Livro da semana: “Hangdog Days” – Jeff Smoot

Praticamente toda atividade desenvolvida pelo ser humano é marcada por algumas barreiras. À medida que estas barreiras são quebradas, as pessoas que vivenciam a atividade acredita que uma nova era começa. Para o jornalista e escritor Nelson Rodrigues no futebol brasileiro foi a conquista da primeira Copa do Mundo em 1958. Conquista esta que sepultou o que ele mesmo chamava de “complexo de vira-lata”. Na cabeça dos escaladores norte-americanos esta barreira era conseguir encadenar uma via de graduação norte-americana 5.14 (10c na graduação brasileira).

No meio de toda revolução cultural que foi o desenvolvimento da escalada esportiva, um escalador norte-americano chegar a escalar em um nível de dificuldade nunca alcançado marcaria a entrada dos EUA na “primeira divisão” do esporte. Lembrando que no desenvolvimento da escalada esportiva quem dominava os graus mais altos eram os europeus, mais especificamente por um alemão chamado Wolfgang Güllich. Estar atrás de alguém em qualquer coisa, mesmo sendo escalada, afetava a autoestima de qualquer norte-americano.

Nesta atmosfera de competitividade e busca de marcas esportivas, que o escritor e fotógrafo Jeff Smoot escreveu seu livro “Hangdog Days”. Por ser um colaborador frequente das revistas Climbing e Rock & Ice durante os anos 1980, Smoot foi testemunha ocular de toda a corrida para que um americano encadenasse alguma via esportiva de graduação norte-americana 5.14 (10c na graduação brasileira).

Em “Hangdog Days”, Jeff Smoot narra vividamente a época em que a escalada explodiu em popularidade, atraindo uma nova geração de escaladores talentosos, ansiosos por ultrapassar as fronteiras do esporte por caminhos mais difíceis e subidas mais rápidas, quebrando as “regras”.

Esse período deu origem à escalada esportiva nos EUA, academias de escalada e escalada competitiva. Smoot rastreia o desenvolvimento de regras de escalada, impostas pela pressão dos colegas, intimidação e até sabotagem, quando vários escaladores no final dos anos 1970 introduziram táticas como “hangdogging” (pendurado em top rope para praticar movimentos) que a velha guarda considerava trapacear.

À medida que mais escaladores quebraram barreiras e estabeleceram novos recordes durante os anos 1980, sua nova abordagem ginástica elevou os limites da escalada livre de 5.12 (6° grau brasileiro) para 5.13 (9° grau brasileiro) e, eventualmente, 5,14a (10c na graduação brasileira). O livro “Hangdog Days” é também interessante para notar que os mesmos preconceitos, mitos, tabus e perspectivas de horizontes curtos de escaladores há quase 40 anos, ainda são praticados por muitos escaladores até os dias de hoje.

Quando o escalador francês Jean-Baptiste Tribout encadenou a via “bolt or not to be”, de graduação 5.14a norte-americana, em Smith Rock em 1986, ele quebrou uma barreira que muitas pessoas consideravam impenetrável. Implementando um ritmo animado e acelerado, enriquecido com sua experiência perspicaz de quem vivenciou tudo ao vivo e a cores, Smoot se concentra nas conquistas de escalada de três das estrelas da época: John Bachar, Todd Skinner e Alan Watts, embora não negligencie Ray Jardine, Lynn Hill, Mark Hudon, Tony Yaniro e Peter Croft.

Ficha técnica

  • Título: Hangdog Days: Conflict, Change, and the Race for 5.14
  • Autor: Jeff Smoot
  • Edição:
  • Ano: 2019
  • Número de páginas: 320
  • Editora: Mountaineers Books

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