Livro da semana: Psychovertical

Toda comunidade, seja ela pequena ou grande, possui uma personalidade referência e que, com o tempo, torna-se quase um mito. Tornar-se lenda dentro do esporte, com histórias que são contadas de maneira épica, somente quem é de fato grande consegue. Esta talvez seja a melhor definição do britânico Andy Kirkpatrick, um escalador que em seu país possui status de lenda viva.

Nascido em Stafford, cidade no centro da Inglaterra, o escalador britânico procurou não ficar somente na esfera do montanhismo e atuou como autor de livros e palestrante motivacional de destaque.

Embora desconhecido do público, muito por conta de seu estilo low profile, já escalou vias em Yosemite, Patagônia, Alasca, Alpes e Antártida em solitário. Não somente na escalada se dedicou e até os dias atuais sua travessia da Groenlândia em ski, realizada no ano de 2014, é até hoje lembrada.

Seu livro Psychovertical é considerado um clássico da literatura de montanha da Inglaterra e revela histórias de sua infância até então desconhecidas do público. O autor revela detalhes da sua infância pobre quando foi diagnosticado com dislexia (transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica) e como a doença o levou a começar a escalar.

Mesmo tendo dificuldade no reconhecimento preciso e fluente da palavra, Kirkpatrick encontrou no esporte uma maneira de superar as dificuldades de aprendizado. Prova disso é que conseguiu escrever Psychovertical.

No livro várias reflexões são feitas junto de descrições de suas escaladas mais icônicas. Estas reflexões são uma espécie de homenagem ao esporte que, nas suas palavras, o ajudou a superar desafios que a própria natureza impôs a ele. A obra, desta maneira, foge um pouco do padrão “relato de aventura” que todo livro que aborda escalada segue. À luz da razão é muito parecido com o gênero de auto-ajuda do que um relato de aventura. Não que isso seja um problema, muito pelo contrário, é até mesmo uma característica positiva da obra.

Com um estilo bem mais direto, Psychovertical tem potencial para agradara quem sofre de “complexo de vira-latas” e necessita de ter contato com histórias de superação. Para o público interessado em obras aventureiras, parecidas com relatos vazios de publicitários que encontraram no montanhismo uma muleta, talvez se decepcione pois ali há uma pessoa que encontrou no esporte uma maneira de se viver.

Não há na obra excesso de adjetivos superlativos, nem frases de efeitos características de quem quer parecer profundo ou mais sábio do que de fato é. Por isso é nessa simplicidade e honestidade que o texto de Andy Kirkpatrick, o qual exala sentimentos verdadeiros, que sua obra é admirada pela comunidade de montanha britânica.