Livro da Semana: “Aventura no Topo da África” – Airton Ortiz

Ainda incompreendido por uma parcela maciça do público brasileiro, e consequentemente por toda a mídia generalista (incluindo as revistas semi-falidas) o montanhismo ainda desperta muita curiosidade de todos. Este sentimento que desperta a admiração e, inevitavelmente, a criação de mitos a respeito das práticas de ir aventurar-se nas montanhas. Toda a técnica e prática de montanhismo parece óbvio para um praticante ativo, mas que parece ainda intangível e incompreensível para grande parte do público em geral.

Foto: http://arl.org.br/

Foto: http://arl.org.br/

Por conta deste vácuo cultural alguns publicitários aproveitaram para criar o que hoje é conhecido como o “montanhismo de palco” (o primo hippie do empreendedor de palco), que nos últimos 10 anos acabou por inflar de adjetivos superlativos absolutos sintéticos a ascensão de montanhas de dificuldade mediana. A partir deste uso maquiavélico da retórica, e da colocação estratégica das palavras, algumas “marcas” foram criadas. Dentre estas franquias está a dos seven summits que enfeitam conquistas tão vazias quanto curriculum e preparação das pessoas que a perseguem.

Com isso outros picos ganharam adjetivos para justificar para os leigos o fato de ir praticar o montanhismo e invariavelmente impulsionado pelo corporativismo entre jornalistas qualquer lugar tornou-se “o teto do continente”, “o extratovulcão nevado”, e outros rótulos igualmente vazios para que a vaidade pessoal fossa satisfeita.

airton-ortiz-2O livro “Aventura no Topo da África”, do jornalista Airton Ortiz, é mais uma narrativa de um deslumbrado a respeito do montanhismo do que, de fato, um relato técnico e descritivo sobre uma montanha. A obra funciona mais como um diário de viagem (muito bem escrito, diga-se) do que realmente uma história que interesse a um montanhista.

Utilizando a boa escrita, a qual é característica de sua profissão, a cada capítulo o livro vai causando questionamentos do leitor, especialmente em quem pratica montanhismo como estilo de vida e não como uma desculpa para criar obras literárias ou inflar currículos. Inegavelmente o bom humor e ironia adotados na narrativa da história torna a leitura da obra fluida e digerível. Porém do ponto de vista de literatura de montanha é uma obra que dificilmente constaria como leitura obrigatória para quem planeja conhecer a montanha mais alta da África.

Porém do ponto de vista literário é interessante ver o montanhismo bem escrito, mesmo sem muita profundidade. A um certo ponto a sensação de que está lendo uma reportagem pasteurizada, e que passou por diversos editores leigos, é inegável. Notoriamente o escritor buscou fazer uma obra para que jornalistas a lessem e não propriamente montanhistas e pessoas não eruditas.

Ao final do livro fica evidente que o aprendizado espiritual de Ortiz foi imenso, mas o desejo de profundar-se tecnicamente e mergulhar no estilo de vida de um montanhista de verdade não. A estrutura narrativa (buscando sempre trazer insistentemente a “superação” de algo) lembra muito as vazias obras brasileiras, especialmente dos “montanhistas de palco”, a respeito do montanhismo brasileiro.

Ficha Técnica

  • Título: Aventura no Topo da África
  • Autor : Airton Ortiz
  • Edição: 1ª
  • Ano: 1999
  • Número de páginas: 240
  • Editora: Editora Record

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