Montanhismo e trekking: Entenda a importância da inteligência emocional para as atividades

Embora parcela considerável da população acredite que o conceito de inteligência emocional seja algo recente, graças ao livro de Daniel Goleman, é na verdade um conceito bem antigo. Para se ter uma idéia, ele foi citado até mesmo por Charles Darwin no século XIX.

Para o ser humano, a melhor maneira para sobreviver nos tempos modernos é equilibrar as habilidades técnicas com sua capacidade sentimental. A necessidade desse equilíbrio fez com que a inteligência emocional começasse a ser discutida mais seriamente em diversas disciplinas.

A inteligência emocional é, antes de tudo, nossa capacidade de nos direcionarmos efetivamente aos outros e a nós mesmos. É saber discernir entre diferentes sentimentos e rotulá-los adequadamente, além de usar informações emocionais para guiar nosso pensamento e comportamento.

inteligência emocional

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É, portanto, a capacidade que temos de ajustar as emoções para se adaptar aos ambientes. Esta habilidade faz com que alguns indivíduos saiam melhor em algumas atividades do que outros. Mesmo que, em teoria, eles estejam mais capacitados tecnicamente.

Para ter inteligência emocional é necessário “controlar” positivamente as emoções e/ou redirecioná-las para que elas não influenciem negativamente o rendimento esportivo. Isso porque no montanhismo e no trekking, temos que tomar decisões rápidas e apropriadas.

Assim, o autoconhecimento (entender os sinais que o corpo envia), a autorregulação das emoções (não ter explosões de raiva ou desespero), a automotivação (não desistir e ajustar o ritmo), as habilidades sociais (saber respeitar os companheiros e pessoas à volta) e a empatia (saber explicar respeitando a perspectiva do interlocutor) são ferramentas que todo praticante de montanismo e trekking deve ter em maior ou menor grau.

Diversos estudos já mostraram que pessoas com alto quociente emocional (QE) têm maior saúde mental, melhor desempenho no trabalho e habilidades de liderança. A inteligência emocional é uma construção muito relacionada com a personalidade e atua como um fator determinante quando o praticante da atividade está em situações de pressão.

Inteligência emocional na montanha

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As montanhas produzem uma grande variedade de emoções agradáveis (bem-estar, alegria, felicidade) e desagradáveis (medo, angústia e ansiedade). As emoções agradáveis nos permitem aproximar de nosso objetivo e aumentar a motivação para progredir aos poucos até o objetivo.

Entretanto, as emoções desagradáveis nos ajuda fugir de algum perigo. Portanto, a má gestão destes sentimentos desagradáveis (medo, angústia e ansiedade) nos paralisa e produz estados de mal-estar em momentos difíceis.

É bastante comum praticantes de trekking apresentar estados de pânico que os impedem de continuar a progredir. Além disso, esta falta de lucidez faz qualquer um (a) cometer erros grave que causam danos à integridade física ou mesmo do grupo o qual faz parte.

É essa inabilidade de controlar os sentimentos, que recorrentemente faz pessoas se perderem nas trilhas, caírem em barrancos, ter hipotermia e até mesmo desperdiçar comida e água. Ataques de ansiedade acontecem pelo baixo quociente emocional (QE) de alguém que é tirado da zona de conforto e é desafiado.

A motivação e compromisso com a montanha serão igualmente importantes para gerenciar as emoções que mais afetam os montanhistas e praticantes de trekking. Isso porque a atividade na montanha exige que os praticantes se preparem mais para a concretização do objetivo.

Na montanha a atenção permanece constante no que se faz, o que torna as distrações impossíveis e a mente não cai em estados de apreensão, ansiedade e inquietação. Como explicado em um artigo na Revista Blog de Escalada, este processo é chamado de “estado de Flow”.

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Foi realizado um estudo em 2018 sobre inteligência emocional em guias de montanhas. Nele foram entrevistados vários guias, sherpas e montanhistas de alto nível. O objetivo era observar se havia alguma relação entre a teoria de Inteligência Emocional de Daniel Goleman, com o conhecimento e as experiências destes profissionais.

No que diz respeito à gestão emocional, os profissionais da montanha salientaram a importância de combater o medo com raciocínio, frieza, calma, sangue frio e autoconfiança. Alguns mecanismos sugeridos são o controle da respiração, o uso do pensamento positivo, a transmissão do controle da situação, a remoção do drama e a busca de soluções alternativas.

Assim, é fácil concluir que o autoconhecimento facilita a percepção corporal e comportamental. Este tipo de consciência permite que um (a) montanhista ou praticante de trekking se previna para não se descontrolar em um momento de pressão.

É somente a partir do desenvolvimento da inteligência emocional que um (a) montanhista ou praticante de trekking consegue manter sua meta e usar todo o seu potencial. Isso porque não deixa que nenhum fator emocional atrapalhe o seu desempenho.

Há uma série de conselhos em toda a literatura de psicologia esportiva, mas as mais constantes são:

  • Aprender a lidar com as emoções Considerar a possibilidade de que nem tudo vai acontecer como esperamos é uma boa ideia para não nos frustrarmos. Embora não possamos controlar as emoções que sentimos, podemos decidir o que fazer com elas.
  • Motivar-seAnalise suas capacidades e estabeleça metas reais e realizáveis. Seja consciente do que você é, não focando naquilo que gostaria que os outros gostariam que você fosse.
  • Estabeleça relações – Aprenda a lidar também com as emoções dos seus companheiros de montanha, tenha empatia e compaixão para criar relações saudáveis e harmoniosas.
  • Tenha autoconfiança – A competição esportiva faz parte da vida de quem pratica qualquer atividade esportiva, mas a competição entre pessoas só mostra falta de autoconfiança e necessidade de autoafirmação.

A mente tem grande poder sobre nosso comportamento e aumenta nossas habilidades. Isso nos permite atingir, ou não, nossos objetivos.

Por isso, é importante saber treiná-la e fazer um trabalho introspectivo para saber como reagimos às diversas situações. Assim conseguimos estudar a melhor forma de enfrentar cada uma dessas situações na montanha para sair o mais graciosamente possível e continuar melhorando técnica, física e mentalmente.

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