Mapear o Monte Everest: Como foi a primeira expedição ao teto do mundo há 100 anos

Poucos sabem, mas o Monte Everest recebeu esse nove para homenagear o líder da equipe de topógrafos britânicos Sir George Everest, que serviu como topógrafo geral da Índia de 1830 a 1843. Em 1865, a Royal Geographical Society renomeou o então conhecido Pico XV recentemente identificado, à época, como o pico mais alto do mundo – em homenagem ao Everest.

Conforme explicado no artigo “Quem foi George Everest e por que ele nunca viu a montanha mais alta do mundo?”, o britânico sequer participou diretamente da medição. O Pico XV como era originalmente conhecido, foi “descoberto” na década de 1850 quando uma equipe do Survey of India, com o topógrafo geral Major General Sir Andrew Waugh e o topógrafo indiano Radhanath Sikdar, entre outros, declarou o pico como o ponto mais alto da Terra.

Radhanath Sikdar foi a primeira pessoa a calcular a altura do Monte Everest, em 1852. A Sociedade Filosófica Alemã fez dele um membro correspondente em 1864, dois anos após sua aposentadoria, e muitos são da opinião de que o pico mais alto do mundo deveria ter recebido o seu nome.

A primeira barreira: Nepal fechado a britânicos

Sir George Everest

O Great Trigonometrical Survey, iniciado em 1802, era um projeto que visava fazer um levantamento de todo o subcontinente indiano com precisão científica.

Na primeira metade do século XIX existia o Reino do Nepal, também conhecido como Reino de Gorkha paulatinamente fazia a expansão de domínios. Quando beiraram as fronteiras da índia, entraram em conflito com os britânicos e uma guerra oficial foi declarada em 1814.

Após dois anos de combates os ingleses se viram obrigados a recuar e respeitar o território e selaram um acordo de paz com os Gurkhas. O domínio britânico na Índia (Raj britânico) foi consolidado em 1858, quando a Companhia Britânica das Índias Orientais passou a pertencer à Inglaterra.

Assim, o Nepal permaneceu como um reino independente e respeitado, culminando com o reconhecimento como nação independente apenas em 1923. Por isso, mais de setenta anos se passaram até que os britânicos pudessem organizar uma expedição para encontrar a montanha em 1921.

Na época, os britânicos não eram autorizados a entrar no Nepal e toda a medição das montanhas do Himalaia foi feita utilizando fórmulas matemáticas desde a Índia. As relações formais entre o Nepal e o Reino Unido, que começaram em 1816, permaneceram cordiais e amigáveis ​​e continuaram a florescer para o benefício mútuo de ambos os países.

Isso foi possível graças aos esforços de Sir Charles Alfred Bell, o embaixador britânico da Índia no Tibet, que convenceu Thubten Gyatso, o 13º Dalai Lama, a permitir a expedição e fazer o primeiro levantamento do país ao redor do Monte Everest. Assim, Sir Francis Edward Younghusband, liderou uma missão britânica em Lhasa em 1904, foi a chave para o início da expedição de 1921.

A primeira expedição ao Monte Everest

Essa expedição britânica liderada por Younghusband foi ao Tibet em busca do Monte Everest e mudou o curso do montanhismo do Himalaia para sempre. A expedição de 1921 tinha Howard-Bury, um escritor e naturalista e Harold Raeburn, como líder de escalada, e apoiado por Kellas, George Mallory e Guy Bullock ( um oficial consular).

Havia também dois topógrafos, Oliver Wheeler e Henry Morshead, ambos montanhistas experientes. A expedição tinha também Alexander Heron, geólogo e Sandy Wollaston, médico, naturalista e entomologista.

A equipe deixou a cidade indiana de Darjeeling em maio, viajando pelas florestas encharcadas pela chuva de Sikkim e pelo Jelep La até o Vale de Chumbi, no Tibet. A expedição então se moveu para o norte em direção a Phari, de lá foram para Rongbuk.

