Trekking em Mata Atlântica: Conheça rota de 23 km em vegetação nativa e quase intocada

Você sabe o que é uma mata ou floresta primária? Também conhecida como floresta nativa, floresta primitiva ou floresta virgem, é uma vegetação antiga que, nunca sofreu perturbações significativas (desmatamento) nem foi explorada ou influenciada, direta ou indiretamente, pelo ser humano.

Em outras palavras, em se tratando de Brasil, é uma floresta preservada em solo brasileiro de uma mata que possui as mesmas características (às vezes até mesmo as árvores) da época do descobrimento. As características de um lugar assim, incluem diversidade entre as árvores que servem como habitat de vida selvagem diversificada que leva a maior biodiversidade do ecossistema florestal.

Foto: Luciano Zandoná

Um tipo de passeio em um local assim seria uma mistura de viagem ao passado e redescobrimento de fauna e flora brasileiros. No Brasil acaba de ser liberada para a visitação, uma rota de trekking que permite este tipo de imersão.

A nova rota fica no local conhecido como Legado das Águas, que é maior reserva privada de Mata Atlântica do país. A entidade recentemente concluiu a implementação e liberou para visitação e atividade de travessias (tanto hiking quanto trekking) monitoradas.

Por se tratar de uma área privada, não sendo um parque estadual ou federal, a implementação contou com parceria do Instituto Manacá (Organização da Sociedade Civil, sem fins lucrativos, de fomento à Conservação da Natureza), para organização das atividades de ecoturismo na reserva. Dentre as atividades disponibilizadas pelo Legado das Águas, há atividades com o explícito objetivo de permitir o visitante desfrutar da Mata Atlântica. Dentre as atividades proporcionadas pelo Legado das Águas, estão caiaque e passeio de barco no Rio Juquiá, circuitos de mountain bike, trilhas e visitação a um viveiro de mudas.

Trekking na Mata Atlântica

Foto: Tiago Palito

Um dos grandes atrativos do parque é a possibilidade de trekking em Mata Atlântica primária. Atualmente, cerca de 15% da cobertura original da mata existe (Sendo o Legado das águas parte desta porcentagem). Entretanto a maior parte da mata atlântica existente na América do sul é disponibilizada em pequenos fragmentos de floresta secundária.

Portanto o trekking disponibilizado pelo Legado das Águas é um privilégio para o visitante. Por enquanto, existem dois trajetos:

  • A travessia “Dezembro – Cantagalo” – volta maior (23 km)
  • A travessia “Dezembro – Cantagalo” – volta menor (12 km)

Foto: Tiago Palito

As rotas atravessam trechos de Mata Atlântica, ambos em estágio avançado de conservação, passando pela Cachoeira Dezembro. A volta menor possui 12 km de extensão, considerada um trajeto com menor grau de dificuldade, passando por trechos com menor declive e passando por áreas com muitos córregos.

Na volta maior são 23 km e grau de dificuldade considerado elevado. No parque os monitores e administração considera como dificuldade somente o esforço físico, nem tanto outros aspectos de montanhismo. Portanto a volta maior possui trechos de acentuado declive. Nesse passeio, haverá a possibilidade de camping selvagem no meio da mata.

Caminho da Mata Atlântica

Foto: Tiago Palito

A travessia “Dezembro – Cantagalo” faz parte da implementação do Caminho da Mata Atlântica, um projeto de trilha de longo percurso que, segundo consta no projeto, terá 3.000 km. O plano, idealizado pelo WWF (ONG internacional que atua nas áreas da conservação, investigação e recuperação ambiental), irá ligar Parque Nacional dos Aparados da Serra-RS e chegará até o Parque Estadual do Desengano-RJ. O projeto foi anunciado em primeira mão pela Revista Blog de Escalada à época de seu lançamento.

O objetivo principal do projeto Caminho da Mata Atlântica é interligar diversas trilhas importantes já existentes, com o objetivo de fortalecer iniciativas locais de trekking e montanhismo. Quando finalizada, a trilha de longo percurso cruzará mais de 60 áreas protegidas. Ao todo, segundo o instituto, serão 10 Parques Nacionais e 32 Estaduais, que formarão um corredor de prática de trekking e montanhismo, que proporcione, paralelamente a isso, renda para comunidades locais e conservação das áreas protegidas.

O instituto, entretanto, não anunciou se haverá uma espécie de passaporte, semelhante às usadas no Caminho de Santiago, na Espanha, ou Caminho da Fé, no Brasil. Nesta credencial, os locais vão carimbando espaços reservados a isso, para servir de souvenir e comprovante da realização da trilha. No Caminho de Santiago, há um diploma, chamado de Compostela, que é presenteado ao peregrino que realizar pelo menos 100 km caminhando, ou 200 km pedalando, ao final. A credencial serve de comprovante.

Foto: Tiago Palito

Atualmente na América do Sul existe apenas uma trilha com tamanha magnitude como a que o Movimento Boranda pretende implementar: Greater Patagonian Trail. A trilha foi proposta de ser estabelecida como um caminho conhecido por Jan Dudeck no final de 2013.

Nos EUA existe a Pacific Crest Trail (PCT), que ficou conhecida do público brasileiro após o filme “Livre”(Wild, 2014). A trilha PCT possui em sua totalidade 4.260 km e na média os praticantes de trekking que se dispõem a percorrê-la levam até 5 meses (se realizada de uma vez só). Recentemente o Canada estabeleceu a maior trilha do mundo com impressionantes 24.000 km batizada de Trans Canada Trail.

Levando em consideração que durante um trekking uma pessoa caminha em média 25 km o Caminho da Mata Atlântica levaria, pelo menos em teoria, algo como 120 dias para ser percorrido (desde que a pessoa não descansasse nenhum dia).

Legado das Águas

Foto: Marcelo Pontes

O Legado das Águas é a maior reserva privada de Mata Atlântica do país, com extensão aproximada à cidade de Curitiba-PR. A reserva é propriedade da Votorantim, maior produtor de cimento do Brasil. Localizada na região do Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo, a área foi adquirida a partir da década de 1940 e conservada desde então pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), pertencente à Votorantim S.A, manteve a floresta e biodiversidade local. A companhia possui sete usinas hidrelétricas no local.

No ano de 2012, o Legado das Águas foi transformado em um polo de pesquisas científicas, estudos acadêmicos e desenvolvimento de projetos de valorização da biodiversidade em parceria com o Governo do Estado de São Paulo.

Em 2012, foi assinado um compromisso com o Governo do Estado de São Paulo, formalizando, via Protocolo, uma área protegida de caráter privado com objetivo, dentre outros, de servir como área de compensação ambiental. Desde então, o Legado das Águas se estruturou para prover soluções ambientais completas para proprietários rurais, seja com a compensação de Reserva Legal, seja no reflorestamento de Reserva Legal e de Áreas de Preservação Permanente.

Hoje, o Legado das Águas é administrado pela empresa Reservas Votorantim, criada para estabelecer um novo modelo de área protegida privada, cujas atividades geram benefícios sociais, ambientais e econômicos de maneira sustentável.

Para mais detalhes sobre a visitação: http://legadodasaguas.com.br/

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