do Everest
Acampamento Base do Everest
Por definição, negacionismo é a escolha de negar a realidade como forma de escapar de uma verdade desconfortável. O negacionismo costuma se fortalecer quando a sociedade se depara com situações de instabilidade, como uma crise ou algo nunca antes presenciado. Este é o caso do Nepal e a COVID-19.
Com a Índia, país que faz fronteira com o Nepal, experimentando uma explosão de casos de COVID-19, é questão de tempo até que chegue no Nepal. Conforme publicado na Revista Blog de Escalada, o primeiro caso conhecido foi o do montanhista norueguês Erlend Ness, que foi transferido para Kathmandu, onde o teste foi positivo.
Pouco depois o governo nepalês informou que estava com mal de altitude. Ness se mudou para um hospital diferente, onde novamente testou positivo para COVID-19. O holandês agora está se recuperando, esperando chegar em casa logo. Outro caso COVID apareceu na equipe Elite Himalayan de Nirmal Purja, com Steve Davis.
Também foi informado ao jornalista Alan Arnette que um dos principais sherpas de Nirmal Purja foi transferido para Katmandu e agora está em quarentena. Os hospitais foram instruídos pelo governo do Nepal a não comentar sobre nenhum caso COVID-19 relacionado a montanhistas.
Há quase 400 estrangeiros no Monte Everest, com um número semelhante de guias sherpas, além de algumas centenas de cozinheiros e equipe de apoio. Portanto, há aproximadamente 1.000 pessoas no Acampamento Base do Everest.
Estudos científicos já demonstraram que o vírus se espalha principalmente pelo ar. Com 1.000 pessoas próximas, o risco de infecção é real, pois basta apenas uma pessoa assintomática para contaminar uma equipe inteira.
A censura nepalesa
O governo do país é tão sensível a qualquer publicidade negativa que se esforça para acabar com as más notícias. Este ano, o Ministério do Turismo do Nepal alertou os montanhistas da existência de uma suposta lei de longa data que determina que nenhuma foto de avalanches, lixo, corpos ou uma longa fila de montanhistas poderia ser compartilhada.
Em outras palavras, qualquer coisa que pudesse ser considerada desfavorável ao governo nepalês, só poderia ser compartilhada ou postada nas redes sociais com a aprovação prévia do governo. Mas do que os funcionários do governo têm medo?
A resposta é até bem simples: perder dinheiro. O Nepal, um dos países mais pobres do mundo, precisa da indústria do turismo de volta após um devastador ano de 2020.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.