No Vale do Chumbi ficava na principal rota comercial para Lhasa e havia bangalôs com paradas de um dia que foram usados ​​pela expedição. Mallory escalou uma encosta que conduzia à fortaleza de Khamba Dzong e viu o Monte Everest pela primeira vez.

1ª Expdição ao Everest – em pé, Sandy Wollaston, Charles Howard Bury, AM Heron e Harold Raeburn. Sentados George Mallory, Oliver Wheeler, Guy Bullock e HT Morshead

O montanhista o descreveu como “uma prodigiosa presa branca excrescente da mandíbula do mundo” e ficou apaixonado. Em uma carta, para sua esposa Ruth, escreveu “…é um negócio emocionante. Eu não posso te dizer como isso me impactou. E a beleza de tudo”.

Na jornada, dois escaladores morreram e o esforço ficou nos ombros de Mallory e Bullock, e nenhum dos dois havia estado no Himalaia antes. Em 18 de junho, George Mallory e Guy Bullock chegaram ao topo de uma passagem alta, a Pang La, a mais de 5.000 metros de altura e um dos pontos de vista mais famosos do Tibet.

A passagem é visitada atualmente por inúmeros turistas devido à sua paisagem, que pode se ver o Makalu, passando pelo Lhotse, Monte Everest e Cho Oyu. Assim, a dupla teve uma visão deste quatro picos de 8.000 metros em um único panorama.

Mallory e Bullock seguiriam para o sul até a geleira Rongbuk abaixo da enorme face norte do Everest. Morshead e seus topógrafos mapeariam a região a leste do Monte Everest e Oliver Wheeler e Heron seguiriam para a parte oeste da montanha.

Em uma carta ao montanhista britânico e autor de algumas primeiras ascensões nos Alpes Geoffrey Winthrop Young, Mallory escreveu: “Estamos prestes a sair do mapa”. George Mallory e Guy Bullock deixaram Tingri no dia 23 com uma equipe de 16 sherpas e 15 iaques carregados. Nas palavras de Mallory, “A mais alta das grandes montanhas do mundo… tem que fazer apenas um único gesto de sua magnificência para ser o senhor de tudo, vasta em uma supremacia isolada e incontestada.”

Mallory e Bullock passaram as três semanas seguintes tentando encontrar a rota para o colo norte, subindo a geleira Rongbuk que Mallory percebeu ser a chave para o curso superior do Everest. No entanto, seus esforços foram em vão e a dupla finalmente alcançou um colo agora conhecido como Nup La.

Olhando para a Cascata de Khumbu, George Mallory escreveu que nunca tinha visto uma geleira “tão terrivelmente íngreme e quebrada”. O britânico concluiu que esse não era o caminho possível para o cume do Monte Everest. Porém o britânico se enganou, porque é através dessa rota “terrivelmente íngreme e irregular” que a montanha seria escalada 32 anos depois.

Incapaz de encontrar a rota para o colo norte, Mallory e Bullock se mudaram para o leste do Everest para explorar os vales Kharta e Kama. Em 24 de setembro de 1921, mais de quatro meses após a expedição ter deixado Darjeeling, Mallory, Bullock e Wheeler alcançaram o Col Norte, a uma altura de 7.000 metros, às 11h30.

Ventos fortes no local fez Mallory decidir que ir mais longe não era possível. Assim a expedição estava mais do que exausta e recuar parecia ser a melhor opção e assim terminou a expedição de 1921.

Wheeler e Morshead mapearam 30.000 km² de território inexplorado no Tibet e ao redor do Monte Everest. Os mapas finais foram preparados por Oliver Wheeler e enviados ao comitê de George Everest em Londres e seriam a base para todas as expedições futuras.

Além disso, apesar da perda de dois escaladores experientes, George Mallory e Guy Bullock abriram caminho para todas as tentativas subsequentes de escalada no Monte Everest.

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