Cédric Gras, um escritor francês, tornou-se conhecido pela sua dedicação às montanhas e cultura soviética. Dentre outras características, Cédric tem destaque com a publicação de um livro sobre a história dos montanhistas soviéticos Abalákov.
Enfim, confira a seguir mais detalhes dessa história em: montanhistas soviéticos e sua história desconhecida.
Montanhistas soviéticos e sua história desconhecida
Em resumo, Cédric Gras publicou este ano na Espanha o livro Stalin’s Alpinists. A saber, trata-se da história dos irmãos Abalákov, Vitali e Yevgueni, grandes heróis da URSS por suas façanhas nos picos mais altos do mundo. Uma técnica criada e batizada de Abalákov surgiu na criatividade do irmão mais velho Vitali Abalákov. Vitali revolucionou a escalada naquela parte do mundo.
Para tal, requer mãos experientes. A saber, tornou-se conhecido pelo uso principalmente na simulação de pontes de gelo para poder ancorar ou criar um caminho livre quando o alpinista não puder encontrar nenhuma âncora confiável nas proximidades.
“Existe uma técnica no montanhismo chamada Abalákov, eu a descobri porque pratico esse esporte. Quis saber de onde vinha o nome e ao fazê-lo fiquei cara a cara com os dois irmãos”.
No livro, Gras garante ter detalhes que poucos acessaram até então.
“Aqueles que já ouviram falar dos irmãos Abalákov conhecem a história oficial, mas não sabem nada sobre a prisão de Vitali no tempo de Stalin e o grande terror. Na verdade, acho que sou a primeira pessoa a vasculhar os arquivos e trazer essa história à tona como realmente aconteceu.”
Montanhistas soviéticos: irmãos Abalákov

Irmãos Abalákov
A morte precoce de seus pais obrigou os dois irmãos a crescerem na cidade de Kanoyarsk. A saber, viviam com seu tio Iván Abalákov, um próspero comerciante. Os Abalákov eram considerados inimigos irreconhecíveis do povo por representarem tudo o que os bolcheviques queriam erradicar da vasta Rússia.
Numa noite de inverno siberiano, alguns policiais da aldeia bateram à porta. Com a entrada abrupta dos soldados, a família Abalákov iniciou sua jornada pelo que para alguns foi o pesadelo comunista. Seu tio permaneceu ativo por mais algum tempo porque a URSS estava em pleno andamento e não era propício para desperdiçar talentos.
Os jovens optaram pelas montanhas e pelas alturas. O conhecimento do montanhismo foi importado da Alemanha e da Áustria por montanhistas simpatizantes do comunismo que viam os picos do Cáucaso e da Ásia Central como um desafio muito maior do que as montanhas de seus respectivos países. Enfim, nessa época, os irmãos Abalákov aperfeiçoaram a própria técnica soviética.
Os Abalákov na Segunda Guerra Mundial e sua separação
De fato, Cédric explica no livro que antes da Segunda Guerra Mundial, o montanhismo tinha que servir à URSS em seu objetivo de construir o comunismo. Nas expedições, os irmãos Abalákov foram acompanhados por cientistas, engenheiros, geólogos, entre outros. A ideia nesse caso se voltava para a exploração do terreno, tirando o máximo proveito das montanhas.
Depois da grande guerra, o montanhismo virou esporte, deixou de ser uma prática de solitários e tornou-se mais grupal. O primeiro grande fracasso dos irmãos Abalákov ocorreu na escalada do Khan Tengri, entre China, Cazaquistão e Quirguistão. Essa subida causou a morte de um membro da expedição e custou a Vitali quatro falanges de suas mãos.
Foi um duro golpe para os irmãos. Após o fracasso, Vitali aplicou seus conhecimentos de engenharia química na fabricação de próteses que melhoraram a situação daqueles que, como ele, a montanha havia levado algum membro.
Em 1937, agentes do NKVD prenderam Vitali. A título de informação, um camarada de alto escalão o acusou de ser um reacionário e um espião da capital. Era visto como um traidor da causa do povo. Enfim, segundo as pesquisas de Cédric, submetido a todas as torturas até seu corpo não aguentar, Vitali aceitou a falsa declaração de culpa forjada pela NKVD. Permanecendo preso por anos.
Final dos irmãos Abalákov e a conquista soviética do Everest

A técnica Abalákov. Foto: Wikipedia
Enquanto Vitali sofria em Lubianka, seu irmão continuava sua paixão no Cáucaso. A saber, onze anos após a prisão de Vitali, em 1948, Yevgeny foi encontrado morto no banheiro da casa do Dr. Belikov.
Conforme atestado pelo relatório, a morte do mais novo dos irmãos foi devido à mistura de álcool e monóxido de carbono. Abalákov teria ingerido abundantes quantidades de vinho. No momento de ativar a água quente para tomar banho, o aquecedor começou a emitir monóxido de carbono. No entanto, tanto sua viúva como seu filho defenderam até o dia de suas respectivas mortes a versão em que Yevgueni Abalákov foi assassinado pela NKVD. Porém, isso nunca foi comprovado.
Fato é que a morte foi duro para o montanhismo soviético. Havia um sentimento de órfão entre os montanhistas que o irmão mais velho tinha que suprir com seu fervor e ingenuidade comunistas. Vitali escalou mais algumas montanhas, treinou futuros alpinistas em acampamentos, continuou projetando engenhocas e escrevendo manuais de escalada, o tornando num lendário alpinista soviético.
Por fim, havia uma montanha que oferecia resistência aos irmãos: o lendário Everest. Até 4 de maio de 1982, os soviéticos não conseguiram conquistá-la. No entanto, tempos depois, alpinistas soviéticos alcançaram esse marco, recebidos na URSS como verdadeiros heróis. Na procissão que os recebeu, estava um Vitali mais velho. A história dos irmãos terminou na morte do mais velho. A saber, Vitali morreu em 26 de maio de 1986, com 80 anos.

Trabalho com esportes em geral, além dos americanos, redação e SEO há alguns anos. Coberturas em Taça Brasil FA, Superliga Masculina/Feminina, Seleção Brasileira de vôlei masculino, NBB, LNF e Powerlifting. Somo experiências em portais como Quinto Quarto, Esportelândia, Minha Torcida, Futebol Interior, entre outros.
Obcecado pelo diferente, tento poetizar quando as notas merecem um tom especial. Longe de ser poeta, apenas um aprendiz, mas o jornalismo, esporte, verdade e escrita foi o meio que encontrei de me conectar com a raiz.