Mais um escalador de competição fala sobre distúrbio alimentar

Pouco conhecido do público brasileiro, o escalador holandês Jorg Verhoeven, de 36 anos, escala em alto nível há mais de 25 anos e já foi vencedor de uma etapa da Copa do Mundo de Escalada em 2006. Seus pensamentos sobre a escalada de competição e em rocha foram publicados em entrevista no site francês planetmountain.com.

Atualmente trabalhando como Route Setter em Innsbruck, Verhoeven é referência internacional para escalada indoor, e no final da última temporada surpreendeu a todos ao voltar a competir, ao lado de muitos com quase metade de sua idade. Para o site 8a.nu Jorg aproveitou para alfinetar o todo-poderoso Marco Scolaris, presidente da Federação Internacional de Escalada Esportiva (IFSC) há 17 anos (é o presidente do IFSC desde sua fundação em 2007).

Na semana passada o próprio Scolaris publicou uma reflexão a respeito do IMC de atletas e as preocupações a respeito da temática “escalada versus peso”. IMC é a sigla para Índice de Massa Corporal, que é um cálculo que serve para avaliar se a pessoa está dentro do seu peso ideal em relação à altura.

Scolaris afirmou que “O IFSC monitora constantemente a aaúde dos atletas, por meio de sua comissão médica. Nesta perspectiva, regularmente procedemos com testes de IMC dos atletas durante nossos eventos”. “Como os baixos valores do IMC podem ser um indicador de transtorno alimentar, estamos aprimorando nosso sistema de acompanhamento, estudando ações a serem tomadas, incluindo a elaboração de programas educacionais” complementou o dirigente italiano.

Jorg Verhoeven comentou ao 8a.nu que:

“A declaração de Scolaris é muito ‘politicamente correta’, infelizmente, isso não nos levará muito mais longe. A IFSC tem monitorado por um longo tempo – com a metodologia questionável, e posso dizer por minha própria experiência – mas teve poucas consequências necessárias para as federações nacionais, que muitas vezes não se importam e não agem.”

O holandês foi mais contundente na sua explicação:

“Como representante de um atleta, há anos tento fazer com que o IFSC aja com responsabilidade. Trabalhei junto com a comissão médica, que apresentou várias soluções possíveis, nenhuma das quais foi implementada até agora.

Além das consequências terríveis (tanto a curto como a longo prazo) que o peso insuficiente tem para uma pessoa, considero o papel de atletas de baixo peso com bom desempenho um problema ainda maior. Já testemunhei o efeito negativo que isso tem sobre outros atletas – perfeitamente sãos – que inevitavelmente se perguntam se perder peso é a chave para o sucesso”.

“Imagine como um modelo de papel vencedor da copa do mundo poderia influenciar jovens escaladores aspirantes, possivelmente levando-os ao sucesso de curto prazo e uma vida inteira de problemas de saúde. Uma vez que IMC é apenas um indicador”.

“Acho que devemos parar de ver as medições de IMC como uma forma de determinar uma doença mental, e sim nos concentrar em aceitar limites de peso em competições internacionais. Se a IFSC leva a sério a saúde de seus atletas, ela deve enviar uma mensagem forte definindo um limite inferior de peso abaixo do qual competir não seria permitido, em vez de dizer ‘achamos que você pode ter um distúrbio alimentar, então vamos peça a sua federação nacional para ajudá-lo com isso ‘”.

“Como referência, com 1,80 m de altura, peso 65 kg (de acordo com as medidas do IFSC, 69 kg), portanto poderia perder 5 (ou 9) kg para atingir um IMC abaixo do qual seria ‘monitorado’. Cuidado que posso perder 20 quilos e ainda participar de um WC. Por experiência própria, se eu perder apenas 1 quilo, meu corpo parece que vai quebrar – e sim, eu tento ganhar peso, não perder”.

Conforme comentado no programa Papo de Redação e também na entrevista com Stasa Gejo, atletas de escalada esportiva com distúrbios alimentares é uma realidade a qual nem a IFSC, nem mesmo as federações e/ou ligas independentes se preocupam seriamente com isso.

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