Montanhista aponta que calamidade continua no Nepal

Quase seis meses depois dos terremotos de 7,8 de magnitude que mataram mais de 9.000 pessoas e deixaram milhares de feridos e desabrigados,  o Nepal que ainda se recupera da catástrofe,  enfrenta agora uma grave crise de combustível que atrapalha todas as atividades do país, inclusive o turismo.

Eu estava seguindo para lá a fim de filmar parte do projeto que tenho em andamento, uma série de três filmes chamada “Encontrando o Eterno”, tudo certo e combinado e começaram a chegar notícias daquelas terras distantes de que o momento não era nada propício.

Cleo Weidlich, uma das pessoas retratadas no filme já estava lá há 5 dias quando conseguiu encontrar comércio aberto para comprar coisas necessárias. “Kathmandu  é famosa pelo transito caótico, mas neste momento, pouquíssimos são os carros nas ruas.

O corriqueiro já está sendo problema, por exemplo – sempre uso o mesmo  motorista aqui, e ele quando me encontrou pediu milhões de desculpas, pois teria que me cobrar quatro vezes mais que o normal porque a gasolina só é encontrada no mercado negro.

Filas quilométricas de carros, motos e ônibus no Nepal, para comprar caro no mercado negro - Foto: Cleo Weidlich

Filas quilométricas de carros, motos e ônibus no Nepal, para comprar caro no mercado negro – Foto: Cleo Weidlich

Até as  escolas estão fechando por não terem gás e o inverno está chegando acelerado. O bairro de Thamel, um gueto de turistas, esta vazio e como as escaladas  estão andando devagar, os agentes de logística estão tendo que novamente absorver as perdas.

O que tem ajudado à não paralisação é que as agencias de expedições acumularam muito gás, experiência que adquiriram quando os trabalhos na primavera foram cancelados devido ao terremoto” conta Cleo.

Ela relata ainda “está difícil, temos notícias de que chegará combustível através da China, mas somente para utilização do governo, falei hoje com turistas brasileiros que estão por aqui e eles estão muito decepcionados, pois a imprensa do Brasil não está avisando a ninguém as condições para se fazer turismo no Nepal hoje. Mesmo com a criação do mercado paralelo para a compra de combustíveis tudo está complicado para o turismo de caminhadas ”.

Cleo Weidlich no Ministério do Turismo no Nepal com seu alvará de escalada.

Cleo Weidlich no Ministério do Turismo no Nepal com seu alvará de escalada.

Nós da equipe de produção do documentário sentimos isso na pele, pois eu, a diretora, sozinha, sem fotógrafo ou equipe, teria que pagar  aproximadamente 5000 dólares para fazer o trekking até o Ama Dablan a fim de encontrar-me e finalizar as entrevistas com a Cléo.

Diante da situação e do filme ainda em fase de prospecção de patrocínio, mudamos nossos planos e nos concentramos na filmagem da Patagônia, onde abordo a história de Bernardo Collares, concluindo o trabalho com a Sra. Weidlich em março, na primavera do Nepal.

Mas tudo se ajeita e notícias boas começam a chegar – no dia 28 de outubro, em um reunião com o Ministério de Turismo , Cleo obteve o alvará para subir as montanhas e teve a primeira conversa para um trabalho de divulgação do turismo nepalês no Brasil, onde teremos a honra de incluir esses planos na estratégia de distribuição dos documentários que estou realizando.

Ainda no Nepal e sem o peso de nossa equipe pouco experiente neste tipo de caminhada , Cleo já pôs em pratica o trekking para o Ama Dablan, onde treina para seguir em janeiro  ao Nanga Parbat.  A “montanha nua”, que fica na zona ocidental dos Himalaias, no Paquistão teve mais de 21 investidas invernais sendo que nenhuma expedição foi concluída, ótimo seria se aí tivéssemos mais um feito brasileiro.

A montanhista  segue aceleradamente para terminar o quanto antes mais esta investida-treino e voltar às atividades que tem neste país por ela tão respeitado. “A Ama Dablan é uma montanha bastante técnica, vou abreviar a viagem fazendo duas vilas num dia assim ao invés de parar em cada uma delas para aclimatar, vou passando para a próxima”, diz Weidlich.

Na volta depois dos “treinos” ela dará continuidade a participação em um movimento muito sério de ONGs, coordenado por profissionais representativos dos EUA e Nepal que estão realizando a construção de casas em regiões devastadas do país.

Ainda  esclarecendo-me o que vem desenvolvendo e sendo interrompida pela sequente queda de luz, Cleo diz animada como está sendo a experiência de apoio ao Nepal  “Ontem finalizamos uma licença e toda a documentação para construção das casas resistentes a terremotos, que serão desenvolvidas com tecnologia californiana .

As primeiras começam a serem construídas ainda em novembro, na Vila de Gorkha.

Um Projeto humanitário super bacana do qual faço parte como consultora por ter muita convivência com as diversas etnias locais e conhecer bastante as casas e famílias da região, então posso ajudar aos arquitetos e engenheiros na adaptação das casas à realidade local, servindo de ponte entre as comunidades e as empresas americanas”, conta Cleo.

Nestas terras onde se vê o sorriso de Shiva, os Himalaias, e que tanto encanta aos brasileiros, não é só o turismo que cai, a própria normalização do Nepal está comprometida enquanto não houver combustível , as ONGs que ajudam na reconstrução e prometeram que os moradores locais teriam trabalho nas obras, estão paralisadas e a população sofre mais ainda com isso.

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