A federação vista desde dentro: a entrevista de Marco Scolaris

Quem já pensou em participar ou organizar um campeonato de escalada, já deve ter escutado falar da International Federation of Sport Climbing (IFSC). O IFSC é para a escalada o que a FIFA é para o futebol. Ela é quem determina os formatos das competições, as regras de classificação e até mesmo a punição que algum atleta sofre por algum tipo de postura. Uma prática muito comum entre atletas, e de alguns dirigentes, é reclamar de algo estabelecido por sua federação. Por este motivo que os presidentes de federações se recusam a dar entrevistas e, em casos extremos, até mesmo se isolam do contato com o público.

Este não é o caso do presidente do IFSC, o italiano Marco Scolaris, que não se intimidou com o convite e participou de uma longa entrevista, na qual tocou em pontos chaves, que são foco de constantes reclamações por parte de escaladores. Na entrevista, concedida em vídeo para o canal de YouTube Beta Routesetting, comandada por Niklas Wiechmann, Solaris pacientemente respondeu tudo, sem medo de admitir falhas e erros de gestão (assista ao vídeo no topo do artigo).

Mas a esta altura do artigo, o leitor deve estar se perguntando: Quem é Marco Scolaris?

Nascido na cidade italiana de Turim, em 1958, Marco Maria Scolaris é um fotógrafo profissional e ex-escalado. Fanático escalador de boulder nos seus 20 anos, Scolaris fundou em 1988 a Federazione Arrampicata Sportiva Italiana (FASI). A FASI, uma federação de escalada esportiva italiana, era independente do Clube Alpino Italiano (CAI). Também em 1988, tornou-se juiz internacional das competições de escalada da UIAA, que na época organizava competições de escalada esportiva. Um ano depois Scolaris tornou-se instrutor de juízes internacionais em 1989.

A independência da FASI criou certo desconforto entre os tradicionais clubes alpinos europeus (todos filiados à UIAA) os quais todos eram predominantemente adeptos ao alpinismo e montanhismo. Como era o final dos anos 1980, a escalada esportiva ainda estava desenvolvendo-se como esporte e era vista como uma “novidade de juventude” por muitos dos “cartolas”. A mesma discussão, mais de 30 anos depois, ainda existe em vários lugares do mundo. Na América do Sul, este tipo de disputa por atenção e prioridade entre federações de montanhismo, andinismo e ski alpino ainda existe.

Mesmo sofrendo boicotes da CAI nos bastidores, em 1990 o FASI tornou-se uma federação membro do Comitê Olímpico Italiano. Como delegado das competições de escalada da UIAA, Marco Scolaris participou de mais de 40 eventos de escalada esportiva organizada pela entidade. Por sua liderança e capacidade de organização, de 1996 a 1997, Marco foi presidente da Comissão de Escalada de Competição da UIAA. Juntamente com Pascal Mouche, fundou o Conselho de Escalada de Competição da UIAA e foi seu secretário-geral de 1997 a 2001. Pouco depois tornou-se presidente de 2001 a 2006.

Entretanto, a discussão entre alpinistas e montanhistas com relação às competições de escalada começou a ebulir. A discussão girava em torno do espírito competitivo dos campeonatos e o espírito de montanhismo dos alpinistas. Foi quando, de comum acordo, no final de 2006 fundou-se a International Federation of Sport Climbing (IFSC). O motivo foi que a UIAA decidiu que a organização dos campeonatos de escalada deveria fazer parte de algo separado da entidade. Não houve, portanto, nenhuma força política obrigatória para que as outras federações e associações ao redor do mundo fizessem o mesmo.

Marco Scolaris tornou-se então presidente do IFSC (Federação Internacional de Escalada Esportiva em tradução livre) em 2007, sendo reeleito em 2009, 2013 e 2017. Sob sua gestão, Scolaris conseguiu costurar acordos políticos que fizeram com que a escalada esportiva tornar-se modalidade olímpica.

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